“Coração de Estudante”

Em janeiro de 1984, num dos memoráveis comícios da campanha das “Diretas Já”, Milton Nascimento cantou essa canção juntamente com mais de sessenta mil vozes. Ele havia composto essa música no final de 1983, em parceria com Wagner Tiso, e se tornava o hino daquele movimento político. No funeral de Tancredo Neves, primeiro presidente eleito após a ditadura, a Rede Globo colocou a música “Coração de estudante” como fundo musical na cobertura jornalística daquele acontecimento, causando comoção nacional. A letra fala, sobretudo, da esperança que tomava conta dos corações de todos os brasileiros, em especial a juventude, que ansiava pela liberdade e pelo retorno à democracia em nosso país.

“Quero falar de uma coisa/adivinha onde ela anda/deve estar dentro do peito/ou caminha pelo ar… Pode estar aqui do lado/bem mais perto que pensamos/a folha da juventude/é o nome certo desse amor”.

A canção tem início procurando falar de algo que estava no peito de cada um de nós brasileiros naquele momento da nossa história: a esperança, a vontade incontida de voltar a respirar os ares da liberdade. Havia um sentimento coletivo de entusiasmo, ânimo, coragem de enfrentar os ditadores e clamar por um novo tempo em que voltássemos a escolher nossos governantes.

Os movimentos de contestação ao regime foram sempre mobilizados pela juventude. Era através dela que a população se manifestava. Com os estudantes nas ruas, juntamente com intelectuais e artistas, o povo transmitia seu desejo de colocar um fim aos anos sombrios da ditadura que havia se instalado em nosso país. Daí a canção exaltar que esse amor patriótico que ardia no nosso peito era a “folha da juventude”.

Os ditadores sufocaram nossas aspirações, destruíram muitos dos nossos sonhos, fizeram mudar nosso destino. “O sorriso se escondeu”, a alegria tão própria da juventude, no seu entusiasmo fascinante pela vida, foi transformada em tristezas, preocupações, medo.

De repente surgia uma luz no fundo do túnel. O Brasil acordava e ganhava as praças públicas desejando sair da escuridão da ditadura. Era preciso então “cuidar do broto”, fazer germinar aquela vibração contagiante da mocidade, empunhando a bandeira da redemocratização. Fazer com que aquela semente produzisse “flor e fruto”. Não perder a oportunidade de fazer a história.

A música faz lembrar que está nas mãos da juventude o futuro do mundo, e, por isso, precisamos cuidar sempre do “coração de estudante”, porque nele moram sonhos, ideias, projetos, planos. Basta que ofereçamos nosso estímulo e nossa experiência de vida como contribuição. A unidade como elemento determinante para as conquistas almejadas e o espírito de fraternidade no compartilhamento dos sonhos e das alegrias. Corações jovens alimentados pela fé no amanhã que pretendiam construir.

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