Nossa Diocese, primeiro Bispo e o Centenário

Sempre fui um homem de família, deveras, como descendente das duas famílias que mais se destacaram durante o período áureo da cotonicultura local, quando o algodão era chamado de rei, e nossa cidade tinha escritórios de duas empresas multinacionais, a Anderson Clayton e a Sanbra, do meu lado materno, os Matos (sob a liderança de Cel. Joaquim Matos), que lideraram o negócio de beneficiamento de algodão e fabricação de óleo vegetal da década de 20 até a Segunda Guerra, e, do lado paterno, os Pires (ou os Galdinos – referência ao prenome de meu avô), que os sucederam desde a década de 40 até que com o advento do “bicudo do algodoeiro” ficou nossa cotonicultura inviável economicamente; tendo toda esta ascendência, e a paciência de ouvir estórias, tive a rara oportunidade de quando criança, ouvir de minha avó, Cecília matos Rolim Brocos (D. Ceci), uma longa estória (que se confirmada, pode virar história), que fazia alusão à chegada e entronização de nosso primeiro bispo diocesano, D. Moisés Coelho. Como me foi relatada há mais de meia década, lembro-me de parcos detalhes.

Me falava ela (eu criança ao pé de sua máquina de costura), que ela presenciou no na qualidade de aluna, ainda adolescente, quando da chegada do nosso primeiro bispo, os rojões encomendados para o evento (que hoje se abusa destes), não foram entregues e a professora da escola das meninas, teve que ensaiar às pressas com suas alunas, entre elas minha avó, um coral, com musicas que aludiam ao lançamento desses foguetes (como era essa musica, sinceramente não me lembro), então o coral das alunas imitando os estampidos, e fazendo os gestos da soltura desses fogos que somente chegariam mais tarde, segundo ela esta apresentação foi um dos pontos altos do evento, sendo muito elogiado. Ela também me falou duas coisas, primeiro da multidão impressionante que se reuniu na Rua padre Rolim para receber o bispo, que o primeiro Palácio Episcopal era onde hoje funciona a gráfica Isabel Cristina e que o então bispo D. Moisés Coelho, após a missa na Catedral diocesana, que hoje é a Matriz N. Sra. de Fátima, este vinha ladeado de dois acólitos, exatamente no meio da rua e os fiéis, que residiam nas casas, saiam de suas calçadas para beijar o anel do bispo, enquanto este fazia seu trajeto… Era a Santa madre, e seu representante local, mostrando todo o seu poder.

Corte de cem anos… Apesar de ver estampado nas igrejas um cartaz de muito bom gosto aludindo às comemorações do centenário da Diocese de Cajazeiras, pelo menos não recebi nenhuma publicação com a programação desse importantíssimo evento, estava eu recolhido ao meu sarcófago (estou virando uma múmia), quando ouvi o espocar impressionante de fogos. Fiquei a tentar adivinhar que evento poderia ser este, como continuavam os fogos a explodir, fiquei pensando, será que o governador chegou? E como continuava a salva de fogos, e como se sabia que Dilma nunca veio (nem deve vir) a Cajazeiras, levantei-me e fui ver o que era, então ao sair, soube e pude participar do final das comemorações do Centenário da Diocese de Cajazeiras, O público naturalmente esteve presente, mas tendo em vista os mais de 300.000 habitantes que vivem na nossa Diocese, e dada a data histórica, posso dizer, em relação a estória de minha avó, sobraram fogos e faltou gente…

Monumental: Cajazeiras ser a sede da diocese representa um raro feito de nossos ancestrais que merece um comentário mais longo, foi uma conquista, que foi exclusivamente nossa, uma afirmação da pujança de nossa cidade no começo do Século passado, que a destacava entre as demais… Depois deste feito, temos a comemorar apenas prêmios de consolação, ou alguma compensação por perdas. O Campus da UFCG, na época UFPB, outro feito memorável da década de 70, poderia ser a exceção que confirma uma regra: As cidades próximas do mesmo tamanho de cajazeiras se articulam bem melhor que nós quando se trata de trazer obras e benefícios para elas, enquanto nossos representantes vivem às voltas com questões menores. Certamente se fosse hoje, somente um milagre poderia fazer com que a escolha da sede diocesana não nos fosse tomada.

O que podemos fazer hoje, é tentar aprender com os vultos do passado, superarmos nossas diferenças paroquiais (Cel. Matos e Major Galdino sequer se cumprimentavam) e quando se tratar de causas para beneficiar a comunidade, se não der para trabalhar junto, não tentar obstacular. Ou seja, agir como qualquer outra cidade normal age.

Graças aos céus chove em nossa cidade, menos mal…

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