Mágico de Cajazeiras registra em livro a história da arte na Paraíba

“Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor!”. Muitos espectadores devem ter ouvido essas palavras no circo, onde uma das atrações mais esperadas pelo público é a apresentação do mágico. Diante da importância dessa atividade, e com o intuito de registrar e preservar o trabalho de quem se dedica ao ilusionismo, os mágicos Fernando Carvalho e Tiago Silva publicaram o livro A História da Arte Mágica na Paraíba – Do Século XIX aos Dias Atuais (Ideia, 305 páginas, R$ 40) que contém dados biográficos dos artistas e informações a respeito de alguns eventos realizados por esses profissionais no Estado, ao longo desse período.

Originalmente lançado em 2017, os autores estão com os projetos de, em 2022, lançar a segunda edição atualizada, retomar o trabalho de transformar em documentários partes da obra, para serem disponibilizados no YouTube, e realizar o curta-metragem Balabrega – Por Trás do Aplauso, baseado no mágico sueco Jau Balabrega, um dos perfilados no livro. “O filme é uma ficção que se baseia num fato que aconteceu, a morte do mágico Balabrega. Pouca gente sabe o que está por trás do espetáculo e o sacrifício que o artista faz para apresentar o melhor para o público e esse filme sintetiza tudo isso, pois Balabrega morreu por amor ao trabalho, pois queria encantar o público”, acrescentou ele.

Segundo o livro, uma “caldeira geradora de gás” explodiu em um ensaio do número intitulado As mariposas e a chama, ocorrido no dia 12 de junho de 1900, no Teatro Santa Roza, em João Pessoa. “Eram seis bailarinas que, como mariposas, circulavam a chama da vela e os figurinos iam mudando de cor até desaparecerem, como se fossem engolidas pela chama. Era uma espécie de vela, mas a chama era a gás acetileno, inflamável e proibida no Brasil, mas que Balabrega trouxe escondido. No ensaio, o mecanismo entupiu e, na tentativa de desobstruir, houve a explosão, que matou os dois e destruiu o palco e queimou as cortinas. As bailarinas só não morreram porque Balabrega pediu que ficassem no hotel. Os dois foram sepultados no Cemitério Boa Sentença, em João Pessoa”, relatou Carvalho.

O autor e artista ressaltou a importância da publicação. “É um resgate histórico de tudo que ocorreu de relevante sobre a mágica na Paraíba, que é o único Estado do Brasil que possui uma publicação nesse gênero”, disse Carvalho. A ideia de realizar o projeto surgiu estimulado pelo seu amigo e coautor da obra. “Tiago é um cara novo na mágica e o conheci há menos de uma década. Mas eu, desde os 18 anos, e hoje tenho 58 anos, sou interessado pela arte mágica quando ainda morava na minha cidade natal, Cajazeiras. Quando sabia da chegada do circo com mágico, procurava me aproximar dele para conversar sobre suas experiências”, explicou. “Na década de 1990 conversei com o mágico itabaianense, agora já falecido, Mister Kaltos, em Mari, onde residia, depois de ele ter passado longo tempo atuando em Minas Gerais. Foi um grande e conceituado mágico.

Então, ao saber de todo o conhecimento que eu tenho a respeito do assunto, Tiago Silva foi o grande instigador para que escrevêssemos o livro, com o objetivo de evitar que essas informações se perdessem”. Uma das dificuldades é não terem encontrado tantas informações na Paraíba. “Uma das principais fontes de pesquisa foi o arquivo digital da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, onde ficamos sabendo, por exemplo, que a primeira apresentação de um mágico na Paraíba, em João Pessoa, foi a do senhor Linsk, no dia 11 de julho de 1865, registrada pelo jornal O Publicador, já extinto”, pontuou. “Outra foi um livro escrito por Fátima Araújo sobre o Teatro Santa Roza. Mas também inclui, na obra, os meus próprios conhecimentos sobre a arte mágica”, comentou ele.

A obra é dividida em 20 capítulos. O primeiro, por exemplo, faz uma retrospectiva da arte mágica ao longo do tempo; o segundo registra a história do Teatro Santa Roza e, em seguida, os autores perfilam artistas que se apresentaram no local, no passado, como o Mister M., de quem Fernando Carvalho assistiu apresentação realizada em seis de outubro de 2000, no Forrock, em João Pessoa, além de episódios, inclusive o acidente que matou o mágico sueco Jau Balabrega e seu assistente, Lui Bartelle. Entre outros temas, há a relação dos mágicos paraibanos da atualidade.

Uma curiosidade é sobre a arte do ventriloquismo pelo mágico Cilaio Ribeiro. “Nós o incluímos no livro porque o ventríloquo é uma arte anexa à arte mágica. Cilaio costumava se apresentar no teatro e na Festa das Neves e Ednaldo do Egypto chegou a confessar que era fã e tornou-se ator por causa das apresentações de Cilaio Ribeiro, que recebeu nome de teatro em João Pessoa”, explicou Carvalho. Coautor do livro, Tiago Silva destacou que um exemplar da obra integra o acervo do Museu da Mágica de Portugal. “Em 2018, o diretor dessa instituição, Miguel Ângelo, soube da publicação do livro e solicitou o volume, que foi um sucesso no meio dos mágicos. É um privilégio ter o livro num museu na Europa, onde as pessoas valorizam a arte e a cultura”, disse ele.

“A mágica nunca vai se extinguir, mas vai se transformar”

“A mágica nunca vai se extinguir, mas vai se transformar e passar para as novas gerações. O padrão do mágico que chega com uma mesinha e faz sua apresentação não vai acabar, mas não desperta mais a atenção do público. A arte mágica vai continuar sendo transmitida, embora com menos intensidade, se agregar outras artes, como o teatro, a mímica e o ventriloquismo. Para mim, não é arte se não toca o sentimento”, disse Fernando Carvalho, para quem os atrativos da tecnologia digital têm contribuído para essa situação.

Já Tiago Silva afirmou que o sentimento de encanto que a mágica propicia vai contribuir para essa arte continuar para as novas gerações. “Mas há uma banalização dessa arte na internet, onde a mágica é usada como passatempo por pessoas que buscam likes e visualizações”, disse ele, acrescentando que, no próximo ano, outro projeto é o de criar a empresa Cartola Mágica, com o intuito de montar uma escola para oferecer cursos sobre a arte da mágica e realizar palestras e eventos.

COM INFORMAÇÕES DO JORNAL A UNIÃO

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