O ano de 2022 marca os 100 anos da chegada do trem ao Sertão Paraibano

Se o ramal ferroviário que ligava a cidade de Cajazeiras a São João do Rio do Peixe, ainda estivesse em atividade, com o trem em movimento, circulando entre essas duas cidades, nesse mês de junho, talvez, fosse o momento de uma dessas duas cidades comemorar uma data especial. Os cem anos da chegada do primeiro trem ao Sertão da Paraíba, cuja cidade de São João do Rio do Peixe foi o marco e a porta de entrada do trem no sertão paraibano, vindo do vizinho estado do Ceará.

Para contar como foi no passado esse momento, um relatório de 1921, preparado pelo então Ministério da Aviação e Obras Públicas do Governo Federal, mostra um pouco desse instante e revela como aconteceu a história da construção do ramal principal que ligava os estados do Ceará e Paraíba. Diz assim o documento desse órgão federal: “A fim de facilitar a construção das grandes barragens localizadas nos Estados do Ceará e Parahyba do Norte, providenciou-se em junho de 1920, pela Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), sobre a ligação ferroviária destes Estados”.

E continua o relatório: “Fez-se então o reconhecimento para o traçado de uma linha entre Timbaúba, hoje Palhano (km. 474 da Estrada de Ferro de Baturité), e Pilões, e de um sub-ramal destinado ao transporte de materiais para a construção da grande barragem no boqueirão de Piranhas”.

Conforme especifica o relatório, fica claro que a linha não tinha como objetivo principal somente o transportes de passageiro (essa demanda foi uma consequência que veio depois), mas o carregamento de mantimentos e materiais para as construções de barragens no Sertão Paraibano, sob a responsabilidade da antiga Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS). Ou seja, a serviço da logística que possibilitou nessa época, a construção da barragem de Pilões e viabilizou a construção dos açudes de Boqueirão de Piranhas e São Gonçalo, na região de Sousa. 

E segue o relatório: “Em janeiro de 1921 já estava sendo executada a linha de Pilões em direção a Alagoinha, bem como o ramal de Cajazeiras a Pilões, conjuntamente com o trecho de Palhano a Alagoinha. O serviço de terraplanagem já está pronto até Souza e atacada a construção da linha em toda a extensão de Souza a Patos”.

Como se vê, a intenção da instalação dessas linhas férreas ia além de um objetivo, mas passava por outros interesses, tinha pretensões mais extensivas com intuito de trazer desenvolvimento para região sertaneja, especificamente nesse caso, o interior da Paraíba.

Em 1922, o ano iniciou-se com fortes chuvas no sertão, trazendo problemas, atrasando o cronograma de execução das obras de instalações dos trilhos. Porém mesmo com todas as dificuldades do tempo, da quadra invernosa que apresentou os primeiro meses do ano, no dia 01 de junho desse mesmo ano, os trilhos adentraram a zona urbana de São João do Rio do Peixe, chagando definitivamente a essa cidade, partindo em seguida em direção até Cajazeiras e em outro trecho, rumando à cidade de Sousa.

Com os cortes das verbas destinadas ao IFOCS no final desse mesmo ano, no dia 26 de dezembro de 1922, as obras do trecho que já estava bastante adiantado – que partia de Souza para Patos, foram entregues a Rede de Viação Cearense (RVC). Esse órgão assumiu a construção, só que a volumetria dos serviços foi mais lenta, motivado por questões financeiras. O ramal só chegou a Pombal em 1932. E a Patos, em 1944. Ou seja, vinte e dois anos após o ramal de ter chegado à cidade de São João do Rio do Peixe.

Especificamente a cidade de Cajazeiras, as datas podem revelar controvérsias. Conforme relatoria do Ministério da Aviação e Obras do governo federal, o trem operou entre os anos de 1926 e 1971. Porém houve tráfego a partir de 1923. Um espaço do tempo equivalente a quarenta e oito anos. Quanto à construção da estação de passageiros, fontes afirmam que a mesma foi construída em 1926. A circulação da máquina a vapor em solo cajazeirense, possibilitou e facilitou o transporte de passageiros. Ou seja, trazia ou levava pessoas para as cidades circunvizinhas a Cajazeiras, principalmente as cidades do Estado do Ceará.

Foi um fator importante para o desenvolvimento econômico da cidade, pois além de pessoas, o trem também trazia produtos comerciais para o abastecimento do comercio local e, em contra partida, embarcava produtos manufaturados e industrializados no nosso município, visto que no tempo em que circulou entre nós, o algodão ainda era a principal economia cajazeirense e no município havia várias indústrias de beneficiamento desse produto na sua área urbana.

O principal símbolo do trem que ficou em Cajazeiras, a velha Estação, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba (IPHAEP), em 2001, através do decreto de número 22.082/2001. Hoje isolada no espaço urbano, esquecida entre prédios e edificações, serve apenas como sede do Núcleo de Extensão Cultural NEC/UFCG.

COM INFORMAÇÕES DO BLOG CAJAZEIRAS DE AMOR

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