Raimundo Limeira: o último dos grandes comerciantes

No último fim de semana, Cajazeiras presenciou, com as exéquias de Seu Raimundo Limeira Gomes, possivelmente a despedida de uma era, que em termos gerais foi cheia de grandiosidade com seu tempo, e o extinto representava toda essa geração que se foi, e a gente que teve a oportunidade de vivenciar, se sente na obrigação de registrar, para que sirvam de exemplo e orientação para as presentes e futuras gerações de comerciantes que não viveram esse tempo, e aprendam com esses mesmo, que Seu Raimundo, que lamentavelmente nos deixa, pode muito bem representar.

Quando eu era menino, existia uma grande (para mim enorme) casa de ferragens, próximo a minha casa, era a loja de Álvaro Marques, onde hoje funciona a Danielle Boutique de Vilmar; que dispunha de um estoque de tudo que fosse ferramentas, parafusos, aço etc. em que eu, em parte me inspirei para ser engenheiro mecânico. Infelizmente, seu Álvaro Marques, quando eu voltei formado, já havia falecido, então sempre que eu queria alguma coisa do setor, eu encontrava na loja do pai de um colega meu do Cólégio Estadual, Emilton, a Raimundo Limeira Ltda. e a referência ficou sendo (na minha mente, ainda o é), Seu Raimundo e o tratamento diferenciado que me dava, e como vim a perceber, a todos os seus clientes; aquele negócio de você se sentir especial, único, como que o melhor amigo quando aparecia na loja de Seu Raimundo, quer encontrasse ou não e no caso negativo, aonde achar o que procurava, o que somente vi um pouco mais tarde em Campina Grande, a cidade comercial por excelência, que dispensa tratamento semelhante ao que Seu Raimundo Limeira nos agraciava.

Como esses dois, haviam por aqui, em outros ramos do comércio, outros que nos seus respectivos setores, faziam a fama (que de certa forma até hoje subsiste) do comércio de nossa Cajazeiras, que tinha, outros que seguiam a mesma linha, Seu Arcanjo, nas estivas, João Martins Moreira, em loja de ferragens mais destinadas para construção (ferro, cimento, etc.), A Casa Mascote de Carlos Paulino (o que hoje chamaríamos de eletro eletrônica), bem pertinho de minha casa, e tantos outros merecedores de serem citado, que tenho que omitir. Faziam e fizeram o comércio de Cajazeiras, que até poderia incluir, há muito tempo, e eu não alcancei, meus avós e bisavós, Major Galdino, Cel Matos e mais para o começo do século passado, Major Hygino Rolim.

As mesmas características: Comércio segmentado, excelente tratamento para com os clientes e bem local, nunca nenhum desses atravessou, apesar de que os produtos que vendiam, atravessassem “a primeira barreira fiscal”.

Se contrapondo a esses, temos os comerciantes que chamariam de mais modernos, os que já, segundo o que tive oportunidade de conversar com alguns deles, lá pelos anos 50, Chico Rolim, José Cavalcanti, e os mais paradigmáticos desses, os irmãos João e Valdeci Claudino; Deca seria o mais recente exemplo; tiveram a ousadia de se aventurar além de nossa região, fazer entrega a domicílio (transportar), alguns até a industrializar os produtos que comercializam, e explorar outras particularidades do comércio, e alguns (esses todos citados) experimentaram um sucesso realmente extraordinário. Poderíamos os considerar os comerciantes do futuro daquele tempo.

Mas nada disso diminui a figura realmente extraordinária que Seu Raimundo Limeira representou. E mesmo ele com mais de 90 anos, já fragilizado, ainda nas últimas vezes que o vi, transmitia as qualidades que ele e em seus conceitos pessoais poderíamos considerar o que deve ser um comerciante com “C” maiúsculo.

Um exemplo a ser imitado, especialmente em suas grandes qualidades, tanto no trato do comércio, quanto nas suas características pessoais, que sempre admirei.

Um grande, uma era que se vai. A falta será sentida, e muito.

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