Teimosos da Covid

No dia a dia a gente vai juntando histórias, com h, narradas por amigos, vizinhos e familiares, sobre os que fizeram, e fazem descaso com a covid. Acredito que cada um tenha um caso na ponta da língua para contar. E não me refiro a fatos narrados em noticiários televisivos e nem redes sociais, não. Vejamos alguns acontecimentos que ouvi e vi.

1 – Numa cidadezinha da Bahia, em reunião familiar, os irmãos decidiram que a mãe, beirando os noventa anos, não seria vacinada. Indaguei ao meu interlocutor se era por motivo religioso ou político. A motivação foi o negacionismo presidencial. O cúmulo da insensatez. Sem autonomia, a idosa, que deve ter dado carinho e atenção àquela prole, e agora incapaz de puxar a orelha e dar esbregues na filharada, é refém covardemente de quem lhe deveria proteger.

2 – Fui numa farmácia comprar um protetor solar e chega um cara falando alto para o atendente, que lhe parecia cliente assíduo, e solicita cem reais em caixas de azulim. Estava de gozação, e disse que queria cloroquina, para uso de seus funcionários. Jogou a nota de cem no balcão e observou em sua lógica que, se não faz bem, mal também não, e que era preciso tentar se proteger. Ou seja, proteger seu comércio, não seus funcionários. A própria Anvisa se manifestou contra o uso desse medicamento para covid-19 e o próprio fabricante. Não sei que ramo de trabalho era sua empresa, mas fiquei imaginando se seus empregados rejeitassem ingerir aquela droga, provavelmente iriam ser demitidos. Imagine se a moda pega.

3 – Era funcionário aposentado de uma grande empresa estatal. Tinha os melhores planos de saúde. Estava em dia com os check-ups. Se deslocava para os grandes centros onde havia boas clínicas para tratamento de qualquer doença. Era o tipo do homem ao contrário dos que têm rejeição por consultas médicas. Mas… O maldito ‘mas’ é uma sina. Disse que não usaria máscara e não se vacinaria de forma alguma contra a covid-19. Por mais eficientes que fossem as vacinas, e de qualquer país que fosse. Não indaguei a quem me relatava o fato se sabia qual era o motivo de tamanha rejeição. Já estava explícita a ignorância. Final da história: o sujeito morreu de covid.

4 – Certa pessoa rejeitou tomar a CoronaVac porque simplesmente era vacina chinesa. De tanto ouvir a rejeição do presidente do país por ela, e como bolsonarista fervorosa, disse que iria esperar a da Oxford/AstraZeneca. Sei que esse é um fato comum. Pois bem. Dias depois após tomar a vacina da Oxford, a tal pessoa perguntou aos amigos, que na maioria tinha tomado a CoronaVac, se haviam sentido alguma reação. Ninguém sentiu. Ela sentiu e teve que ir ao médico. Isso não significa que a Oxford seja ineficiente. Qualquer vacina seja bem-vinda. A ilustração aqui é o caráter da implicância ideológica sobrepondo à racionalidade.

5 – Uma colega contou-me que uma parenta sua do Paraná, fervorosa bolsonarista e trumpista, fez seu marido tomar cloroquina sistematicamente, indo na onda do receituário de Bolsonaro. Recentemente o marido foi encontrado morto em casa. Por alto, foi dito à minha amiga que ele morreu de infarto. Mas ela acredita que foi em decorrência de algum descontrole do organismo pelo excesso de cloroquina, já que era um cara saudável.

Por esses dias vi no jornal televisivo reportagem apontando as consequências prejudiciais e até morte em decorrência de quem fez uso sistemático do tal tratamento precoce com cloroquina e demais inas. Depois li reportagens e análises com especialistas em jornais da grande imprensa sobre a mesma temática.

Cada um segue as ideias e comportamentos de político que quer, e devemos respeitar. Inclusive querer prejudicar sua própria saúde e morrer.

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