Bosco Maciel

Quando em criança, uma das broncas de minha mãe era contra a vadiagem. Não tolerava a vida de certos asilados, que viviam o dia todo desocupados, vadiando e asilando pelas ruas…  É bom que se expliquem os termos: vadiar e asilar eram os verbos preferidos pelos “desocupados”, como creio que ainda hoje o seja, pelo menos para os que ainda cultivam vocábulos doutras épocas. Não confundir o segundo – asilado – com o exilado, termo este utilizado pelo nosso amigo e editor do Gazeta, Zé Antônio, para, fiel à semântica, classificar aqueles cajazeirenses, como eu, que deixaram a nossa tão amada terra em busca de novas paragens.

Bem que havia, como há, mas hoje quase esquecido, o belo texto poético do mesmo autor da Canção do Exílio, o imortal poeta carioca Casimiro de Abreu: “Meus Oito Anos”… Quem haverá de esquecê-lo – “Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!”

Mas, o que estou querendo  lhes dizer mesmo é que nós, que vivemos fora do nosso berço citadino, apenas o fazemos em razão de querermos, ainda jovens, tentar voos mais altos, em busca de uma afirmação que preenchesse os nossos vazios. O preço disso tudo é a eterna recordação que vivemos a curtir dos sítios e lugares de nossa infância.

Tudo isso vem a respeito daqueles que, levados pelas circunstâncias, foram viver em outras paragens, mas que sempre retornam para rever o torrão natal. E, dentre esses, lembro-me hoje do meu ex-aluno João Bosco da Silva, conhecido nas ruas da cidade e pelos seus colegas do Colégio Diocesano simplesmente como Bosco Maciel.

Seus pais: José Cardoso da Silva – torneiro mecânico e amante das artes – e Santa Maciel. É o mais velho de cinco irmãos, que viviam ali pelas cercanias do Açude Grande.

O pai o embalou no gosto pelas artes, fazendo-o pintor participante de uma lembrada exposição de seus quadros, se não me falha a memória, no antigo Hotel Oriente. Já nos anos sessenta, gostava de integrar pequenos grupos musicais… Era o início de uma época marcada pelo som dos Beatles e da Jovem Guarda.

A morte de sua mãe, em 1965, começou a despertar nele a vontade de “ganhar o mundo”, o que fez, após servir o “Tiro de Guerra” – na época, TG-243 – , no ano de 1969. Depois de morar em pensões e quejandos, na capital paulista, foi parar em Guarulhos, onde constituiu família (esposa Marli e três filhos).

Daí pra frente, sua vida proporcionou-lhe um belo currículo: formou-se em 1977; passou a se dedicar ao cultivo das artes, tomando como base suas lembranças de figuras pitorescas de emboladores de feira, cegos cantadores, benzedeiras, vaqueiros e demais personagens que fazem o universo folclórico nordestino; em 2005, escreveu, em versos de cordel, a obra “Romanceiro”, livro financiado pelo Projeto ‘Funcultura’ da Secretaria de Cultura de Guarulhos, premiado que foi (primeiro lugar) em concurso público; no mesmo ano, fundou o Instituto Cultural Casa dos Cordéis, onde são montados grupos de estudo e produzidos documentários e peças que apresentam, como pano de fundo, a cultura e os costumes nordestinos. Naquele ambiente, realizam-se saraus musicais e poéticos, bem como a apresentações teatrais de grupos de Folia de Reis, Cavalo Marinho e Cantores Repentistas; em 2007, passou a fazer parte da Academia Guarulhense de Letras; em 2010, recebeu o título de Cidadão Guarulhense. Como não poderia deixar de ser, possui hoje a sua própria Companhia de Teatro de Cordel, promovendo apresentações itinerantes vinculadas à cultura que professa.

Bosco Maciel, cajazeirense exilado por circunstâncias do destino, merece os nossos aplausos, o que faremos quando de seu retorno para breve estada em Cajazeiras, no final do mês de maio, por ocasião dos festejos comemorativos do Centenário de Ivan Bichara. Certamente, os seus amigos de infância irão assistir a alguma sua eventual apresentações cordelista. Seja bem-vindo, nobre amigo!

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