O respiro da democracia argentina

Ao completar os 40 anos da redemocratização a Argentina conseguiu superar a ameaça de eleger um governante da extrema direita no primeiro turno. O histriônico que era apontado como favorito, não conseguiu ficar em primeiro lugar na eleição de domingo e vai para a disputa no segundo turno. A resiliência democrática se mostrou fortalecida.

O viés autoritário e a luta contra um “comunismo” imaginário do candidato Javier Milei guarda semelhanças com a postura política do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. O discurso de negacionismo científico e climático, além da forma violenta com que ataca os opositores, marca a retórica da campanha, bem ao estilo fascista, se afirmando com a proposta de um governo que desrespeita a agenda dos direitos humanos. A pauta dos costumes, que é amplamente proclamada no Brasil pela extrema direita, é adotada por ele, tratando de temas como o aborto e o casamento homo-afetivo, num explícito comportamento bem próprio do falso moralismo.

Assim como o ex-presidente brasileiro, Milei procura impor um revisionismo na história, minimizando os crimes praticados pela ditadura militar naquele país, deslegitimando movimentos como “Memória, Verdade e Justiça” e as “Abuelas de Plaza de Mayo”. Chegou a propor a extinção do Ministério das Mulheres, Gênero e Diversidade. Prometeu romper relações diplomáticas com o Brasil e o Vaticano. Tudo muito parecido com o que vivemos nos últimos quatro anos por aqui. O populismo da extrema direita que caracteriza o perfil do candidato Milei, sinaliza o seu desejo de implantar um plano econômico neo-liberal.

A manifestação contra o ódio político, majoritariamente feita nas urnas argentinas, deu um respiro à democracia daquela Nação. Economista, formado pela Universidade de Belgrano, com 52 anos de idade, Milei é natural de Buenos Aires e se declara um “anarco-capitalista”. Usa uma motosserra como símbolo da campanha. Na esfera de segurança defende a desregulamentação do porte de armas e a militarização das prisões. Qualquer similitude com o que se viu por aqui, não pode ser considerada uma simples coincidência.

Quando se lançou candidato à presidência da Argentina recebeu a seguinte mensagem de Bolsonaro: “É um apelo que faço a todos os argentinos: vamos mudar, e mudar para valer, com Milei. Compromisso meu, hein?! Vou para a tua posse”. O deputado Eduardo Bolsonaro que se encontra em Buenos Aires participando da campanha, foi cortado ao vivo de um programa de TV porque propunha a necessidade da população se armar.

O advogado Sergio Massa, da coligação peronista União pela Pátria, é o candidato governista apoiado pelo presidente Alberto Fernández e obteve o primeiro lugar, com 37 por cento dos votos, na eleição realizada no domingo. Ainda que seja apontado como um centrista, mostra-se um político que defende a democracia e no seu plano de governo apresenta várias propostas sociais e econômicas, dentre elas: aumentar o emprego formal e também uma reforma tributária para simplificar a arrecadação. E também , distribuir remédios de forma gratuita, bem como incluir alguns direitos nas leis trabalhistas.

É perceptível, portanto, a diferença entre os dois postulantes que se enfrentarão no segundo turno. Por isso, estou na torcida para que esse “respiro” da democracia na Argentina seja confirmado nas urnas no dia 19 de novembro. Lá, como aqui, DITADURA NUNCA MAIS.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
CLIQUE E LEIA

Causos de papai

Meu pai era uma figura espirituosa. De uma inteligência privilegiada tinha um sincero orgulho de dizer que estudou…
Total
0
Share