Jeremias e a educação das famílias

O causador do espantoso incêndio ocorrido no Magazine Luíza, em nossa cidade, era um conhecido meu, o Jeremias, que outrora fazia ponto em frente à Biblioteca Municipal, lavando carros minha camionete, ele já lavou algumas vezes, mas quem o conhecia, sabia seu apelido (nome de guerra): Nego Nóia. Uma alusão politicamente incorreta a sua cor da pele, e outra alusão preconceituosa, mas verdadeira pelo fato dele ser usuário de drogas, como ele próprio confessou depois de preso como causador de um dos maiores (e mais caros) incêndios que nossa cidade já viu. Motivo, o mesmo que o fez sair de seu ponto de lavagem de carros, ele numa crise de abstinência, quebrou a porta envidraçada de Quirino Advocacia, exatamente pelo mesmo motivo: roubar alguma coisa para trocar por drogas.

Depois do seu primeiro sumiço, eu o encontrei lá pela Zona Sul, com uma Bíblia na mão, tentando me converter a sua seita, que nem me lembro qual era. Pelo resultado, nem ele mesmo se converteu, então fica a pergunta: Os tratamentos que dispomos são realmente eficazes? Aparentemente não, pois o convertido que naturalmente não tinha acompanhamento fora de sua Igreja (não sei qual tem tal acompanhamento), voltou a “pecar” como antes; Não será a primeira nem a última vez que isso vai acontecer.

Tudo isso me lembra de uma conversa com um antigo companheiro de excessos, que hoje parece que conseguiu superar: ele disse que quando era jovem, a família dele dizia que “esses negócios não prestavam” aí ele experimentou, gostou, e chegou à conclusão de que “meus pais eram mentirosos”, que diziam que aquilo não prestava, e ele, como tantos jovens nessa nossa sociedade individualista e excludente embarcaram e ainda vão embarcar.

Não que se chegue a o estágio de Jeremias bebendo o primeiro copo, ou usando o primeiro cigarro ”proibido”, o uso dessas drogas mais pesadas começam com as leves e legais. Me ocorre perfeitamente o primeiro porre que tomei, lá na década de 60, meus pais (e eu tinha os melhores pais do mundo) me deram uma descompostura que até hoje sinto medo, me fizeram jurar que nunca mais eu pegaria numa garrafa.

Depois, como qualquer metido a intelectual, e segundo o médico e escritor Flávio Gikovate declarou numa entrevista à Playboy: “Intelectual é aquele sujeito que em vez de ir p’rá rua procurar mulher, ficou em casa lendo”, a gente na juventude costumava beber quantidades ennoormes das mais variadas bebidas alcoólicas, para ter coragem de tirar as meninas p’ra dançar e nem ligava para as cortadas, chegava sem ser convidado, pulava muro de festa, e um monte de bobagens, e no outro dia, ficávamos achando que aquela era a forma correta de se lidar com essa coisa toda, e nossos pais estavam errados. Mas por traz, oculto, havia o problema que muitos enfrentaram e enfrentam, inclusiva o locutor que vos fala: o alcoolismo, e a bebida foi o trampolim para outras substâncias mais pesadas.

Eu somente depois mais de vinte aos bebendo social exageradamente, vim a saber que seria alcoólatra, quando numa conversa com o saudoso Edmílson Feitosa, dizia que não era alcoólatra pois não bebia todo dia, ele me sentenciou: Pepé, você é alcoólatra, eu também não vivia caindo pelas ruas, apenas gostava, com vocês gostam dos efeitos da bebida, todo mundo que dá valor a afogar problemas ou mágoas na bebida é um alcoólatra, os que vivem bêbados, são uma exceção”. Aí eu comecei a pensar em parar, o que me tirou a sociabilidade que o álcool proporciona, mas me deu em troca, entre outras coisas, o fato de estar escrevinhado para vocês em vez de estar enchendo a cara. O problema das famílias, dos pais até hoje, é que dizem que o queijo (a bebida, as drogas) não presta, enquanto elas deviam alertar para que com o queijo tem uma ratoeira da dependência. Ai os filhos jovens e sem experiência, experimentam, sentem o efeito, e tendem a gostar e fazer um cavalo de batalha contara seus pais, que muitas vezes, por falta de orientação lidam mal com esse problema. Meus filhos aprenderam a não seguir o mau exemplo de seus pais. Ainda bem, mas as famílias também tem que ser educadas, para saber lidar com estes e outrs problemas semelhantes. Jeremias não começou incendiando o Magazine Luiza, começou muito antes, e se tivesse uma família acompanhando, o resultado poderia ser outro.

P.S: Li com grande satisfação o livro “Os Prefeitos de Cajazeiras” de minha amiga Irismar Gomes da Silva, Uma excelente fonte de informações para nossa cidade tão carente.

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