Celebrando o centenário de nascimento da escritora e historiadora Rosilda Cartaxo

NIVALDO AMADOR DE SOUSA

Meus conterrâneos são-joanenses e paraibanos, leio, no livro de Registro Civil de Nascimento, o assento de nº 779, nos termos seguintes:

“Aos 27 dias do mês de outubro de 1931, nesta Vila de São João do Rio do Peixe, estado da Paraíba em meu Cartório compareceu José Gonçalves Dantas que declarou a mim, em presença das testemunhas abaixo assinadas que sua mulher Maria Cartaxo Dantas deu a luz a uma sua filha de Nome Rosilda Cartaxo, no dia 31 de julho de 1921, na casa de sua residência nesta Vila sendo avós paternos Domingos Gonçalves Dantas, falecido, e Maria Zacarias Sobral, avós maternos Emídio Emiliano do Couto Cartaxo e Rosa Valentina Cartaxo, falecidos, do que fiz este termo, em face do Decreto nº 19710 de 18 de fevereiro de 1931, que assina o declarante e testemunhas. Eu, Antônio Gomes Barbosa, oficial do Registro Civil, Escrevi. José Gonçalves Dantas, Alfredo Lopes Sobrinho e Alfredo José de Brito”.

Eu, sempre guardo as primeiras referências, quando criança, quando via muitas vezes Rosilda Cartaxo chegar ao sitio Araçás, na casa de meu avô, buscando dados e informativos, da oralidade autodidata de Antônio Amador, para a garimpagem de seu livro e outros apontamentos.

Também, minha mãe, professora D. Peixe, falava muito da atenciosa e amiga, Inspetora e Professora Rosilda Cartaxo, quando visitava a Escola Rural Mista e Rudimentar de Araçás.

Quantas referencias, tenho da amiga, de saudosa memória, Rosilda Cartaxo!

Relatar a história biografando Rosilda, seria resgatar a memória da educação, da cultura e da história de dois amores: São João do Rio do Peixe e Cajazeiras. São João e Cajazeiras, que sempre com suas casas de mãos dadas, têm o orgulho desta ilustre mulher.

Prefiro conversar e falar da mulher irreverente que revolucionou o sertão na importância transformadora como educadora, seguindo uma trajetória vitoriosa em favor do engrandecimento sociocultural, onde galgou invejáveis postos, chegando a presidência do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba – IHGP.

Então, neste momento histórico – Hoje – 28, é motivo de alegria extrema, em nome da Comunidade de São João do Rio do Peixe, homenagear esta grande mulher, na celebração centenária de seu nascimento.

Rosilda, iniciou sua profissão no magistério como professora, depois como Diretora do grupo Escolar Joaquim Távora, de São João. Na capital João Pessoa passou a lecionar no Grupo Escolar “José Américo de Almeida”. Jovem impulsiva, participou de movimentos, sendo uma das lutadoras pela emancipação da mulher. Vinculou-se a várias instituições, quando também prestou colaboração a legião Brasileira de Assistência – LBA, atuou como relações públicas na UFPB, acompanhando o Coral Universitário viajando por vários países. Teve atuação especial junto a Campanha de Educação Popular – CEPLAR, enfrentando a velha Ditadura, visto a CEPLAR adotava métodos de ensino de Paulo Freire, que visava a conscientização popular em favor dos movimentos de Educação de Base.

Durante suas atividades intelectuais, em 1975, ingressou no Instituto Cultural – Instituto Histórico e Geográfico Paraibano – IHPGP, onde foi Secretária, Relações Públicas e membro de comissões. Em 1983 Rosilda tomou posse, como Presidente, se destacando e resgatando a preservação de documentos históricos e homenageando as memórias da historiografia paraibana. 

O município de São João do Rio do Peixe deve ser grato com a sua bravura.

Ainda ressoa em meus ouvidos, quando em tempos de universitário, havia fundado, juntamente com os estudantes universitários de minha terra, a AUAN e como 1º presidente, tive a honra de, na Programação da 1ª Semana Universitária, de 6 a 13 de outubro de 1979 – ter a escritora Rosilda Cartaxo como ministrante do Curso “Origem e História de Antenor Navarro”, durante 2 dias. Lembro-me como se fosse hoje, dias 6 e 7, a partir das 13 horas no Centro de Educação de Antenor Navarro – Ali estava Rosilda, de postura elegante e entusiasmada, falando da origem e história de nossa querida terra, que ela tanto quis vê-la triunfante. Quantas cartas, fotografias e registros históricos tenho de Rosilda em meu acervo, clamando por melhores dias para a história e cultura de São João.

Sempre foi um encanto, ouvir Rosilda falando, nos momentos cívicos e comemorativos, nas palestras históricas e culturais, nas passagens e cenas da PAIXÃO DE CRISTO da Semana Santa, onde, fomos personagens marcantes – e todo cenário ao ar livre, era prestigiado, do patamar da igreja Matriz e em toda orla da Praça da Coluna da Hora.

A escritora Rosilda Cartaxo foi quem serviu de esteio, ao abrir a porta para sabermos sobre a história de São João.

Não haveria história resgatada, exaltada e eternizada, se não fosse essa timoneira e incansável “mulher do oeste”, com o livro de cabeceira dos São-joanenses, “ESTRADA DAS BOIADAS” e Barra do Juá, em 1975.

Foi ao ler “Estrada das Boiadas” que fui me encorajado, para ler “Grande Pombal” de Antônio José de Sousa, “Os Caminhos Geopolíticos da Ribeira do Rio do Peixe” (1964), de Otacílio Cartaxo, “Os Pordeus do Rio do Peixe” (1972), de Wilson Seixas, e também “História da Casa da Torre”, de Pedro Calmon.

Você, Rosilda Cartaxo, norteou meus passos e os passos de tantos outros, para ler e buscar conhecimentos da história e genealogia de nossa terra.

Em 15 de setembro do ano de 2003, quando do Encontro dos Filhos Ilustres de São João, tive a iniciativa, quando então Vereador, de apresentar Projeto de Lei denominando a Biblioteca Pública Municipal de “Rosilda Cartaxo”, que ainda hoje prevalece.

O Centro Cultural Rosilda Cartaxo, que foi extinto pelos que dão prioridade ao corporativismo político-partidário, está no meio da rua, no meio do povo que vive os pontos de cultura e de arte, espalhados em todo território, espalhados -, porém coesos -, com os mesmos ideais da grande Rosilda, transmitidos e ensinados, no Teatro, na música, no artesanato, na cultura popular e na arte em geral.

Afinal, foi essa pujante, desbravadora, esmerada e saudosa mulher, Historiadora Rosilda Cartaxo, quem deu impulso a nós, São-joanenses a, além de amarmos mais, também resgatarmos e continuarmos contando a monumental história de São João do Rio do Peixe.

São João do Rio do Peixe, continua costurando na alma esse amor telúrico, colhendo do teu fruto e semeando o teu porvir que mesmo encarcerado irá dizer: “Amor é oferta permanente e renúncia de todos os dias. É mais, porque é dádiva e humildade”

A sua história, Rosilda Cartaxo, será sempre celebrada pela grande contribuição que deu aos filhos do sertão. Somos gratos, pelo seu gesto, de expressão singular, que marcou com o ferro da nossa Ribeira os flancos da Paraíba.

NIVALDO AMADOR DE SOUSA É PESQUISADOR, POETA E ESCRITOR

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