A caminho da Papuda

Vamos refrescar a memória. Em 2005, o deputado Severino Cavalcanti (PP/PE) derrotou Luiz Eduardo Greenhalgh (PT/SP), candidato de Lula à presidência da Câmara Federal. Na ocasião, ele encarnou a rebeldia do baixo clero, apelido pejorativo dado aos parlamentares que ficam longe dos holofotes e das benesses do poder. Empolgado com a vitória, Severino Cavalcanti exigiu da então ministra Dilma Rousseff uma diretoria da Petrobras para um apadrinhado. E não era uma diretoria qualquer. Com forte sotaque pernambucano, engrossou a voz:

“O que o presidente Lula me ofereceu foi aquela que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero”.

O simplório Severino Cavalcanti – ligado a antigos senhores de engenho, grupo social decadente -, ficou famoso por volta de 1980, quando era deputado estadual e se fez intérprete de movimento visando expulsar do Brasil o padre italiano, Victor Miracapillo, pároco de Ribeirão, apoiador dos movimentos comunitários na Zona da Mata. Antes disso, Biu fora prefeito do inexpressivo município de João Alfredo.

À margem dos conchavos de cúpula da política brasileira, como presidente da Câmara ele ouvira o galo cantar: a Petrobras estava sendo preparada para tornar-se importante fonte de distribuição de propinas entre partidos da base governista. Para ele a “fura poço” era a diretoria adequada a seu novo status de terceira autoridade na escala do poder republicano. Caiu do cavalo. Seu pupilo não emplacou. O escolhido foi Paulo Roberto Costa, nomeado diretor da Petrobras como representante do PP no, hoje se sabe, escrachado esquema de corrupção. Assim nasceu o petrolão. Dez anos depois, Paulo Roberto é preso e se torna o primeiro delator premiado da Lava-Jato, aproveitando a faculdade aberta pela lei 12.850/13. Aliás, lei assinada pela presidente Dilma Rousseff.

Severino Cavalcanti revelou-se primário.

Impôs e recebeu mesada de 10 mil reais do dono do restaurante da Câmara. O coitado quase vai à falência! Ameaçado por um crime de porta de açougue, Severino renunciou ao mandato de deputado, evitando a cassação, para tentar reeleger-se em 2006. Mas foi reprovado nas urnas. Decepcionado, o velho Biu encontrou abrigo em sua terra, João Alfredo, elegendo-se prefeito em 2008. Hoje com 85 anos, ainda pensa retornar a Brasília…

E o deputado Eduardo Cunha?

Esse é esperto. Quando se fez presidente da Câmara Federal, vencendo, com o apoio do baixo clero, candidatos do governo e da oposição, Cunha não apenas ouvira o galo cantar, como o ingênuo Biu, mas até já recolhera ovos em contas secretas de bancos suíços! Ovos da galinha de ouro em que o governo do PT transformou a Petrobras, histórico símbolo da independência econômica do Brasil, criada em 1953 por Getúlio Vargas em afronta aos trustes internacionais. A revelação do segredo de Eduardo Cunha não é invenção da mídia ou de inimigos. Tem a chancela oficial do Ministério Público da Suíça. Isso lhe escancara a hipocrisia e fere de morte sua arrogante presença na cena política brasileira.

Terceiro na fila sucessória da presidência da República, agora ele come o pão que o diabo amassou. Encurralado pelo Ministério Público Federal, sente crescer a cada dia o clamor contra sua permanência no cargo conquistado pelo voto dos iguais. Mesmo assim, repete diariamente: não renuncio. Renúncia é ato de vontade pessoal, bem sei, mas é capaz de Cunha ser forçado a adotar o caminho de Severino Cavalcanti, com uma diferença brutal: Biu refugiou-se em sua terra e Eduardo Cunha pode ir repousar no Presídio da Papuda.

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