Carnavais – os de antes e os de agora

Estive Com Ubiratan de Assis, um dos homenageados desse carnaval, e nem chegamos a discutir bastante sobre o tema, mas o que a gente ia conversar era o seguinte: dos tempos do lança -perfume (legal – de contrabando ainda hoje se pode achar) até hoje, mudou muito a concepção do que seria carnaval, bem como o entendimento de comportamento da sociedade como um todo, sem querer a panaceia geral – essa não existe, tento fazer alguma comparações.

Primeiro, já vai longe o tempo em que eu Ubiratan e nossos contemporâneos brincávamos nas ruas de Cajazeiras. A gente tinha que formar uma batucada, ou achar uma casa que tivesse som, ou nos contentarmos com os sonzinhos michas de nossos fusquinhas, em nada comparável aos paredões de som que hoje divertem, ou parece que se divertem estourando seus tímpanos, como na Pça. Major José Marques.

Sinceramente não consigo nem saber o que se está tocando, nem qual é a graça. Mas pode ser que seja somente saudosismo, a saudade de ter um Nego Barrufa tocando pandeiro para a gente (alguns afortunados da sorte); ir ao Jovem Clube e ter sua camisa rasgada na Terça-feira de carnaval, que a gente como sabia escolhia a pior camiseta, e Pedro Revoltoso ficava na porta dizendo para as meninas usarem a parte de cima de biquíni, e proibindo e entrada de quem não tivesse a caráter (podendo ter sua camisa rasgada). Os farrapos eram jogados nos fios em frente ao clube, uma estranha ornamentação. Isso podia ser considerado pela garotada de hoje de mau gosto, mas era divertidíssimo. Sem tecnologia, mas a cachaça igualava tudo, esse item exatamente como hoje.

Agora, o avanço da tecnologia, e a mania de ostentação alimentam os carnavais de hoje. Na minha opinião, em demérito da criatividade, pois quem tiver recursos para bancar, e um bom técnico de som, pode ter seu paredão, sem ter que aprender o tempo de um surdo, tocar tarol, pandeiro, tamborim, nada, nem bom gosto, somente grana. Mas o tempo muda os valores e o que a garotada de hoje quer, deve ser o que a gente queria antes: pegar as gatinhas. Agora, com as leis anti-homofobia de agora, pode ter mudado. Não creio…

Agora o problema – e isso eu conversei com Bira – é que a gente já está em tempo de ser substituído. Em pouco, a gente vai virar (eu parece que já virei) velho, mas não aparece a nova geração criativa, ousada, e contestadora que a gente já foi, parece que tudo se nivelou por baixo, e se resolve em quem tem o maior som, o mais potente gerador, e como no nosso tempo, que insiste em não passar, quem tem o mais grana. Ficou apenas numa mania de dizer quem tem mais poder de som, uma guerra contra a saúde de nossos ouvidos.

A primeira vez que vi isso foi na Bahia, quando tive próximo a um trio elétrico de lá e saí zonzo, achei que isso ia chegar a Cajazeiras, mas o pessoal de Olinda achava que o frevo de sopro (que a gente ouvia na Manaíra de Mozart ou na Chaveron de Zeilto Trajano), ainda tinha muito tempo à frente. Ficou aqui restrito à Pracinha do Frevo e aos saudosistas, e seus sucessores são o Forró Eletrônico, e as novas bandas. Agora, música mesmo, letra, coisa audível, sinceramente fico com o passado, mas a turma se diverte, e isso parece que não mudou.

Se for assim, a gente ter que se adaptar aos novos tempos. Eu particularmente não vejo sucessores à nossa altura, nem a dos carnavais do passado, que Dr. Sabino Rolim contava sobre os da década de 40 em Recife: o frevo de rua, dava inveja em ouvir. Vendo o Galo da Madrugada de hoje, acho que aquele tempo passou até na Capital do Frevo…

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