LUIZ CARLOS ALBUQUERQUE
Seria festa para ficar na história. Na praça da prefeitura, desde cedo, juntava gente. O foguetório tinha sido encomendado a especialista. Cedinho, Manoel Estrela açulou o baio. Previa aglomerações e, a cavalo, se moveria mais fácil. Na entrada da cidade, numa bodega que era parada costumeira, apeou do animal, tomou uma bicada e ensaiou as primeiras conversas:
– O funcionário que ligou a chave mestra, em Sousa, estava com uma alpercata molhada, levou meio choque, bastou para ele ficar gago até hoje.
Parecia se exercitar, apurando-se para um momento especial. A conversa rolava, cada um contando um caso, acontecidos de outros lugares, a eletricidade atraindo, misteriosa e poderosa. A imaginação suprindo a ignorância, a fantasia contaminando a realidade. Um sarará, dos lados do distrito Patamuté, ajeitou o cigarro de palha num canto da boca e apoiou:
– Essa tal de eletricidade é pra arrombar. Quando chegou em Patos, na inauguração, vinha com tanta força que acendeu lâmpada queimada. E o governador, com uma distância de uns três metros da chave de força, ‘tava com um cigarro apagado nos dedos que ficou aceso. É potência. Quando vem, vem mesmo!
LUIZ CARLOS ALBUQUERQUE É PSIQUIATRA E ESCRITOR – DO LIVRO ‘NA FORÇA DA LUA’