A naturalização dos absurdos

Os acontecimentos recentes que envolvem o deputado Daniel Silveira, tem nos levado a observar, com tristeza e estupefação, que estamos vivenciando um tempo em que se verifica a naturalização dos absurdos. Passou a ser uma estratégia política, sob o aspecto da comunicação, tornar comuns atos de flagrante desrespeito à ética e de manifestações explícitas de violência no estabelecimento propositado de uma guerra institucional.

O caos se instalando, mas boa parte da sociedade brasileira ignorando tudo, como se estivéssemos navegando em mar de águas tranquilas. Percebe-se, lamentavelmente, que estamos perdendo a força da soberania popular, ao constatarmos que está sendo posta em prática a manipulação política do ódio, o que é bem uma característica do populismo da direita.

Já não nos surpreendemos tanto com os fatos que demonstram o quanto estamos inseridos numa situação de distopia. O Estado avança, de forma incrivelmente antidemocrática, colocando em plano secundário os interesses coletivos, através do controle ideológico ou coercitivo das ações políticas. Esse movimento de dominação executado como se fosse algo natural. Experimentamos um processo de descivilização, sem que isso cause espanto.

Desvios de comportamento de agentes políticos recebem aplausos de alguns, porque buscam passar a impressão de que se efetivam em nome de projetos coletivos, ainda que expondo um latente autoritarismo. Em qualquer democracia minimamente consolidada, os responsáveis por essas reiteradas afrontas à lei maior do país estariam prestando contas à justiça. Nessa toada de normalizar o que não pode ser visto como normal, evidencia-se o perigo de vermos nossa jovem democracia ser ferida de morte.

A estrutura do Estado vem sendo maleficamente destruída, as instituições desmoralizadas, os direitos sociais conquistados a duras penas ao longo da história sendo suprimidos, princípios e valores sendo desrespeitados acintosamente. Contudo, todas essas graves ações políticas recebem uma reação banalizadora por parte da sociedade brasileira, tornando-se cúmplice da normalização dos absurdos. O país se acostumando a conviver com a ausência de pensamento ou atitude crítica, num generalizado consentimento tácito com os absurdos praticados, adotando um padrão comportamental de sujeição e passividade.

Chegamos ao nível máximo dos absurdos. A erosão da democracia já está em curso, com aquiescência silenciosa de boa parte da população. Portanto, nem há necessidade de um golpe aos moldes do que aconteceu em 1964. Estimula-se a briga política, ao relativizarem as regras, princípios e procedimentos constitucionais, que contrariam a ordem democrática. O objetivo é desestabilizar a nação, promovendo a degradação democrática brasileira. Estamos sendo desafiados a reconstruir os critérios de decência que foram perdidos nos anos recentes.

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