A festa do Reencontro e a geração perdida

Fazia um tempão, mas compareci a última Festa do Reencontro, no dia 22 de agosto, no dia da cidade. Uma maravilha, ver de novo as pessoas com quem passei a infância e mais precisamente a juventude com eles, um autêntico retorno ao passado, se existisse uma máquina do tempo, poderia se fosse muito eficiente, ser assim, Recordações (com “R” maiúsculo); centenas de boas, e mesmo as nem tão boas, mas já de muito superadas.

Estava no Campestre, como quem esteve na véspera no Tênis Clube, com aquele pessoal que se vivenciou os anos 60, e principalmente no meu caso, os anos 70, que quem não estava vivo nesse tempo, perdeu, e muito. Era o tempo da tal repressão, ou os anos de chumbo da Ditadura Militar, mas que lá naquele período, existia uma vida que valia a pena ter vivido, e como valia. Existiam valores muito diferentes (e na minha opinião, bem melhores) dos de hoje, a música nem se compara, os Beatles, a Jovem Guarda no auge, e a MPB de extrema criatividade (inclusive na sutileza criativa de como “driblar a censura”), dão show nesses forrós eletrônicos de hoje, inclusive no quesito forró, que contava na época com Gonzagão bem vivo, Dominguinhos no auge e as contribuições de Gil, da Tropicália, Gal, Chico, etc. Mais para cá, tínhamos Alceu Valença, Fagner, Elba e Zé Ramalho. Era uma constelação de astros realmente cintilante, ao invés de Arghh… Cacimbinha e as muriçocas (que pica, pica, pica…), e outras nulidades do chamado forró eletrônico. Humberto Teixeira se vivesse, morreria, mas dessa vez de vergonha (E fui eu que criou… isso, será que podia descriar?), Se procurar bem, pode se achar alguma exceção, mais não é nada fácil, o barato, descartável e de gosto duvidoso (para ser bem simpático) impera e dá as cartas, sem dúvida nossos ouvidos eram muito mais bem tratados.

Agora, vamos a segunda parte do que me levou a compor (mal compor) essas linhas.: nossa geração era fantástica, muito bem formada, e éramos os sujeitos que deveriam ter comandado o projeto da nova (e grande) Cajazeiras, mas a gente pelo que se pode observar, nossa geração perdeu, pelo menos em termos de Cajazeiras, o bonde da História. Durante todo o tempo em que nossa geração (de origem, bem formada), esteve em seu auge, nossa cidade estagnou, e nunca chegou a marca do 50.000 habitantes por três décadas.

Diversas explicações podem justificar esse fenômeno. Vou citar pelo menos duas: A cidade, bem como toda a região sertaneja experimentou em circunstâncias muito mais desvantajosas (em certos casos, dramática) a estagnação econômica das décadas de 80 -90, o campo, diferentemente do Centro-Sul, que foi impulsionado pela agricultura/pecuária intensiva, conseguiu superar esse período de vacas magras, e despontou com o “agribiussiness”, formando o setor mais pujante de nossa economia, aqui, no sertão nordestino,somente na lavoura do algodão, desapareceram, segundo estudos, cerca de 2.000.000 de postos de trabalho.

Naturalmente nossos contemporâneos perceberam que em outras regiões haviam melhores oportunidades para aproveitar suas potencialidades, e foram em muitos casos, extremamente bem sucedidos, podemos apontar como paradigma desse fenômeno, o prefeito de nossa capital, Luciano Cartaxo; Pires de Sousa, e Cartaxo de cajazeiras, ainda casado com uma cajazeirense, que se seus pais não tivessem se estabelecido em João Pessoa, por aqui, não chegaria a tal posto de destaque em nosso estado.

Por aqui, os que conseguiram se estabelecer aqui, inclusive o locutor que vos fala, se deu mais por exceção, no meu caso, um primo conseguiu um trabalho mais interessante em Recife, e vim a substituí-lo, outro exemplo: Alexandre Costa (nosso Alex), veio para o escritório regional da Cidagro, Antonio Rangel, veio como engenheiro o IPEP, e Fátima, sua esposa, era professora da UFPB. Resumindo, éramos muito poucas andorinhas para fazer um verão…

O paradigma de nossa geração podemos apontar Vituriano, que, que superando suas limitações e armado com propósitos firmes e sobretudo uma capacidade de trabalho extraordinária (ou seja: um saco enooorme), deu uma nova dinâmica a política de seu professor-desafeto Epitácio, e galgou os maiores postos de nossa cidade e região. À gente poderia causar espécie esse tipo de política, mas temos reconhecer que funcionou, e muito bem, se trouxe algum progresso para nossa cidade, pode ser considerado duvidoso, mas foi alguém, que aproveitando o vácuo de quadros de nível por aqui, pôs mãos à obra e ocupou o espaço.

Agora se a gente (nossa geração), fosse mais conseqüente e organizada, poderíamos abreviar em mais de vinte anos o atraso em que se meteu nossa região, mas haviam alguns elementos desfavoráveis: primeiro o alcoolismo; não que a gente fosse o popular “pinguço”, mas a gente vinha (até hoje vem) para cá primeiro para encher a cara, e depois da ressaca, era que podíamos nos ocupar com outras atividades, se houvesse tempo antes de voltar para nossas vidas acadêmicas. Nas capitais, a gente (e eu até hoje) éramos iconoclastas e irresponsáveis.

Além de coisas pontuais, o maior projeto que nossa (minha) geração conseguiu emplacar, e nem tanto, foi o “Projeto Cajajá”, que quem foi o carregador de piano desse projeto, foi Beto Montenegro, que sem sua atuação jamais sairia do papel. Eu participei mais como espectador ou mais precisamente do lado sócio-etílico do projeto. Se todo mundo esquecesse por um tempo nessas comemorações s se dedicasse a coisas mais conseqüentes, poderíamos fazer algum marco que espelhasse a grande geração que fomos.

Quem realmente fez e o que fizeram a diferença em nossa cidade, está sendo a nova geração, que depois do começo do novo milênio, que veio uma Ana Goldfarb, da Faculdade Santa Maria, o pessoal da Fafic (pegou o Col. Diocesano fechando e o transformou em um centro educacional respeitado), todos tendo como chefe da edilidade Carlos Antônio (homem de estrela e sorte, exceto com o judiciário), e outros, que aproveitaram os novos ventos do governo Lula, e acrescentaram pelo menos 20.000 habitantes em nossa cidade, e criou-se uma nova classe média. Uma nova Cajazeiras.

Perdemos o bonde da história, e temos que nos contentar com as festas de reencontro. Um mero prêmio de consolação para uma geração com tão grande potencial. Lastimável.

C`est la vie…

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