Cajazeiras, suas lendas e algumas mentiras

Minha genitora (vulgo, mãe), D. Ica, era tudo menos uma pessoa normal. E sendo quem era, sempre tem que ser tratada como ela fazia, no superlativo, nunca foi uma yes woman, conhecia como até eu conheço (pouco) das artes pictóricas, sendo muito mais, ela era neta de um dos maiores pintores que já aportaram nesse país de terceiro mundo, Modesto Brocos, professor da Academia Nacional de Belas-Artes, esse meu bisavô famoso tem dois quadros em exposição permanente na sede desta academia, assim como outros do quilate de Pedro Américo e Victor Meireles. Seu pai foi o primeiro engenheiro civil a morar em Cajazeiras, tem um monte de obras importantes que depois eu vou escrever sobre isso, mas somente os cálculos da Catedral  e sua torre, já dá uma amostra grátis de sua obra. Seu avô, Cel. Matos era o cidadão que foi o mais opulento de nossa história; quando foi atropelado no Rio de janeiro, tinha ido para receber uma patente para fundar um banco por aqui.

O maior defeito de minha mãe, que ela passou para mim, foi gostar dessa Cajazeiras, e pior, querer morar aqui.

Assim, e como ela sempre foi, não tinha qualquer problema em usar calça comprida, na época era um escândalo tão escandaloso, que era tema de sermões na nossa catedral, em que o bispo condenava essa ideia de mulher usar roupa masculina, fumar e beber em público e outras coisas, corriqueiras nos dias de hoje  eram impactantes naquela época.

Isso posto, ela foi escolhida na década de 60, para integrar uma comissão (acho) encarregada de avaliar um  quadro pintado por W. Solha (que hoje está em exposição na Biblioteca Municipal). Sobre pintura, assim como sobre teatro, ela estava muitos pontos acima da mediocridade que por aqui vivia e até hoje vive, e como até eu, vivemos rodeados por pinturas compostas por um acadêmico de alta qualidade como o Prof. Brocos. Dar uma idéia, leitor eram mais de 100 quadros dele no apartamento de minha avó, sua nora, no Rio de janeiro.

Assim, ao ver a tela, meio primitiva, ou se havia alguma técnica, era muito inferior a que ela estava acostumada a ver (eu mesmo disponho de 12 quadros de Prof. Brocos aqui em casa), se eu participasse de uma comissão como essa, eu diria que era “uma merda”, ela achou, além da má técnica, discrepâncias com a nossa história e origens, conforme consta no livro “Guerra ao Fanatismo” de Frassales: “Cajazeiras está verde, e aqui é seco, mãe Aninha está bonita (no sentido de “formosa”, um sinônimo que podia ser mais adequado), e ela era feia, e Vital Rolim era preguiçoso, e está trabalhando”, como foi publicado por Solha noutra entrevista. Agora Mãe Aninha de feia foi para horrorosa, e principalmente Vital de preguiçoso para virar vagabundo, aí corre um oceano, que necessita de reparações.

Primeiro porque as famílias fundadoras de nossa cidade, nunca foram famosas por sua beleza, como por exemplo, as piranhenses, e no caso dos homens; trabalhar, pegar no pesado, naquele tempo, principalmente para um dono de escravos, era uma atividade aviltante, como é com mais sutileza, até hoje. O Senhor ficava deitado numa rede dando ordens; daí, para botar nossos ancestrais (meu e dela), na cesta de vagabundo, como por exemplo um Wellingon “o Dez centavos” vai uma distância, e grande.

Tudo isso explicado, resta saber o porquê de Gutemberg Cardoso, que sendo citada minha mãe, e ele ter 100% de acesso a mim por conta de uma amizade de mais de duas décadas, não ter me ligado e evitado tida essa confusão. Mas como jornalista, o que ele quer é manchete, confusão. Se W. Solha está esquecido do termo, pode estar com Alzheimer, ou se mudou “intencionalmente”, suas declarações.

Sintomaticamente essa matéria é publicada às vésperas da Reinauguração do Teatro que tem o nome de Ica. Sataniza-la para trocar o nome dela, seria algo compreensível, pode haver alguma intenção sinistra por trás desse comentário gratuito, exagerado ou até mentiroso, nesse tempo, me faz desconfiar de outras intenções.

Aí vamos ver quem poderia receber substituir Ica, tanto no meio teatral, como em outras áreas, por aqui não vejo ninguém, talvez um Ariano Suassuna, que minha mãe quando viva, queria fazer um teatro, botar o nome de seu amigo Ariano – ele achava que o “Auto da Compadecida” deveria ser levado pelos nordestinos do interior, soube da montagem de Ica e se inclusive elogiou a iniciativa de seus conterrâneos do interior. Quando o conheci e falei de quem eu era filho, ele falou que não só conhecia, como admirava o a obra de Ica.

Vou relatar uma coisa que vai de encontro ao publicado. Quando li seu livro, e não haviam críticas a nossa família, ela me respondeu: Pepé, se você não der valor aos seus quem vai dar? Quando era Governador da Paraíba, João Agripino, a gente morava no Rio de janeiro e ele sempre que ia lá, chamava minha mãe para tomar chope no centro da cidade, depois se hospedava em nossa casa. Mas quando Ivan Bichara era candidato a Senador e João era contra, ela fez um boletim fazendo severas críticas ao seu amigo, e escreveu “quem é o senhor para querer cantar de galo aqui no terreiro de Mãe Aninha?”, o seu principal interesse era defender nossa terra e seus filhos, até as amizades ficavam em segundo plano.

Por essas e outras, não acho que minha mãe tivesse qualquer intenção de desmerecer sua (e minha) ancestral, tanto ela quanto Vital Rolim, nossos fundadores.

Os cães ladram e a caravana passa…

O que me entristece é que tal matéria tenha a chancela de Gutemberg, logo ele, que juntamente com Nonato Guedes, ela  retirou de postos subalternos e “deu” o microfone da rádio para deslanchar suas carreiras. Pode ser a criatura tentando destruir o criador…

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