Miséria exposta nas ruas

Mês passado estive no Rio de Janeiro, levado por solidariedade familiar. Minha esposa perdeu alguns parentes, pelos lados paterno e materno. Outros continuam a merecer cuidados. A viagem teve o objetivo de ficar junto das pessoas. Aproveitamos, também, para rever ou conhecer parentes meus, por exemplo, Nestor Rolim e o filho mais novo de Ivan, Paulo Bichara. Reencontrei, claro, o confrade da ACAL, Guilherme Sargentelli.

Uma coisa me chocou no Rio: a quantidade de moradores de rua. Em Copacabana, fazia dó observar famílias inteiras, humanos e bichos em grupo ou isolados nas largas calçadas do bairro famoso. Em dezenas de quarteirões encontrei as mesmas cenas. Variavam apenas os personagens. Às vezes, era uma mãe com o filho escanchado no peito, a sugar o leite da vida. Vi gente solidária a distribuir, quentinha, pão, água, refrigerante.

Isso só acontece em Copacabana? Não, não, me diziam, Botafogo, Flamengo, Glória, Catete, no centro do Rio. Em Ipanema, eu pude conferir, havia poucos moradores no quase relento do abrigo de marquises, sobre papelão, cobertos de retalhos de panos.

Essa situação é nova aqui no Rio? Vem de longe, mas com a pandemia piorou muito. Tal observação era unânime entre taxistas, motoristas de UBER, gente amiga ou não. A maioria das pessoas abordadas dava a mesma explicação: falta de trabalho, agravado pela pandemia. Ora, a milícia não perdoa, doutor, sem ter condições de pagar… rua. As largas calçadas de bairros, outrora cantados em versa e prosa, agora, vivem esse flagelado. Lembrei-me da infância, em Cajazeiras. Morador de rua é igual a retirante da seca: não assalta. Estende a mão.

O quadro, que me chocou no Rio, é lamentável, mas está longe de ser peculiaridade da cidade maravilhosa. Figura em todas as partes. São Paulo não fica atrás. E a televisão escancara a miséria exposta nas ruas.           

Por que tanta miséria?

A natureza de nosso sistema, que embute as desigualdades sociais como a mais perversa consequência. Em tempo de bonança desenvolvimentista a crueza dramática ainda se disfarça. Chega a esconder-se em pequenas fatias de renda, transferidas por mecanismos oficiais criados e mantidos por gestores públicos sensíveis à fome e à miséria dos desvalidos. Migalhas que dão a sensação de cidadania, apesar de frágeis. Mesmo assim, vistas com desdém por boa parcela da população. E pelos homens do poder, hoje, mais do nunca. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

O meu Atlético

Quinta-feira, 21 de julho, o meu Atlético Cajazeirense de Desportos completou 74 anos desde a sua fundação. Como…
CLIQUE E LEIA

Arte Mahikari

Falei no ato da meditação na crônica anterior, com base na oração do Pai Nosso. Combinei de falar…
Total
0
Share