O obscurantismo oficial

Foi preciso assistir ao vídeo, para que pudesse acreditar como verdadeira, a informação que me foi passada. Falaram que o presidente da república, num evento evangélico, realizado nesta semana em Anápolis, estado de Goiás, fez pública manifestação de questionamento à eficácia das vacinas que estão sendo aplicadas como proteção à Covid-19. É a explícita prática do obscurantismo oficial. É inaceitável que o negacionismo norteie o comportamento da maior autoridade do país, empenhada em ataques sistemáticos e recorrentes à ciência, disseminando informações que agridem o bom senso. As ideologias não podem contaminar a ciência, por “achismos”, sem base científica.

Espera-se do chefe da nação que seja uma voz ponderada, lúcida, responsável. Quando se nega o conhecimento científico, alimenta-se a cultura da ignorância. Se há um insumo que não pode faltar no combate a epidemias é a informação correta. Então não há como contestar a validade e a importância das vacinas nessa luta contra o contágio da covid-19. Distorcer, propositadamente, a realidade que se evidencia quanto à necessidade de que a população seja imunizada é contribuir para o agravamento da crise sanitária.

A morte, como fatalidade, não é um argumento para que se abandone a determinação em adotar políticas públicas de prevenção e tratamento, da doença que está assustando a todos nós. Muito menos quando essa declaração é feita pelo principal mandatário da nação. Percebe-se o interesse em esconder informações fidedignas da propagação da doença. É nítida, a intenção em desdenhar da sua gravidade. Essa é uma questão de saúde pública que exige o agir responsável dos governantes. 

Essa teimosia em recusar princípios, universalmente aceitos, estimulada por conflitos políticos, tem efeitos danosos para o enfrentamento ao coronavírus, inviabilizando, portanto, a prática de políticas públicas, indispensáveis para zelar pelo bem estar da população. Impressiona o obscurantismo oficial na obsessiva determinação em repudiar os avanços civilizatórios decorrentes do conhecimento científico. Essa “onda” perigosa, assustadora e crescente, liderada pelo presidente, põe em risco a vida de muitos brasileiros.  

O interessante, e até surpreendente pela incoerência, é sua obstinada decisão em boicotar o plano de imunização do próprio governo, quando desestimula os brasileiros a não se “engajarem” na vacinação. O Ministério da Saúde diz uma coisa e ele diz outra. Naturalmente parte da população fica na dúvida em quem acreditar. Seus fanáticos aliados políticos seguem seu exemplo e acolhem a orientação de que a vacina não é a única forma de ficarem imunes ao contágio da doença. Preferem obedecer a recomendação do tratamento precoce.  

A novidade, no seu discurso nessa campanha antivacina a que se dispôs abraçar, é de que as vacinas estão em fase experimental e por isso não têm eficácia comprovada. Ele sabe que isso não é verdade. Todas as vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil foram autorizadas pela Anvisa em caráter definitivo, após passarem por avaliações do órgão regulador que atesta a sua eficácia, qualidade e segurança. Enquanto países do mundo inteiro brigam por vacinar seu povo, aqui temos um presidente que desestimula seus governados a aceitarem os imunizantes que o seu próprio governo oferece. Difícil de entender uma mente dessa. 

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