Trilhas sonoras (parte 2)

Não restam dúvidas de que o advento das trilhas sonoras veio agregar outros valores aos filmes. Tanto é assim que, algumas vezes, a música inserida na banda sonora de uma película assume uma “vida própria”, portanto sem vinculação memorativa com o respectivo filme. E disso, há exemplos e mais exemplos, como comentaremos mais adiante.

Não podem ser esquecidos os chamados filmes musicais, produzidos em função das trilhas sonoras, quase sempre objetivando promover ritmos, conjuntos, cantores, eventos… Então, quem se não há de lembrar do advento do rock ‘n’ roll, cujo impulso publicitário, em sua passagem do rhythm and blues ao rock propriamente dito, nos trouxe o indefectível Bill Haley and His Comets, com o panfletário Rock Around the Clock/Ao Balanço das Horas (1956), filme que nos apresentou, além do titular dessa banda de rock, os baladistas The Platters, com as inesquecíveis Only You e The Great Pretender, músicas que embalaram os nossos sonhos amorosos juvenis. A este propósito, a projeção desse filme, como ocorreu pelo Brasil afora, em 1957/1958, causava certo furor exibicionista por parte da então chamada “juventude transviada” dos tempos iniciais de James Dean, a qual chegava até a quebrar cadeiras/poltronas das casas exibidoras, quando da projeção dessa película. Os cinéfilos de então hão de se lembrar das acrobáticas danças do frenético Ivo Bichara,
nosso festejado hippie (in memoriam), que nos proporcionava seu show particular nas
sessões do querido e muito lembrado Cine Rex, causando um espetáculo à parte.

No rastro desse filme, veio toda a sequência dos sucessos fílmicos e musicais de Elvis Presley: Love Me Tender/Ama-me com Ternura (1956), Jailhouse Rock/Prisioneiro do Rock (1957), King Creole/Balada Sangrenta (1958), GI Blues/Saudades de um Pracinha (1960), Flaming Star/A Lança em Chamas (1960), Wild in The Country/Coração Rebelde (1961), Girl Happy/Louco por Garotas (1965), Live A Little, Love A Little/Viva um pouquinho, ame um pouquinho (1968) e de Chubby Checker: Twist Around the Clock/Na Onda do Twist (1961), Don`t Knock the Twist/No Embalo do Twist (1962) para citar apenas os primeiros filmes que alavancaram o sucesso da gravadora RCA (depois BMG) e do “rei do rock”. Era o início da chamada rebeldia jovem diante dos novos ritmos que viriam a dominar as gravadoras da época que, assim, deixavam em um segundo plano o rhythm and blues, o blues, o jazz, o fox, o foxtrote, o rag, o antigo dixie e até o country music, sendo este influenciador de nossa música caipira e que desaguou no atual “sertanejo universitário”, verdadeira ofensa ao nosso gosto pessoal.

Por aqui, no estilo tupiniquim de filmografia musical, ou quase, surge a Atlântida Cinematográfica (1941-1966) que, até 1962, tornou-se uma verdadeira “fábrica” de filmes, com supremacia para as chamadas “chanchadas”, que nos apresentaram os nossos “astros” cinematográficos: Anselmo Duarte, Cyll Farney (irmão do cantor Dick Farney, dos tempos da bossa-nova), Eliana Macedo, Fada Santoro, e os comediantes Ankito, Grande Otelo, Oscarito, Zé Trindade, Zezé Macedo, entre outros mais. Além dos enredos românticos e apresentando casos de amor do tipo “água com açúcar”, era a época das comédias em sua forma menos picante, como surgiriam, tempos depois, em nossa TV. Em ambos os casos, a Atlântida conveniava-se com as gravadoras, “convidando” astros (cantores e cantoras) para o elenco das películas, com o objetivo de propagarem as músicas que fariam sucesso, muito especificamente no lançamento daquelas fadadas a despontar em futuros Carnavais. Nesse sentido, ainda hoje são lembrados nomes, como Carlos Manga, Watson Macedo, J.B. Tanko, Herbert Richers e o Grupo (Luiz) Severiano Ribeiro… Infelizmente, um incêndio ocorrido nos estúdios da Atlântida, em 1966, destruiu boa parte dessa história construída sob a batuta desses “pioneiros” de nossa filmografia, sem nos esquecermos de Humberto Mauro, com “Ganga Bruta” (1933); de Nélson Pereira dos Santos, “fundador” do chamado Cinema Novo, com “Rio 40 Graus” (1950); de Lima Barreto, com “O Cangaceiro” (1953); e Glauber Rocha, com “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), para citar apenas alguns entre tantos outros.

Aliás, diga-se de passagem, merecem destaque os chamados documentários musicais, Como Woodstock, que depois viralizaram, sobretudo para as bandas dos States e da Inglaterra. Mas, aí já será objeto de futura Coluna.

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