A política civilizada

Lamentavelmente temos visto que no Brasil contemporâneo, muita gente ainda não consegue compreender que a política deve ser uma manifestação de comportamento obedecendo regras de civilidade. O ambiente de polarização, acentuado nos anos recentes, tem dificultado uma convivência harmoniosa entre diferentes instâncias governamentais. Impossível pensar no fortalecimento dos princípios democráticos quando adversários se tornam inimigos, fomentando discórdia e desavenças recíprocas.

Na semana passada tivemos uma demonstração de que, enfim, a prática da civilidade política volta a ser considerada como atividade republicana promotora de cidadania e civismo. Na oportunidade em que o Presidente da República e o Governador do estado de São Paulo, anunciavam parceria administrativa para execução da obra submersa Porto de Santos-Guarujá, os dois homens públicos esqueceram suas diferenças partidárias e ideológicas para, juntos trabalharem em favor da coletividade, capacitados para estabelecerem um relacionamento de respeito mútuo.

Eu diria até que foi um momento histórico, em razão do que estávamos testemunhando em tempos recentes. Passamos a ter esperança de que começam a ser restabelecidos os paradigmas da política que se afastam do confrontamento direto entre eventuais adversários. A conduta, então observada, opera em favor da construção de uma ordem social digna de ser vivida. Lula e Tarcísio de Freitas mostraram o quanto compreendem a dimensão cultural da civilidade no campo da política para atendimento dos interesses republicanos, suscitando novos termos à questão da responsabilidade na administração pública.

A pauta civilizatória ali registrada aponta para um retorno do país à normalidade, com os agentes políticos respeitando o direito às diferenças. Lados opostos firmando compromissos comuns em favor da sociedade, ainda que egressos de palanques eleitorais distintos. Afinal, têm consciência de que, eleitos, não podem governar considerando adversários como inimigos.

O governador João Azevedo tem adotado semelhante postura, tratando, de forma igual, todos os prefeitos, independente da filiação partidária ou dos seus vínculos políticos a nível estadual, no entendimento de que as reivindicações por eles apresentadas têm legitimidade porque refletem as demandas das comunidades que governam, valorizando, prioritariamente, o bem comum republicano.

Em janeiro deste ano, numa entrevista à revista Veja, Cristóvam Buarque falou uma grande verdade: “A defesa da democracia requer também unidade nacional para construir uma nação com eficiência, justiça, cultura, harmonia e integração no mundo: uma democracia civilizada”. Lula e Tarcísio de Freitas nos animam a acreditar que é possível pensar na reconstrução nacional, a partir de entendimentos civilizados pelos que se dedicam ao exercício da política. Quanto mais republicanos forem os governantes, mais democrático será o poder que exercem.

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