Paz nos embates políticos

Não existe paz, onde não há harmonia. Esse é um princípio básico para que se estabeleça uma convivência civilizada. O ambiente de tranquilidade é imprescindível em qualquer relacionamento. Nem sempre a paz é a comunhão de vontades, mas é o respeito às divergências, sem a necessidade de conflitos e agressões, observando o princípio da não violência. Santo Agostinho afirmava que “a política constitui uma atividade fundamental para que no seio da sociedade humana haja paz e bem”. E continua: “o exercício da função política abrange a pessoa humana inteira com seu corpo e sua alma”.

É hora de desarmar os corações, ainda que sem abrir mão do direito de defender as próprias ideias e opiniões, mas sem negar ouvidos ao que pensam os outros. A polarização política que estamos vivendo no Brasil tem estimulado tensões sociais e políticas, fomentando a desunião. Não podemos ser vencidos por paixões desenfreadas que ocasionam idolatrias. Que não prepondere a sede em dominar e massacrar seus semelhantes por motivações políticas.

Afinal de contas o bem da coletividade deve sempre prevalecer sobre os interesses particulares ou de grupos. O bom senso desaparece quando os conflitos se aguçam. O pacificador sabe que em qualquer tema que provoque debates existem dois lados e escuta ambos. Porém, jamais negocia seus princípios. Busca que o consenso seja estabelecido, mas sem prejuízo da verdade.

Por isso é importante que nos abstenhamos de pré-julgamentos. Desconstruamos preconceitos, ampliemos os horizontes e entremos em contato com os que dividem conosco responsabilidades sociais. Respeitar o outro não é convencê-lo a aderir ao que pensamos, mas permitir que ele se manifeste livremente, desde que não cause danos a terceiros ou ao próprio agrupamento social em que esteja inserido. Tem que haver reciprocidade nesse comportamento. Do contrário gera desarmonia.

Defendamos os valores que prezamos. Todavia não devemos contribuir para que aflore o espírito de beligerância que o momento político nacional tem provocado. Numa sociedade plural como a nossa, é necessário conhecermos os limites da nossa percepção, ensejando oportunidades para abertura de diálogos que resultem possíveis convergências, alargando visões e compreendendo a interdependência entre as pessoas.

Façamos autocrítica, antes de apontar o dedo acusador para alguém. Como afirmava Sócrates “conhece-te a ti mesmo” e assim poderemos agir com sabedoria e com ética. Política se faz com diálogo e com disposição para construir. É o desafio que devemos enfrentar, sob pena de naufragarmos no acirramento dos ânimos que produzem fronts de discussão entre grupos opostos, culminando com troca de insultos. A política não é a administração do mal, e sim a garantia do contrato social do bem.

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