Desembargador Bôtto de Menezes

Na mais tenra idade, quando eu ainda circulava entre os bancos do Grupo Escolar Monsenhor Milanez e do Grêmio Artístico Pedro Américo, buscando a minha identificação escolar num desses dois estabelecimentos educacionais, tinha dificuldade em aprender direcionar-me quanto aos pontos geográficos – Norte, Sul, Leste e Oeste.

O que, de fato, aprendi logo foi me posicionar com relação aos pontos orientadores, não orientais, da cidade. Igualmente, eram quatro esses pontos: saída para João Pessoa, pela Rua do Posto; para o Ceará, pelo Posto dos Veados; para Rio Grande no Norte, pelo Alto do Cabelão; e para Jatobá (atual São José de Piranhas), pela Rua das Capoeiras. Assim, embora não estivesse muito seguro do meu saber, ficava mais fácil de orientar. Na minha imaginação infantil, esses deveriam ser os tais Pontos Cardeais.

Mais tarde é que aprendi que a rua que me via sair para estudar na Capital, realmente se chamava Rua Desembargador Bôtto (grafia da época). Mas, quem seria este? Somente depois é que vim a saber.

O Desembargador Dr. Gonçalo de Aguiar Bôtto de Menezes nasceu no engenho Mato Grosso, município de Divina Pastora, da então província de Sergipe, em 25 de setembro de 1843. A sua procedência familiar origina-se, pelo lado materno, da província de Évora, em Portugal.

Fez os estudos primários em Aracaju-SE, os secundários em Salvador-BA e a formação superior (Ciências Jurídicas e Sociais), na tradicional Faculdade de Direito do Recife-PE. Depois de formado, exerceu vários cargos jurídicos e políticos no seu Estado natal, quando fez amizade com o conhecido poeta romântico/condoreiro, sergipano Tobias Barreto, cuja uma das filhas chegou a desposar um dos seus filhos, do primeiro matrimônio, de nome Gonçalo Ladislau de Aguiar.

Dentre os vários cargos e funções exercidas por Gonçalo de Aguiar Bôtto de Menezes, algumas merecem destaque: Deputado Constituinte, Promotor Público, Diretor da Instrução Pública (atual Secretaria de Educação e Cultura) e Chefe de Polícia (Sergipe), Juiz de Direito (São José de Tocantins-GO, Campina Grande e Mamanguape-PB), Chefe de Policia (Pará), Desembargador do TJ/PB.

A partir de 17 de abril de 1887, deu continuidade à sua careira jurídica de magistrado, aportando na Comarca de Cajazeiras, tendo, desde logo, convivido amistosamente como amigo do Padre Rolim, com quem, constantemente, trocava ideia. Ainda na Paraíba, integrou o Tribunal de Justiça, como desembargador, a partir de 30 de maio de 1899, tendo exercido a atividade jornalística, como colunista de “A União”, “A República”, “O Estado da Parahyba”, “O Combate”, e da revista “Era Nova”, entre outros. Foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, instalado em 7 de setembro de 1905.

Depois de enviuvar, em primeiras núpcias, contraiu matrimônio, em Cajazeiras, com a nossa conterrânea Maria da Piedade Marques do Nascimento (depois) Bôtto de Menezes, tendo sido gerada uma prole de nove filhos, incluindo, aí, Maria da Penha (conhecida como Galantinha), mãe do Prof. Itapuan Bôtto Targino, renomado mestre paraibano e que foi, durante algum tempo, diretor da antiga Escola Técnica Federal da Paraíba (atual Instituto Federal da Paraíba/IFPB), e hoje faz parte do corpo de membros da Academia Paraibana de Letras e do IHGP. Dentre os filhos do Des. Bôtto de Menezes, merece destaque no cenário nacional o Deputado Federal Antônio Bôtto de Menezes, representante da Paraíba, como atuante na Constituinte Federal de 1934.

Em João Pessoa, o Desembargador Bôtto de Menezes residiu no sítio de sua propriedade, localizado em Tambiá, já nas proximidades da antiga estrada de Mandacaru, onde veio a falecer em 10 de maio de 1930. Seu corpo descansa no cemitério Senhor da Boa Sentença, na Capital paraibana.

Ao que nos consta, duas homenagens são prestadas ao insigne magistrado: Rua Desembargador Bôtto (a tal Rua do Posto) e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Des. Bôtto de Menezes em nossa cidade, e uma outra escola homônima, no bairro 13 de Maio, na Capital, localizada nas proximidades de sua última residência.

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