Violência política em Cajazeiras

No tempo da Guerra Fria o mundo ficou dividido em dois blocos antagônicos: um comandado pelos Estados Unidos, o outro pela URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O Brasil integrou a esfera americana. Debatia-se na época a exploração das riquezas minerais, a eterna luta pela terra, o nacionalismo, o controle do Estado etc. De um lado, havia correntes nacionalistas e comunistas. Do outro lado, liberais conservadores, entreguistas e, no extremo, os fanáticos da Tradição, Família e Propriedade (TFP), com jovens de ternos a desfraldar estandartes, e respeitáveis proprietários rurais em cavalgadas pelas ruas.

Os comunistas se prendiam a princípios marxistas/leninistas, repudiavam a liderança norte-americana, denunciavam os processos de espoliação dos povos subdesenvolvidos. Os entreguistas propunham a entrega de nossas riquezas, sobretudo o petróleo, às empresas internacionais que, aliás, mandavam no mundo ocidental. Alegava-se que o Brasil não tinha capacidade técnica nem recursos para extrair e refinar petróleo. A Petrobras seria uma aberração!

Nesse cenário, aqui simplificado, Assis Chateaubriand, dono da maior rede de jornais e rádios do Brasil, estendia seu império à televisão. Para os comunistas, Chatô e o diabo eram carne e unha! Ele queria ser senador pela Paraíba. Engendrou-se um esquema nada republicano para isso permitir. Foi assim que esbarrou em Cajazeiras o “maior entreguista do País”. Veio mostrar o milagre da transmissão de imagens à distância. A tal da televisão! Naquele tempo, só havia aqui meia dúzia de receptores de rádio, a gente escutava os alto-falantes da Difusora Rádio Cajazeiras e da Difusora Rio do Peixe!

Pois bem, instalaram aparelhos de tv na Praça João Pessoa. Apinhada, a multidão esperava ansiosa o momento de ver aquela geringonça funcionar. De repente, uma caminhonete invade a Praça, tentando evitar o comício! Um barbudo acelera forte o motor… correria, porrada na chaparia do carro e Sabino espantando a multidão para melar a festa do “maior entreguista do Brasil”.

Cajazeiras em peso conhecia o comunista Sabino Coelho. No dia seguinte, minha mãe comentou:

– Sobrinho de dom Moisés, filho do professor Crispim Coelho, meu Deus!

Foi no açougue, porém, quando fui comprar carne verde, que soube o motivo da confusão, na linguagem crua do povo:

– Mas homi, tu acha que o Barbudo, com o rabo cheio de cana, ia ficar queto?

Naquele tempo se falava assim de violência política. E hoje?

Feliz 2024. Sem violência!

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