Queimem o sofá

Por pouco, o Brasil passou perto de voltar a cometer um equivoco de destruir mais uma de suas conquistas exitosas. No afã de dar pseudo-respostas a sociedade, agentes criminosos infiltrados em todas as instâncias do poder, utilizando uma falsa e enganosa narrativa de moralização da coisa pública decidem extinguir sumariamente programas que vinham dando certo, mas vinham apresentando problemas pontuais, que poderiam ser salvos e preservados depois de sanados e aperfeiçoados.

Cito dois exemplos: as UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) e a Operação Lava Jato.

As UPP(s) um brilhante projeto da Secretaria Estadual de Segurança do Rio de Janeiro para desarticular o narcotráfico criando polícias comunitárias ocupando espaços nas favelas cariocas visando aproximar a polícia da população. Entendo que foi o único programa de sucesso em todo país com o objetivo de devolver para a sociedade brasileira os territórios sequestrados pelo crime organizado que hoje agigantado se constitui um verdadeiro estado paralelo. O caso isolado do pedreiro Amarildo de Sousa sequestrado, torturado e morto por policiais da UPP da Rocinha selou o seu esvaziamento e praticamente a sua extinção.

A Operação Lava jato, considerada a maior e mais exitosas investidas contra a corrupção no Brasil que julgou e condenou figurões do submundo politico, empresarial e gestores públicos, teve todos os seus processos anulados por excessos e extrapolação de competências de um juiz e um grupo de procuradores federais sendo extinta em 2021.

Afinal, a quem interessou a extinção sumaria desses dois programas que não tiveram sequer uma segunda chance de uma ampla revisão e um profundo aprimoramento para continuarem ativos cumprindo os seus propósitos para quais foram concebidos? Desnecessária uma resposta para um questionamento que os meus argutos leitores sabem de cor.

O desfecho desses dois casos emblemáticos de esforço concentrado de combate ao crime organizado e enfrentamento da corrupção endêmica que campeia pelo país remete ao caso clássico do tresloucado marido traído que na ânsia furiosa de se vingar da esposa adúltera ateia fogo no meio da rua o instrumento do crime, o sofá. Pobre coitado, nada resolveu, perdeu a mulher e o sofá.

O equivoco sanado que citei logo no início desse texto refere-se à postura madura e inteligente do Congresso Nacional e do Ministério da Educação que depois de uma longa e espinhosa discussão com direito a bate boca e até murros na mesa, sabiamente conseguiram preservar as linhas básicas da Reforma do Novo Ensino Médio aprovada em 2017 no governo Temer, apenas introduzindo modificações no projeto de lei aprovado na última quarta-feira (20) que previa o aumento da carga horaria para Formação Básica permitindo compatibilizar o Ensino Regular com o Ensino Técnico.

Havia agentes políticos, movidos pelo ranço ideológico radical, que defendia a revogação completa da lei de 2017, mas prevaleceu o consenso da sensatez que com apenas ajustes e correção de rumo foi possível aprimorar e preservar um dos regramentos educacional mais moderno do mundo. Desta vez não foi preciso queimar o sofá.  

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