Espaço K Entrevista: Buda Lira, o ator e a vitória de muitos personagens

Buda Lira, o ator paraibano, se desprende do corpo para vestir as personagens e transformações. Buda Lira é foda, é assombroso, artista sertanejo que pulsa para todas as câmeras, vivíssimo, para além de todas as misérias brasis.

Parido em Cajazeiras, o Zeus de um terreiro fértil para todas as culturas, deu o passo largo, profundo, e é hoje é um ator nacional de reconhecimento, aplaudido em séries, filmes, documentários, curtas e imensas interpretações.

Ele vem de uma família de artistas, do núcleo da arte, roteiro, cinema, irmão cineasta Bertrand Lira,Nanego, Paulinha, Soia e Salvinho, uma trupe que às vezes atua em conjunto ou cada um na sua. São os filhos do Major Chiquinho, seresteiro de “um humor desconcertante” e Dona Maria Lira, que favoreceu em tudo para que os filhos fosse além do roteiro, das rotas, sinapses e muito mais.  

Em entrevista ao Espaço K, Buda mostra a célula, enxergando mais longe, sem precisar dos nervos de aço e fora do palco, ele coordena um projeto social em parceria com a  Casa Pequeno Davi, que uma iniciativa do Bloco Cafuçu e Amora Produção, sua empresa. Leia a entrevista e saiba mais, muito mais.

Espaço K – Vamos começar aqui – seus pais tinham uma identificação cultural, artística, ou vem dos avôs, etc?

Buda Lira – Meu pai, Major Chiquinho, foi um seresteiro amador na juventude. Gostava de dizer, brincando, que a minha mãe, Maria Lira, “interrompeu a carreira artística dele”. O Major tinha um humor desconcertante, marcado pelo improviso nas rodas dos bares. Foi guarda-fiscal, funcionário das Coletorias de Cajazeiras, Uiraúna, Sousa e a antiga Antenor Navarro. Conhecido como Chico Guarda, ganhou a “patente” de Major nessas rodas.

E a mãe de Buda? Minha mãe gerava o conforto e apoio as nossas iniciativas. Pra valer, a cidade de Cajazeiras é que favoreceu a nossa iniciação. No meu caso particular, o tempo de internato, uns três anos, entre 1967-1969, nos colégios dos Franciscanos, também ajudaram. Com a vinda para João Pessoa no final de 1972 e o encontro com Luiz Carlos Vasconcelos, no antigo Colégio Estadual do Bairro dos Estados favoreceu muito a continuidade no movimento de teatro da capital.

Como aconteceu – foi você o primeiro a colocar os pés no tablado? Sim. Somos duas gerações na mesma família. Sou a quarta cria da primeira geração que nasceu entre 1950 a 1960. Portanto, tive a oportunidade de atuar no teatro antes da chamada geração de ouro: Nanego, Paulinha, Soia e Salvinho.

Uma coisa é o Buda Lira nacional, outra o Buda da cidade, da vida pacata. Quem é Buda Lira? Rapaz vários e diversos como qualquer ser humano. Com predomínio de um cidadão pacato que pensa e participa ativamente da sua aldeia.

Desde que você emplacou nacionalmente, que não para. Está sempre aqui e lá, né? As oportunidades para atuar regularmente no audiovisual surgiram a partir de 2016 quando fiz Aquarius (direção Kleber Mendonça). São diferentes participações: pequenas e grandes presenças em curtas, longas, séries e novelas. Essa últimas ainda muito pequena. O bom é que aqui na Paraíba e em outros estados, sempre tem surgido convites que me dão uma imensa alegria de seguir vivendo e atuando.

Qual foi o primeiro filme, a primeira participação em novelas… “Eu Sou o Servo” de Eliézer Rolim, filmado entre as regiões do Brejo e do Cariri e também em João Pessoa. A primeira pequena participação foi na novela “Onde Nascem os Fortes”. Depois, uma pontinha em “Amor de Mãe”.

Do ano passado para cá, você fez alguns curtas, longas e séries. Vamos atualizar a cabeça dos leitores? Sim. Já se vão algumas participações bem legais. La vai: “Aracati”, um curta de Veruza Guedes (em Cajazeiras), “Ponto e Vírgula”, curta de Thiago Kistenmacker (no Rio-RJ), “O Som Baldio de Deus, uma série e longa de Frederico Machado (Urbano Santos-Maranhão), “Corpo da Paz”, um longa de Torquato Joel (João Pessoa), “A lenda dos Cavaleiros da Água”, um curta de Helen Quintans (Monteiro-PB), e Maria Bonita, uma série dirigida por Sérgio Machado, Adrian Teijido e Thalita Rubio. São trabalhos inéditos feito de maio de 2022 até agora.

Outra novidade são as séries inéditas: O Baldio Som de Deus (direção de Frederico Machado – pro Canal Brasil), Verônika (direção de Silvio Guindane, pro Globoplay). Fala aí quando vão ao ar? Olha, ainda não tenho datas da estreia desses novos trabalhos. Aguardando muito. Tomara que cheguem logo e que alcance um grande público.

Temos o longa “Mais Pesado é o Céu”, direção do Petrus Cariry, que será lançado este ano? Sim. Tive a alegria imensa de participar desse segundo trabalho com Petrus Cariry a sua tribo, uma família com um histórico de atuação expressiva no cinema em Fortaleza-CE: Além do roteirista, fotógrafo e diretor Petrus, tem a irmã Bárbara Cariry (produtora e diretora) e o pai, Rosemberg Cariry. Fiz uma série com Petrus e Arthur Leite, Caminho de Volta. O filme “Mais Pesado é o Céu” foi premiadíssimo no Festival de Gramado deste ano: melhor diretor, melhor fotografia  e montagem e mais o prêmio especial do Juri para a atriz Ana Luiza Rios. Recentemente, recebeu o Prêmio Spirit of Cinema Award no 30th. Oldenburg Internacional Film Festival na Alemanha. Acredito que até o final do ano, deve entrar em cartaz por aqui.

Buda ainda é muito namorador? Ahahaha…Sim. Com Francisquinho Moraes Lira, meu filhinho querido de dois anos, Mayrinha Montenegro, minha filha talentosa e Marcelina Moraes, minha amada produtora e companheira.

Eu fiquei impressionado com o filme de Bertrand “O Seu Amor de Volta (mesmo que ele não queira)”, em que você aparece no final e tem Corrinha. Fora isso, é um filme maior que poderia ser mostrado mundo afora, né? Bem lembrado, cidadão K. O filme de Bertrand poderia e deve chegar aos muitos paraibanos e paraibanas, além de percorrer o mundo afora, claro. Esse é o maior desafio de que faz cultura, de quem governa os munícipios, os estados e o país, recuperar a rede de cinema que outrora existiu no Paraíba e no Brasil e fazer com que tenhamos uma forte rede de cinema educativo. A população brasileira precisa e merece se reconhecer nas telas a partir de uma grande e expressiva produção audiovisual brasileira.

Fala pra gente desse filme que tá sendo rodado em Monteiro, um curta de Helen Quintans, uma paulista que tem família na cidade e na região do Cariri? Um roteiro que lembra as histórias de Dom Quixote. Fiquei encantado com essa participação no curta metragem da Helen Quintans, “A Lenda dos Cavaleiros da Água. Baseado no cordel de Samuel Monteiro, irmão de Helen.

Como é o projeto que você está coordenando em parceria com a  Casa Pequeno Davi, uma iniciativa do Bloco Cafuçu e Amora Produção, sua empresa? Olha, com a experiência na gestão e cultural, desde os 35 anos no Núcleo de Teatro Universitário/UFPB e mais precisamente a longa vivência com as atividades educativas e culturais da antiga Escola Piollin – uns trinta anos -, formulei a proposta em parceira com a Casa Pequeno Davi, uma organização social que atua com educação e inclusão social no Bairro do Roger e comunidades vizinhas. O projeto iniciou em novembro de 2022 e oferece cursos de iniciação as artes visuais e cursos profissionalizantes de marcenaria, eletricidade básica, corte e costura, cenotecnia, produção e criação audiovisual, culminando com o curso de cenografia em que serão decoradas (“enfeitadas”) duas praças do bloco Cafuçu. Nessa primeira edição, contei com três emendas parlamentares da Deputada Estela Bezerra (uma) e do Deputado Jeová Campos (duas). Estou trabalhando para que o projeto tenha continuidade e que possa oferecer oportunidades de ocupação e renda para jovens que de fato precisam dessa chance de crescimento pessoal e profissional.

Você vai muito ao cinema? Menos do que desejo. O suficiente para me manter vivo.

Eu acho Nanego o melhor ator da família. Tô certo? Certíssimo. Nanego, Soia Lira. Muito me emociona vê-los atuando e, mais ainda, trabalhar com ele e Soia. Lá em casa ainda teríamos mais: Paula Lira e Salvinho Souza que chegaram a atuar no início do lendário Grupo Terra de Cajazeiras. Salvinho é professor de Educação Artística em Cajazeiras. Muitíssimo engraçado e também talentoso.

Buda é ateu ou bota fé nos orixás, em Padre Rolim e outros retiros espirituais? Boto fé, cá do meu canto, em todas as santas e santos. Tenho uma admiração especial de quem faz a iniciação e trajeto longo nos retiros espirituais. Uma admiração especial a figuras como Padre Rolim, Padre Ibiapina que transitaram entre as urgências dos céus e da terra.

ENTREVISTA CONCEDIDA AO JORNALISTA KUBITSCHEK PINHEIRO PARA O MAISPB

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