Adalberto Nogueira Pessoa, nosso concidadão

Impressionante. Sempre que eu escrevo sobre algum amigo(a) querido(a) se vai, parece que outros como que aproveitam a “oportunidade”, nos deixam, e eu tenho a obrigação de escrever e destacar a sua passagem entre nós e detalhar minha relação com esses chegados.

Essa semana perdi, e todos perdemos, uma das mais importantes figuras que por aqui passaram, um cearense que escolheu viver entre nós, se tornar cajazeirense e inclusive, apesar de sua família ser do Ceará, mais precisamente de Lima Campos, próximo a Icó, onde tinha inclusive propriedades lá, ficou aqui a ponto de deixar seus restos mortais remanescer entre nós. Foi enterrado aqui.

Adalberto era um tipo de gente cada vez é mais raro de ser encontrado e cada vez vai ser mais, nessa nossa sociedade do imediatismo e do consumismo desenfreado, que tudo o mais, saber, cultura, leitura, ficam sendo deixados de lado, ou mesmo relegados ao desprezo pelas novas novidades eletrônicas, poucos apreciam por exemplo o prazer de uma boa leitura, e ficam horas plugadas nos “zap zap” da vida…

Era uma das poucas pessoas (talvez a única), por aqui, que tinha um vasto cabedal de saber, digamos, clássico: Sabia recitar Canto Gregoriano, inclusive algumas Ladainhas (aqueles longuíssimos cantos de louvor da Igreja Católica) por completo, e era especialista num dos nossos poetas maiores, Castro Alves. Ele recitava por exemplo, o poema “Vozes d’África” de cor, e era um dos detalhes mais insignificantes do enorme baú cultural, que infelizmente nos deixou.

Eu que muitas vezes o visitava, e passava muito bons momentos no seu “Sitio”, arrodeados de uma extraordinária profusão de tons de verde (plantas), discutindo amigavelmente e procurando soluções para todos os problemas, tanto nacionais, locais e muitos outros. Às vezes, quando eu olhava já passavam das dez da noite, e ainda tínhamos bastante assunto para toda a noite e mais. Adalberto era uma pessoa que quando aconteceu a primeira crise na sua saúde, eu após nos reencontrarmos, afirmei: “Adalberto, não morra, pois vai ser difícil encontrar outra pessoa de seu nível para conversar”, ele riu. Uma das nossas maiores oportunidades que perdemos como comunidade, foi dar pouca atenção ao que Adalberto dizia, principalmente onde menos ele era escutado: o planejamento a longo prazo de nossa cidade e região.

Infelizmente o que mais fazia a fama de Adalberto na nossa comunidade ignorante, eram suas predições de longo prazo, sobre a meteorologia, o que nem toda a nossa experiência ancestral, nem estudos mais avançados, conseguem acertar. Entre outras coisas, por conta de nosso Astro Rei, o sol, ser uma enorme usina nuclear descontrolada, e que seu dinamismo até hoje nunca foi (e nem num futuro próximo vai ser), predito com exatidão, e a meteorologia sempre teima em prever, e essas predições serem frustradas. Mas o que Adalberto estudava, e muito, eram os estudos sobre clima, e esses estudos nem aqui, nem em lugar nenhum do mundo acertaram no longo prazo. Mas isso não diminui nada na trajetória de Adalberto e, principalmente (e pouco ouvido) na análise conjuntural de nossa região, sempre estava à frente de nosso tempo, e a apontar falhas com uma precisão quase exata.

Vou tecer coisas mínimas. Quando da completa falência de nossa extensão rural, Adalberto, que era (chegou aqui) do Projeto Sertanejo, que foi abandonado pelo(s) governo(s), teve o tirocínio de formar seu viveiro particular de plantas e se destacar, nessa sua área deixada de mão, e fornecia plantas para toda a região. Era um jardineiro formidável, e toda a região ia até ele para se informar e adquirir suas mudas de plantas. Se tornou o referencial nesse assunto, e dificilmente haverá de surgir um sucessor.

Outra vez, ele me falou que desenvolvia um projeto particular de reimplantar a fauna nativa, que em grande parte foi comida pelos caçadores – predadores, ele conseguiu criar cotias, e quando chegou à terceira geração, já para serem reintroduzidas (soltas) na natureza, o IBAMA apareceu multou e confiscou de Adalberto seus espécimes, Mais uma vez a ignor6ancia ganhou…

É, leitor, mais uma perda de vulto para nossa região. Esse vai ser difícil de repor. Fiz questão de vê-lo sendo enterrado em nosso cemitério Coração de Maria, na sua amada terra de adoção, Cajazeiras…

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