A retórica do ódio

É impressionante a fidelidade canina com que algumas pessoas seguem líderes que se mostram violentos nos seus discursos e nas suas ações. É um fenômeno que resulta de uma manipulação psíquica coletiva. A retórica empregada por esses militantes tem origem num “sistema de crenças”, idealizado por Olavo de Carvalho, considerado o ideólogo desse movimento político da extrema direita. O interessante é que boa parte dos que integram esse grupo tem boa formação cultural, porém, aceita apaixonadamente a concepção de que o mundo se divide em dois: o deles, aqueles que são cúmplices nas falas e atitudes, e o dos que são apontados como inimigos internos que precisam ser eliminados.

Os discursos produzidos demonstram, não só uma adesão ao autoritarismo, como também uma postura fundamentalista, uma vez que não admitem a presença da alteridade. Estabelecem a pauta maniqueísta do bem contra o mal, no entendimento de que eles representam o bem. Para eles o pensamento crítico é classificado como um mal, pois são resistentes à convivência com o contraditório.

Há uma frase de Freud que bem define esse fenômeno da retórica do ódio: “As paixões movidas por instintos (pulsões) são mais fortes que os interesses ditados pela razão”. As relações sociais no Brasil estão sendo atingidas por esse espírito beligerante que nasce dessas manifestações políticas. A internet torna-se a ferramenta ideal para canalizar toda essa pulsão agressiva, incentivando as mais absurdas atitudes violentas.

Ainda é Freud que classifica esse comportamento como “narcisismo das diferenças”. O amor narcísico que impera num grupo fanático, direciona o sentimento de ódio para o outro, o diferente. Vivemos, por conta disso, num país cindido pelo ódio e pela intolerância. Ao invés da união, o interesse é promover a confrontação. É o “nós” contra “eles”, impossibilitando o debate civilizado. Quanto mais dividido um país, mais fraco ele fica. O fanatismo, estimulado e armado, ameaçando a democracia.

A sociedade brasileira encontra-se em transe. Vivemos uma guerra cultural que se alimenta de uma necessidade intrínseca de inventar inimigos em série. A ética do diálogo sendo abandonada. Percebe-se uma intensa proliferação de teorias conspiratórias, com o objetivo de promover um ativismo que nega o sistema político como um todo. Impõe-se uma visão bélica do mundo, para justificar projetos armamentistas da população. O deficit cognitivo e o analfabetismo ideológico mobilizam e excitam as massas digitais que assumem a retórica do ódio. O sentido de desumanização nela contido dá a senha para a prática da violência, procurando manter uma militância extremista permanentemente instigada para o conflito.

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