Pânico?

O pânico provoca medo, ansiedade e a sensação permanente de que o perigo é iminente. Essa é uma experiência que estamos vivenciando com a pandemia do covid-19. Discordo, no entanto, do presidente da república quando ele tenta culpar a imprensa pela instauração desse clima de estresse que vem se acentuando a cada dia. A mídia está cumprindo com responsabilidade o seu papel de informar a população para que ela, na consciência da realidade trágica, adote as precauções que se fazem necessárias no sentido de evitar a intensidade da contaminação da doença.

Ao que se percebe tem muita gente que não se deixa ser afetada por essas notícias catastróficas que o vírus vem causando no mundo inteiro, com agravamento momentâneo em nosso país. Então o pânico que o chefe da nação coloca como causa da crise econômica que a crise sanitária provoca, por consequência, não faz muito sentido. Vemos multidões nas ruas, nas praias, nos bares e restaurantes, na promoção de festas, aglomerando sem os cuidados recomendados, tais como máscaras e distanciamento social. Ele próprio dá o mau exemplo liderando eventos públicos de caráter político, desconsiderando todas as normas de prevenção. Então, o pânico não é generalizado.

O que causa pânico, presidente, é a postura negacionista adotada desde o início da crise. A incerteza do futuro, em razão da total indiferença diante do caos na saúde pública que vem se instalando. A não aceitação que choremos a morte de nossos parentes e amigos, classificando esse pranto como “frescura”. Como dizia Raul Seixas: “é sempre mais fácil jogar a culpa nos outros”. Não é hora de acirrar ânimos por conta de divergências políticas. Ao chefe da nação caberia a responsabilidade de buscar a união dos brasileiros na busca de soluções para o problema que nos aflige. O momento exige que se desça do palanque político-eleitoral.

As políticas públicas de combate à epidemia devem ser definidas de forma integrada, por meio de diálogo e união de esforços. Essa moléstia contagiosa tem ceifado centenas de milhares de vida, causando preocupantes transtornos sociais. O pânico não existe por conta das notícias divulgadas pela mídia. Ele ocorre em razão da ausência de planejamento e de coordenação nacional na condução das políticas sanitárias. Isso que vem induzindo a população ao medo.

Está na hora de se abandonar o discurso fantasioso que procura desdenhar da gravidade da doença. Como também se mostra inoportuna essa constante manifestação de desejo em fomentar brigas, criando imbróglios políticos. O instante requer harmonia institucional para enfrentamento desse terrível inimigo invisível. Fortalecer a unidade das políticas públicas como meio essencial para salvar vidas.

O crescente número de mortes anunciado cotidianamente produz, inevitavelmente, sentimentos de medo e insegurança. Isso, claro, abala a nossa saúde emocional. A potencial ameaça da doença nos assusta. Mas então o que fazer? Proibir a imprensa de divulgar a realidade dos fatos? Se com todo esse noticiário impactante, boa parte da população continua se comportando como se nada estivesse acontecendo. A mídia tem cumprido um papel importante ao enfatizar o sinal de alerta. Ela está integrando a linha de frente de combate à pandemia.

O tema coronavírus tem realmente dominado a pauta jornalística em benefício da sociedade. Nem poderia ser diferente. Todavia, devemos todos, governo e sociedade, cumprir a cada um a sua parte. Em tempo quero afirmar que não estou concentrando a culpa do que está ocorrendo na figura do presidente da república. Todos nós temos parcela de culpa na forma como estamos encarando esse vírus mortal. Minha colocação é muito mais de convocação a que ele se integre com responsabilidade nessa luta. Precisamos dele na liderança desse combate. E não vale a desculpa de que não age porque o STF o desautorizou. Isso não corresponde a verdade.

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