O Juiz, o barbeiro e o Seminário

Barbearias sempre foram pontos de encontro, de conversa. Naquela Cajazeiras dos anos 70 do século XX, os locais atraiam pessoas de todas as classes sociais, do vendedor ao padre, do balconista ao Juiz.

Uma delas, localizada no centro da cidade, tinha como freguês assíduo um renomado Juiz de Direito, cidadão respeitável, bem relacionado, de boa formação jurídica e humanista. Tinha estudado no Seminário, inclusive.

Naquela manhã abafada, o barbeiro estava com a língua mais solta que os outros dias: falava de tudo e de todos, sem dó. O magistrado chegou, como de costume, para raspar a barba e aparar o cabelo.

Solícito, o barbeiro começou o serviço. Salão cheiro, conversa vai, conversa vem, o assunto pendeu para religião. Falastrão, o barbeiro sapecou:

“Esse negócio de estudar em Seminário é muita fuleiragem: lá tem muito é viado!”, sem se dar conta que o respeitável Juiz havia sido aluno daquela instituição por muitos anos.

Um cidadão que estava próximo, percebeu quem era o cliente ilustre e tratou de cutucar, discretamente, o barbeiro, para que ele percebesse a mancada.

Sem perder a pose ou sequer tomar fôlego, o barbeiro emendou: “Agora tem gente que passa duzentos anos no Seminário, mas é homem todo!”

A batida de pino foi grande e a gargalhada do Juiz foi tão alta que trincou o espelho do salão. Ô Carrazêra boa!

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