De lembranças e reminiscências

O progresso! Ah! o progresso… Sim, sei que ele é sempre bem-vindo, sobretudo no que nos traz de benefícios sob os vários aspectos que nos envolvem, a nós mortais peregrinos desta vida.

Mas é este mesmo progresso que insiste em tirar de nossas lembranças mais caras ambientes que nos foram e são ainda caros, embora nem sempre o consiga.

Em recente caminhada pelas ruas, avenidas e becos da Cajazeiras de tempos idos e vividos, fui me deparando  com visões, quase concretas, daquilo que ali vivenciei num passado não tão distante.

Deu-me uma saudade danada não ver mais aquele frondoso pé de “tamarina” (tamarindo), no início da rua que lhe dava nome – Rua da Tamarina – hoje uma próspera rua comercial, rebatizada de Cel. Guimarães. O progresso transformou as simples casas comerciais e bodegas de minha época – Zé Adegildes, Zé Capitão, Zecão, Chico Italiano, João Cordeiro, Justino Neco, Expedito e Primo Moreira, e muitos outros mais – em prósperos estabelecimentos… Até a Rádio Oeste (Zerinho e Arlan) ali se foi localizar. Não mais do que por acaso me lembrei de que por ali se iniciou a entrada do bando de Sabino Gomes, vindo das bandas da Rua da Matança, confluência da Rua de Santo Antônio com a Dr. Coelho, naqueles tristes e conhecidos episódios de 1926, reconstituídos pelo cajazeirense Ivan Bichara nas páginas do romance Carcará.

A Praça dos Carros, onde imperavam Guilherme e Chico Aprígio, defronte da vetusta Farmácia Cruz Vermelha, onde, tempos depois, somente se viam os antigos “jeeps de praça”, já não existe mais nos moldes dos anos 40/50. Modernizou-se, ou melhor, foi modernizada pela força do progresso.

Lembro-me até dos apenados, que nós os chamávamos simplesmente de “presos” e não de bandidos, e com eles era-nos permitido conversar, quando passávamos pelo oitão da Cadeia, onde hoje está localizada a Caixa Econômica, na Rua Cel. Peba. Nas grades que os “enjaulavam”, certamente não arquitetavam projetos de fugas como hoje acontece. E, mesmo quando a penitenciária foi transferida para a Rua Tenente Arsênio, onde hoje se situa o presídio feminino, apesar de sua simplicidade, não ocorriam esses mirabolantes “planos de fuga” coletivos.

Soldados!?… esses eram poucos, evidentemente, mas não precisavam ostentar esses aparatos modernos para serem respeitados.

Nem a alegria de haver assistido à “maiúscula” vitória do meu Atlético em cima do Treze (2 x 0, mas poderia ter sido muito mais), tirou-me as doces e saudosas lembranças de ver uma partida entre o Atlético e o Tabajara, não ali mesmo, no conforto do colosso das Capoeiras, o belo estádio Perpetão, mas, em pé, na poeira do Estádio Higino Pires Ferreira, nas tardes dominicais.  Mas, tudo isso é fruto do progresso, e o resto são lembranças e reminiscências…

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