Um bicentenário pífio

O  ano era 1972, chegava à capital João Pessoa  mais um jovem adolescente sertanejo com a missão de aprimorar e concluir seus estudos  e retornar para casa e mostrar para os pais  o tão sonhado titulo de  “dôtor”. Não tive dificuldade para me ambientar, a cidade eu já conhecia parcialmente de visitas anteriores. Fiquei alojado na pensão de Dona Rosália (homônima da minha mãe) ali na Avenida Pedro II em frente à entrada do Mercado Central e foi lá na pensão de Dona Rosália juntamente com outros amigos como Oscar Sobral, Xavier de Freitas, Aldeir Mangueira, Gilvandro Lins, Carlos Cavalcante entre outros que vivi intensamente a minha fascinante fase transição da adolescência para a vida adulta. Como o mais jovem do grupo fui indicado a dedo pelo meu pai, Tota Assis, a dividir um quarto com um certo Sr. Sinval, um sisudo burocrata de meia-idade do 1° Grupamento de Engenharia que me repassava valiosíssimas informações que me ajudaram a compreender as origens e as causas do regime militar que estava implantado naquela época no Brasil.  

A bela João Pessoa, da majestosa praia de Tambaú, da ponta do Cabo Branco, das matinês do Cine Plaza e da inigualável performance do guarda de trânsito Apito de Ouro na Rua Duque de Caxias já não me encantava tanto, o que me chamou atenção logo no início daquele ano foi uma maciça campanha anunciando por rádios jornais e televisão as comemorações dos 150 anos da independência do Brasil, uma programação invejável, robusta de eventos e exposições espalhados por toda a cidade. Aquele estardalhaço midiático, que eu, ainda, não conseguia entender, marcou de vez a minha chegada a capital do estado.

Hoje, cinquenta anos depois, às vésperas de comemoramos o bicentenário da nossa independência, fico a me perguntar o porquê dessa profunda apatia e indiferença com a celebração do evento que deu início a história do Brasil como nação independente.  

Seria a coincidência dessa  efeméride histórica ocorrer exatamente dentro um período de eleições extremamente polarizadas e permeadas pelo ranço da intolerância ideológica ou não temos mesmo o que comemorar?  Temos motivos, sim, para regozijo e exaltação se considerarmos o fim de três séculos do Brasil Colônia, um ciclo patrocinado por uma monarquia escravocrata que nos deixou um triste legado de pobreza moral, material e intelectual. E esse regozijo foi expresso em larga escala em 1922 quando o presidente Epitácio Pessoa inaugurou no Rio de Janeiro um mega evento, a Exposição Internacional do Centenário que tinha objetivo claro de mostrar para o mundo a modernidade e pujança do Brasil no campo das artes, indústria e ciência.

Quanto ao bicentenário não temos muito que comemorar, padecemos das mesmas mazelas de cem anos atrás marcadas por instabilidade politica e institucional, desigualdade social, crises econômicas e fome, agora o com um agravante perigoso: somos uma nação ideologicamente dividida.

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