A Rua da Rodagem

Houve por bem o colunista abordar hoje um tema/assunto que, noutros tempos, seria inviável fazê-lo, mormente pelos hábitos, costumes e cultura da época. Hoje, a permissividade, em quase todos os aspectos, inclusive de natureza sexual, é algo patente e da qual se fala abertamente, sem nenhum constrangimento. O tempora, o mores!

Os tempos mudaram, e nós vamos mudando com ele; caso contrário, ficaremos “vendo o bonde passar”, sem que o acompanhemos. Em qualquer pequena cidade do interior e, em Cajazeiras, não poderia ser diferente, proliferam os motéis, como um ostensivo convite à promiscuidade sexual.

Como falei no início, noutros tempos a coisa era bem diferente!… A chamada Rua da Rodagem era uma via proibida. Tanto é que nós, crianças na época, quando tínhamos que ir à Rua das Capoeiras ou ao Açude Quebrado, fazíamos uma volta danada a fim de evitarmos passar pela referida via pública.

Explico-me melhor: a hoje importante Rua Engenheiro Carlos Pires de Sá, naqueles tempos era conhecida apenas como Rua da Rodagem e era o foco/polo dos prazeres carnais. Situava-se ali o famoso cabaré da cidade, lugar aberto, dia e noite, de segunda a segunda, aos aficionados. Tanto é que quem se dirigia àquele ambiente subia pela Rua Padre José Tomaz, transitava pela Praça dos Espinhos e rumava pelo oitão do Cemitério Coração de Jesus em busca do lupanar, do rendez-vous.

O trajeto era feito de modo precário: nem todos os frequentadores do ambiente possuíam veículos e, assim, tinham que se locomover a pé ou servindo-se dos antigos jeeps, que eram os únicos veículos disponíveis na Praça dos Carros. (Diga-se de passagem que, dentre os “carros de praça”, ao que eu me lembre, havia apenas o de Guilherme e de Chico de Aprígio (?!).

Pois bem! Aos frequentadores, era necessário “pisar macio” e andar depressa, para que não fossem observados pela comunidade habitante das cercanias. Como não havia ainda as famosas matinais dançantes dominicais do Clube 1º de Maio, onde os habituées do cabaré costumavam deglutir suas cervejinhas – que ninguém é de ferro!” – esses faziam do domingo pela manhã uma “procissão” em busca das mulheres de vida fácil (nunca vi vida tão difícil!) e ali ficavam até o início da noite, no mínimo “molhando a goela” com uma “geladinha”.

Como este cronista morava na Rua 13 de Maio e havia poucas habitações por ali, dava pra ver os “ilustres visitantes do cabaré” em busca do seu destino. (Na minha mente, ainda circulam as fisionomias desses personagens de nossa sociedade, mas cujos nomes me recuso terminantemente a decliná-los, por respeito aos seus descendentes.) Reza a estória que foi o Dr. Otacílio Jurema quem, atendendo a um pedido do Frei Damião, em uma de suas famosas “missões” , arquitetou a mudança do cabaré para a tradicional “Paia” , lá pras bandas do Sete Candeeiros.

Hoje, toda a antiga Rua da Rodagem apresenta um notório movimento comercial, estendendo-se para as bandas da Camilo de Holanda e desembocando lá pelo antigo Posto dos Veados, na confluência com a Rua/Bairro de Santo Antônio.

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