Donato Pereira e a Drogaria dos Pobres

Quando em criança, eu via, curioso, aqueles nomes nas fachadas: Farmácia Cruz Vermelha. Drogaria dos Pobres, etc… e me perguntava: por que “farmácia”? por que “drogaria”? Não entendia que, por aquele tempo, as drogarias apenas negociavam, além de drogas (remédios), outros produtos, como sabonetes, cremes e produtos de toucador, enquanto as farmácias cuidavam de vender não apenas medicamentos, mas ofereciam serviços, hoje ditos de enfermagem: aplicação de injeções, curativos, aviamentos de remédios de manipulação, etc.

Hoje, já quase não existem mais drogarias, sendo que as farmácias oferecem as mesmas tarefas comerciais das antigas drogarias. E aí que surgiram as tais “farmácias de manipulação”.

Mas o de que eu quero lhes falar mesmo é da Drogaria dos Pobres, uma das pioneiras do ramo em Cajazeiras. Concebida e criada por Donato Pereira – Donaciano Pereira era o seu nome –, ele mesmo atendia os seus clientes, numa época em que não havia na cidade nenhum serviço de atendimento de urgência, aviando receitas, vendendo remédios e, muitas vezes, acordando de madrugada para atender quem o procurava apenas em busca de um Cibazol ou de uma Cibalena, para os casos de cefaleia, ou até em busca de um Elixir Paregórico para uma impertinente dor de barriga. Isto ele fazia bem, razão pela qual era muito querido por quem necessitava de sua sábia orientação.

Tudo isso sem contar com o fato de que admitia o “Caderno de Fiado”, cujos clientes, compreendendo a sua generosidade, nunca o enganavam, mesmo porque, quase sempre, estavam a necessitar de sua orientação, quando se tratava de pequenos problemas de saúde.

É verdade que as coisas eram mais fáceis para ele, uma vez que o local da drogaria (no térreo) sempre foi sua residência (no primeiro andar), mesmo local onde hoje os seus herdeiros mais novos mantêm uma loja de miudezas, ali na Av. Epifânio Sobreira. O fato de não escolher hora para atender aqueles que o procuravam fez dele um cidadão querido e respeitado por todos, clientes e não clientes.

Seu Donato, ainda criança/adolescente buscou emprego de balconista na Farmácia Cruz Vermelha, do Dr. Valdomiro Queiroz, onde adquiriu a experiência necessária para abrir o seu próprio estabelecimento. Casado, em primeiras núpcias, com Antonieta Pereira de Melo, formava com ela um casal harmonioso. Bastava que alguém os visse nos salões do 1º de Maio ou do Tênis Clube, embalados pelo som de um bolero: formavam um casal de exímios dançarinos, que chegavam a “parar o salão” para vê-los dançar. Nessa proeza, poucos acompanhavam o casal como, por exemplo, Chico Correia e Maria Augusta, e Zé Coelho que, viúvo que era, dançava com quem aparecesse… Também, pudera! Era o tempo dos boleros clássicos, como Palabras de Mujer, Orilla del Mar, este uma criação imortal de Bienvenido Granda, além de outros boleros famosos.

Ao lado do seu timbre comercial e farmacêutico, Donato tinha um sonho: de sua enorme prole, esperava um dia – quem sabe? – fazer de um filho um doutor/médico, como se chamava na época.

Do seu primeiro casamento, com Antonieta, nasceram Adelcídio, meu companheiro e amigo dos tempos de nossa “república de estudantes”, hoje médico anestesista, que juntou “a fome com a vontade de comer”: tornou-se médico por vocação e atendeu à expectativa do pai; depois, vieram os outros: João Bandeira de Melo, meu amigo e colega de Grupo Escolar (in memoriam); Jackson Pereira Bandeira, afamado goleiro do nosso querido Santos cajazeirense, e hoje Assessor Parlamentar junto à Assembleia Legislativa da Paraíba; Wilma Maria Pereira, nossa amiga,  residente em Brasília; Jansen Pereira Bandeira, ao que me foi informado, hoje consagrado empresário/lojista e figurinista em Niterói; Jancílio Pereira Bandeira (in memoriam), que deixou muitos amigos pelas ruas de Cajazeiras.

Do seu segundo casamento, com Maria Salete Rolim, Donato Braga nos deixou outros cajazeirenses: Donaciano Pereira (Donato Júnior), Janaína e Juliana Pereira. Ah! Seu Donato, quanto os cajazeirenses que o buscavam em suas necessidades medicamentosas ainda o respeitam, agradecem-lhe e sentem a sua falta.

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