O saudosismo da ditadura, que alguns brasileiros sentem, é alimentado pela crença de que um regime mais militarizado colocaria ordem no Brasil. É também resultado da extrema polarização e alto conservadorismo de parte da sociedade contemporânea, provocando uma esquizofrenia de memória sobre o passado tebebroso em que vivemos após o golpe de 1964. Prepondera o negacionismo de setores que foram beneficiados durante aquele período, recusando admitir as evidências históricas de torturas, prisões arbitrárias e assassinatos praticados pelo Estado.
Percebe-se uma estratégia de fazer com que a população desconheça o que realmente se passou naquela época. O primeiro mandatário da nação dá o mote, quando afirma: “o erro da ditadura foi ter torturado e não matado mais”. Reconhecimento do sistema que impunha violência contra quem se posicionava contra suas convicções ideológicas, mas querendo passar a impressão de que não foi tão cruel assim. Desconhecendo a democracia como assunto relevante.
O processo de redemocratização foi fruto de uma negociação da ditadura com a oposição. Os militares abriram para a democracia, com a garantia de que os algozes seriam anistiados, dando a entender que foi uma concessão dos tiranos de plantão. Tanto isso é verdade que o Brasil é o único país da América do Sul que não puniu os torturadores. Convenceram de que o perdão mútuo entre opositores e militares seria a forma mais adequada para a transição democrática.
Insistem na classificação da tomada de poder pelos militares na década de sessenta como um ato revolucionário que nos livrou do comunismo. Argumento risível. Nunca o país esteve sob a ameaça de se implantar um regime comunista. Na verdade, a partir do golpe passamos a experimentar um tempo marcado pela censura às artes, às notícias e às manifestações culturais, perseguição política e supressão de direitos constitucionais. Algo muito parecido com o que estão tentando fazer no momento atual.
O Brasil, por determinação de lideranças da extrema direita, não consegue fazer as pazes com seu passado. Mas precisamos nos lembrar sempre daquilo que não podemos esquecer. Até para que a História não se repita.
Quando se estar numa ditadura e alguém proclama que quer a democracia sofre o poder autoritário dos déspotas. O direito de opinião e de expressão inexiste. Quando se fala em liberdade de manifestação, não pode ser confundida com ameaças explícitas à democracia e às instituições, como fez o deputado que acaba de ser condenado pelo STF e surpreendetemente indultado pelo presidente da República. São posturas distintas. A democracia não convive com ameaças por motivações ideológicas. Essas são manifestações isoladas que não representam um por cento da população. Os saudosistas da ditadura não passarão. DITADURA NUNCA MAIS.