Eudes Cartaxo, com saudade

Cajazeiras deixou de vê-lo em andanças pelo centro da cidade. Quarta-feira, dia 15, ainda viu passar seu corpo a caminho do cemitério. Mas não em seu passo ligeiro, tendo ou não motivos para a pressa. Ia e vinha. Entrava na casa da Avenida Presidente João Pessoa e saia feito um pássaro que vai ao ninho, confere se está tudo em ordem, e volta ao mundo. O mundo de Eudes Cartaxo era a esquina, o café, o calçadão da Tenente Sabino. E o lar. Ou a Coletoria estadual ou o Rotary ou o velho PSD. E as notícias relacionadas com o sertão do Rio do Peixe. De preferência, notícias dos amigos. Que eram muitos.

Algumas amizades foram simbólicas. Os mais velhos sabem de sua dedicação a Otacílio Jurema, sobretudo, nos derradeiros anos de vida, quando o político de maior prestígio em Cajazeiras, no período que vai da Revolução de 30 ao golpe de 64, recolheu-se ao ostracismo em seu casarão, no meio aos cães de estimação. E longe dos homens. Em 1982, Eudes me levou à presença de Otacílio, de quem escutei sinceras avaliações políticas e úteis conselhos, perdido que eu andava, na única aventura eleitoral de minha vida política.

Apesar do sobrenome igual, não somos parentes próximos. A origem, porém, é a mesma. Eudes descende em linha direta do tenente-coronel da Guarda Nacional, Emílio Emiliano do Couto Cartaxo, e eu de um de seus 12 irmãos, José Antônio do Couto Cartaxo, pai de minha avó Ana Antônia do Couto Cartaxo – Mãe Nanzinha. Portanto, o (bisavô de Eudes?), coronel Emílio Emiliano, falecido em 1907, era tio de Mãe Nanzinha, minha avó que, viúva, casou-se com o major Higino Rolim.

O coronel Emílio Emiliano do Couto Cartaxo (que era sogro do coronel Joaquim Matos) exerceu funções relevantes, ainda no Império, e início da República: vereador, presidente do Conselho Municipal, delegado de polícia, suplente de juiz. Elegeu-se deputado estadual, em 1900, na chapa de Epitácio Pessoa, mas foi “degolado” pelo poder, então controlado por Álvaro Machado, em cuja chapa havia outro cajazeirense, o bacharel Bonifácio Moura, pai de dom Zacarias Rolim de Moura. Eudes descende, portanto, da vertente mais política dos Cartaxo, que abriga um irmão do coronel Emiliano, o destacado líder: Antônio Joaquim do Couto Cartaxo, o primeiro juiz municipal da comarca e também o primeiro deputado federal de Cajazeiras, membro que foi da Constituinte de 1891-1892. O segundo deputado federal cajazeirense foi Ivan Bichara Sobreira, eleito em 1954, ou seja, 63 anos depois!

Eudes foi fiel aos amigos. E ao velho PSD de Ruy Carneiro. Daí as perseguições sofridas, removido para distantes cidades, após a vitória de Pedro Gondim, em 1960, na histórica rebeldia do: Está com medo? Não, estou com Pedro. O homem é Pedro.              

Guardo de Eudes imagem de suavidade, a saudação cordial. Até pouco tempo, ao encontrá-lo, antes do abraço vinha pergunta: E o nosso senador? Assim tratava Sabino Rolim Guimarães, o pai, com quem mantinha amizade sincera e forte. Talvez hoje, Eudes não mais o saudasse daquele jeito, tal o grau de desprestígio a que reduziram o senado da República. Cajazeiras não mais o verá em seu passo ligeiro pelas ruas do centro. Por isso, me deu vontade de fazer este registro, com saudade.

Nota: Crônica publicada em julho de 2009, após a morte de Eudes Cartaxo, em 14/07/2009, com 85 anos. Eudes era irmão de Rosilda Cartaxo, patronesse da ACAL.

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