Roberto Carlos oitentão

Nesta segunda-feira, 19/04/21, Roberto Carlos completa 80 anos. Desde criança, mesmo que não quisesse, eu ouvia suas músicas. As emissoras de rádio de minha cidade, Cajazeiras, tocavam sempre. O rádio tinha mais audiência que a televisão. Na sala de visitas a mesinha do rádio veio antes da de televisão. A programação televisiva só começava no início da tarde.

Sem contar que existia, e não sei se ainda existe, um programa dominical só com músicas de Roberto. Chamava-se Eu, o Rei, e a Notícia. No meu tempo era por volta de dez, onze da manhã, porque logo a seguir tinha o de Nelson Gonçalves.

Era impossível sair caminhando pelas ruas da cidade nesse horário e não ter a emissora sintonizada no programa do Rei.

Nossos ouvidos já estavam educados com seus clássicos das décadas de 60/70/80, que, diga-se de passagem, esse período foi o mais fértil de sua criatividade. Lógico que tem outros tantos clássicos mais adiante, mas a predominância acredito estar nesse período.

É tanto que comprei, há alguns anos, duas caixas de cds anos 60/70 com o repertório desse período. Capas e saquinhos de plástico para acomodar o cd iguaizinhos os LPs originais, como se dizia antigamente e hoje se diz vinil. Quando morava em Cajazeiras, nem em sonho podíamos comprar essa discografia.

Já em Brasília, ouvíamos muito Betão em saraus no apartamento dos saudosos cajazeirenses Lavoizier e Javan, mais Rigoberto, Lamarck, Bega, Carlão e outros. Betão, como Lavô gostava de falar, era fundo musical de nossas infindáveis conversas que iam de Padre Rolim, fundador da cidade, aos botecos lá dos cafundós da Camilo de Holanda.

Eu e meu irmão Ivaldo, in memoriam, no auge de nossa juventude, gostávamos de atanazar só de sacanagem, o entusiasmo fervoroso de Lavosier por Roberto Carlos, dizendo que a música de Betão era alienada, e ele dava o troco dizendo-nos que Chico Buarque de Hollanda, a quem eu e meu irmão éramos fãs, também fervorosos, não tinha a mínima condição de se chamar cantor com aquela voz sofrível.

A caipirinha e o famoso caldo de feijão feito por Lavoisier, dava o tom de nossos papos, fanfarronices e gabolices, com o eixo central, sempre, nas aventuras e desventuras do mundo encantado de Cajazeiras.

Para nós, Cajazeiras podia muito bem ser nossa Nova Iorque e Roberto Carlos nosso Frank Sinatra, com seu timbre de voz claro, ritmo musical cadenciado para ferir nossos corações de paixões pelas meninas que não conquistamos, e as que conquistamos que se tornaram nossas eternas musas, nossas companheiras vida adentro.

Mesmo sendo censor de sua biografia, Betão sempre andou com suas próprias pernas para sustentar o galardão de ídolo de gerações.

Betão embalou nossa juventude e despertou em notas musicais que a vida foi e é bela. São Detalhes pequenos de nós todos que não cabem numa crônica.

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