Os inocentes úteis

Eles sempre existiram, mas parecem multiplicados na sociedade brasileira contemporânea. Os inocentes úteis são como esponjas vivas absorvendo tudo o que lhes é oferecido. São carentes de imaginação construtiva e desprezam o exercício da consciência crítica. Preferem ser conduzidos por lideranças com discursos de falso moralismo, vítimas de uma manipulação social determinada pelos grandes veículos de comunicação a serviço dos poderosos (sistema financeiro, oligarquias, elite dominante).

Os inocentes úteis defendem ardorosamente causas que, muitas vezes, contrariam seus próprios interesses. Mas estão anestesiados pela propaganda que induz um pensamento que lhes levam a menosprezar a busca da verdade. Como integrantes de um rebanho, são guiados na conformidade do que os manipuladores desejam. Acreditam piamente que sendo bom para os patrões será bom para eles. Até porque se enganam pensando que também são patrões. Para eles a realidade é a que está noticiada na grande mídia. Nunca se dão ao trabalho de questionar as informações recebidas, nem se prestam ao exercício do contraditório.

A histeria coletiva provocada pelos inocentes úteis faz explodir o ódio, a agressividade, o medo, o preconceito, a repulsa. Quando o emocional está atingido por esses sentimentos, desaparecem as oportunidades do raciocínio isento de paixões. Passam a ser orientados pelo “canto da sereia” que lhes fizeram estrategicamente ouvir. Assumem posturas travestidas de dignidade, justiça, com a convicção de que estão ao lado do bem.

Importante reconhecer que, na sua maioria, não são pessoas más. Digamos que são ingênuas. Não conseguem enxergar que estão sendo utilizadas como massa de manobra. Suas bandeiras de luta, no fundo, nascem de um amor cívico, embora equivocadas. Não por culpa delas, mas dos que são experientes na arte de manipular consciências.

O grande problema é que essa absorção das ideias que passam a defender, os tornam raivosos, impacientes para o bom debate, provocadores, hostis. Chegam ao ponto de entrarem em litígio com parentes e velhos amigos. É como se estivessem sob os efeitos de uma anestesia que os impedisse de se comportarem com equilíbrio racional. Não os critico, só lamento que não compreendam estarem numa luta contra si mesmos.

Os inocentes úteis vêem o presente sem qualquer vinculação com o passado. Não têm a mínima preocupação com as consequências dos acontecimentos. O pior é que sentem orgulho em serem usados. Defendem ideias sem que as entendam. Os poderosos se alimentam e dependem deles. Nossa sociedade, lamentavelmente, está contaminada por esse tipo de comportamento. Pessoas que aderem facilmente ao pensamento sectário, sem se importarem em exercitar a consciência crítica. São o que na linguagem popular costumam chamar de “bucha de canhão”.

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