Tutti-frutti

Palavra caça mato, pega vento, corre ligeiro. Povoa todos os mistérios, sinaliza odores, aos milhares, todos os caminhos do que se possa pensar. Pois antes da fala relampejam os corredores do pensamento. Que belo. A rapidez dessa atividade constante é algo parecido com um planeta recém-descoberto. É necessário treinar a compreensão.

Tratamos do astro, que acabou de ser catalogado, como um troféu, objeto alcançado pela capacidade humana. Sim. A ciência merece comemoração. Mas também fazemos dele a nossa casa, habitando o lugar em hipóteses. Supomos alienígenas, água, vegetação. Alguns mais ousados julgam até alta tecnologia, grandes civilizações que somente os sobrenaturais podem enxergar. Outro campo entra em ação: o imaginário, o berço da subjetividade.

Da brincadeira hipotética, pisamos no nosso próprio solo. Fazemos desenhos que terminam se transformando em palavras, as quais se irmanam e organizam um sentido. Pois palavra esboça ideias. Palavra empilhada, livre e combinada chega a ser poema. Rimada com outras e outras semelhantes, amigas de significados, e ganhando som, requer categoria de música. Em dicionário, é tutti-frutti, é festa. Arroubo de cores. Cada povo com seu gosto a acrescentar na receita: vinho, sorvete, waffer, chocolate. Cada nação com sua mistura e autenticidade. Turismo à vista.

Sim. Palavra pode ser sobremesa. Servimos sempre à temperatura ambiente. Há palavra, no entanto, que depende da geladeira para realçar o sabor. Há palavra que deve ser congelada. Há aquela que jamais pode ser sonhada. Há a que ultrapassa o clima. Pois palavra é gente. Gente é essa colagem de tantos termos que despertam interpretações diversas, a ponto de duvidarmos se aquela obra que está ali é quadro, gravura, pintura. Mas, pode ter certeza: tudo aquilo é caractere por caractere, texto grudado no intestino da memória. Para diversão, insistimos em explicar e pormenorizar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

As ruas que andei

LINALDO GUEDES Entre a rua Doutor Coelho e a praça João Pessoa repousam meu coração cajazeirense. E um…
CLIQUE E LEIA

O amor ao dinheiro

Seria hipocrisia negar a importância do dinheiro em nosso dia a dia. Através dele conseguimos melhorar a qualidade…
Total
0
Share