É uma questão de tempo

Percebe-se que boa parte da sociedade brasileira continua impaciente na expectativa do desfecho final dessas investigações sobre os atos antidemocráticos que culminaram com a barbárie praticada no dia 08 de janeiro do ano passado na Esplanada dos Ministérios em Brasília. É um estado que beira a ansiedade. O emocional brigando com a realidade.

Precisamos acreditar nas instituições responsáveis por dar curso a uma persecução criminal acertada. O sistema judicial está agindo, embora não aconteça na velocidade que muitos desejam. A blindagem que existiu até a posse do atual Procurador Geral da República, sem dúvida alguma, retardou os procedimentos legais que se faziam necessários. Observamos agora mais celeridade no prosseguimento das investigações.

O Ministro Alexandre de Moraes, do STF, tem tido o cuidado de conduzir o processo com a devida prudência para que não se cometam os mesmos erros da Operação Lava Jato. A justiça apressada em punir, pode perder a sua imparcialidade e decidir em desfavor da legalidade. É verdade que criticamos muito a lentidão do judiciário na análise dos processos sob a sua jurisdição. As vítimas e os oprimidos sentem isso na pele. Porém, no caso em questão, toda cautela é importante. Afinal de contas, o caso está no olho de um furacão. Qualquer deslize pode colocar tudo a perder.

É inegável que o povo brasileiro reclama urgência da Justiça. Mas ao juiz convém pensar no direito dos réus, evitando tomar posições que acarretem, no futuro, anulação de suas sentenças, como aconteceu recentemente. Há que se trabalhar no sentido de oferecer um julgamento justo em respeito aos fatos, livre de pressões ou ameaças, permitindo ao magistrado a liberdade de exercitar a sua livre convicção de como melhor resolver o caso sob sua apreciação, com isenção e serenidade.

Casos de repercussão política como o que estamos analisando, não podem ser submetidos à mera vontade popular. Principalmente, num clima de paixões político-ideológicas como a que estamos vivendo no momento. São milhares de documentos, depoimentos, petições e argumentos que compõem o processo, alem de uma infinidade de fatos e circunstâncias que demandam a aplicação dos diversos institutos jurídicos a cada ação. O Ministro Alexandre de Moraes, corajosamente, tem sabido enfrentar essa situação, julgando em conformidade com a sua consciência, fundamentado, sempre, em razões jurídicas. Pressionar um juiz a decidir apressadamente, ao agrado de parte dos que estão na contenda político-partidária, evidencia o desprezo pelo Estado Democrático de Direito.

Os golpistas estão sendo punidos, graças ao papel bastante ativo que as instituições republicanas vêm assumindo, em especial o Supremo Tribunal Federal. O que muitos querem é que não haja impunidade. Sejam responsabilizados penalmente todos os que atentaram contra a democracia, pobres ou ricos, financiados ou financiadores, mandados ou mandantes, civis ou militares, até chegar às lideranças que incentivaram tudo isso. É uma questão de tempo.

Sei que tem muita gente sem acreditar que os figurões sejam punidos. São os impacientes. A esses recomendo calma e confiança. Os caminhos da Justiça estão sendo percorridos com responsabilidade, na compreensão de que as decisões a serem tomadas se tornam essenciais para estancar os movimentos golpistas que ainda perduram.

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