Novidade explosiva

VALIOMAR ROLIM

Numa época em que a riqueza deixava de ser rural e migrava para as cidades, ele sentia o momento e matutava. Teria de fazer o “seu” Brasil, construir sua vida, marcar seu nome e garantir o futuro, seu e dos seus. Junto com os irmãos Matias e Waldemar, instalou uma loja em Cajazeiras: o Armazém São Paulo. Era o começo de tudo.

Já consolidados no comércio, Chico Rolim e os irmãos viram Cajazeiras inaugurar sua primeira estação de rádio que, guardadas as proporções, fez-se a Globo sertaneja. Todo o sertão da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, a partir daí, tinha um órgão comum de aproximação, um veículo que todos poderiam usar, uma trincheira comum na eterna luta por dias melhores, peleja comum de todos.

Como homem do seu tempo, Chico Rolim sentiu o valor do veículo e mostrou seu feeling, sua pegada. Comerciante inovador, não teve outra: criou a campanha publicitária mais agressiva, criativa, e eficiente que se teve notícia na época.

Numa negociação em São Paulo, comprou dois caminhões carregados de tecidos, tudo a preço abaixo de custo. Era mercadoria demais, coisa que o comércio da pequena Cajazeiras não tinha como desovar. Algo inusitado teria de ser feito.

Foram bons quinze dias em que a rádio não falou outra coisa. A cada meia hora ouvia-se uma voz grave, tenebrosa e assustadora, entonada pelo velho locutor Brigadeiro, a dizer que a bomba ia explodir, que todos se preparassem.

O noticiário internacional só falava da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba. A declaração do presidente Kennedy de que acabaria com a Rússia em minutos, orgulhava os de direita e incomodava os de esquerda. E a cidade não pôde deixar de ligar aquele anúncio repetido de explosão de bomba à realidade geopolítica mundial.

Para aumentar a apreensão, foram marcadas data e hora da grande acontecimento: um domingo, às dezessete horas.

Na véspera, os padres tiveram seu trabalho multiplicado: eram levas de fieis procurando a confissão, a remissão dos pecados. Beatos saiam às ruas alardeando o fim dos tempos, crentes faziam discursos na praça pública, as carpideiras se alegravam por ter o mercado do choro farto, o velho Hospital Regional não dava conta de tantos atendimentos a pessoas em pânico com o provável fim do mundo. Alguns até se aproveitaram para fazer grandes compras fiado.

Até hoje não se sabe se o sentimento coletivo foi de alívio ou de decepção: a bomba foi só uma grande liquidação de tecidos.

DO LIVRO ‘O CRONISTA DO BOATO – CAUSOS DE VALIOMAR ROLIM’

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share