A última dose de Keith Richards

Geralmente sou dos últimos a saber das novidades digitais por que sou muito lerdo com redes sociais, principalmente o WhatsApp. Tenho uma displicência enorme em abrir mensagens tanto de grupos quanto individuais. Quando fico absorto na leitura de um livro, adeus!

Bem, mas o que eu queria falar mesmo é que recebi um postzap de um amigo dizendo que o dinossauro do Rolling Stone, Keith Richards, parou de beber. Lógico que não foi suco e nem água perrier. Foi bebida alcoólica. Evidencia-se que a mardita está aposentada para ele, mas o conjunto musical Stone, pelo visto, não recorrerá ao INSS da Inglaterra nem em outra reencardenação, para o bem do rock tradicional.

Solidarizamos com o Richards, eu e meu amigo, e prometemos honrar sua imagem bebendo doses duplas em sua homenagem. Eu na cerveja, ele no vinho. E se tivermos ouvindo Satisfaction vamos investir num triplo carpado.

Parar de beber aos setenta e seis anos de idade, caso do Richards, é prova de que seu fígado está mais pedrado do que seus dedos de tanto escorregar em acordes delirantes de sua guitarra ao longo de turnês mundo afora e a dentro de tonéis.

Quantos amigos e parentes nossos pararam ou moderaram o prazer da celebração do cálice de vinho consagrado porque o fígado esteve distante da resistência do de Richards. Quantas e quantas vezes ficamos tentados a parar de beber por causa de uma ressaca braba, de uma dor de cabeça provocada por calibragem de doses a mais. Passado o assombro, o sonho de todos nós é vislumbrar a sexta-feira para comemorarmos a vida, seja ela ao pé de um balcão de boteco ou à mesa dos melhores vinhos em restaurantes refinados.

O que faz embevecer a alma do bêbado, do esponja, do beberrão, do pinguço, do ébrio, do cachaceiro, do aguardenteiro, do odre, do estilista, resume-se na frase do escritor francês Victor Hugo, que deve ter dito a seguinte frase depois de umas boas doses de vinhos: “comer é uma necessidade do estômago; beber é uma necessidade da alma”.

E Keith Richards, com seu estilo de vida e de beber, soube ter essa necessidade da alma porque tinha a intensidade da arte da música como complemento. Até vejo sua inseparável bandana na testa como um outdoor anunciando: parei de beber, mas elogio os que continuam.

Portanto, espero que, passada a pandemia da covid, os Rolling Stones façam uma turnê internacional em homenagem a Richards com o seguinte título: Parei de beber: prossigam por mim.

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