A natureza agoniza

Para os descrentes as previsões e recomendações eram creditadas sempre na cota dos alarmismos e das visões apocalípticas de quem sempre se movia pelo sentimento do derrotismo e do pessimismo. A crença em uma natureza inesgotável e submissa alimentava a concepção de desenvolvimento baseado na ciência e na tecnologia que, sem qualquer ônus, poderia se apropriar dos recursos naturais e destruir o meio ambiente, considerado sempre como renovável e infinito.

A consideração de que esse modelo era degradador e pernicioso era refutada como atraso. E a natureza, paulatinamente, ia acumulando seus débitos que, na atualidade, começam a ser creditados na cota de todos os países do planeta que assistem ao aumento exagerado de suas áreas de desertificação, ao crescimento das catástrofes naturais como enchentes, secas, furacões, tempestades avassaladoras. Uma realidade que gera uma nova configuração de sujeitos sociais e políticos: os desabrigados do clima. Pessoas que migram a ermo fugindo da precarização de suas condições de vida, ou mesmo, que partem em busca de novos territórios, ante o desaparecimento de suas localidades face ao avanço do mar que aumenta de volume em decorrência do desgelo de áreas como a região Ártica.

Uma realidade que também vem afetando o nosso Semiárido Brasileiro, onde a ocorrência de estiagens está se tornando cada vez mais intensa, mais frequente e com consequência humana e ambiental irrecuperável. A caatinga, sempre vista como o menos expressivo dos biomas brasileiros e, por isso mesmo, o mais devastado e deteriorado em sua fragilidade e exuberância, continua desaparecendo ante a voracidade com que a destruição de sua vegetação aniquila animais e plantas, intensifica o processo de desertificação e reduz, cada vez mais, as possibilidades de vida neste espaço.

São apenas lembranças o canto melancólico da mãe da lua que, nas noites de lua cheia, preenchia os sons de minha infância. São flagrantes esquecidos na memória o revoo dos bandos de canários da terra que, nas batas de arroz, amarelavam os baixios de Impueiras. Reside apenas em reminiscências o sonoro canto dos sofréus ou concris com sua plumagem colorida e porte aristocrático enfeitando a paisagem cinzenta da caatinga em suas tardes de verão. Todos desapareceram de nossa paisagem, tangidos pela devastação de nossas matas e pelo uso indevido de agrotóxicos, pesticidas e herbicidas que mata besouros, gramíneas e arbustos nativos e tenta construir um arremedo de pastagem para o rebanho bovino, inadequadamente introduzido numa região que, tradicionalmente tinha como animal de maior porte o veado campeiro.

As perspectivas outrora apocalípticas se confirmam. E o futuro da região espera por política públicas, atitudes políticas e ações sociais que somadas se unifiquem como possibilidade de preservar o que ainda resiste e frear ou, pelo menos, retardar, o inexorável desfecho de um fim estéril e inanimado.

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