A Paraíba, uma grande Cajazeiras

Meus caros: nossa Paraíba sempre teve, historicamente, representantes que sempre se destacaram no cenário político nacional. Nossos representantes, excetuando Epitácio Pessoa e José Américo de Almeida, que a gente pode considerá-los de outra galáxia: um foi Presidente da República e outro, só não o foi por causa do golpe de 1937. Todos os outros sempre foram representantes muito dignos de nosso estado perante a nação; porém, em termos práticos, o de trazer obras estruturantes para nosso estado, por diversas razões que “vêm ao caso”, essas obras não chegam até nós ou, se chegam, são diminuídas.

Temos como caso paradigmático o famoso caso do “Porto do Capim”, em que o presidente Epitácio Pessoa esperava que legasse seu estado natal com um porto decente para acolher navios com mais facilidade, sem ficar dependente do porto de Recife. Então nossos “diligentes e dinâmicos” representantes locais recebiam as verbas e mandavam para o presidente fotos do porto de Belém. Quando soube da ignomínia, nosso maior conterrâneo abjurou sua terra natal e pediu para não ser enterrado “nessa terra de homens falsos” e foi enterrado no Rio de Janeiro, até que, segundo me recordo, no governo João Agripino seus parentes foram convencidos a transladar seus restos mortais para cá. Mas as grandes obras estruturantes no interior foram executadas, como o sistema Engenheiro Avidos e São Gonçalo, Coremas e Mãe D’água. O açude Boqueirão de Cabaceiras, que leva seu nome, foi construído na década de 1950.

Mas depois desses dois monstros oriundos do nosso estado, vieram Ruy Carneiro, João Agripino e outros que abrilhantaram os ambientes de nossas capitais. Eram grandes oradores, tinham uma significativa participação em nosso cenário nacional, mas, quando era para trazer as grandes obras estruturantes que nós precisávamos e até agora estamos precisando para explorar adequadamente nosso potencial, esses próceres da República não olharam para seu estado natal como um estado a ter uma dinâmica própria e não ficar a ser apenas uma extensão de Pernambuco.

Vou contar uma ocasião que vivenciei. Quando era o tempo da entressafra do algodão, eu cheio da mesmice de Cajazeiras, ia para Goiás e para Brasília e visitava os salões do Congresso – quando era o auge de Ronaldo como senador e Humberto Lucena era o Presidente do Senado. Eles raramente me recebiam, pois tinham umas reuniões de lideranças e outras atividades relacionadas a direção de seus partidos e bancadas, que não podiam receber os seus eleitores em Brasília. E eu sempre com algum projeto para trazer alguma obra para cá, como uma sede da Embrapa para estudar a fauna e a flora da caatinga, pois o ciclo do algodão estava nos seus estertores. Deixava com algum assessor e era imediatamente engavetado ou passado na “máquina de fazer confete”. Assim como acontece em minha cidade. Eu, numa ocasião em que estive com o Dr. Antônio Carlos Escorel, Chefe de Casa Civil do Governo Burity, perguntei a causa dele nunca ter construído nada em Cajazeiras. Sua resposta me desconcertou: porque o prefeito da época, quando perguntado por ele o que queria, pedia para que um apadrinhado seu fosse nomeado para tal cargo, no que era atendido. Foi por causa dos seus políticos e não por má vontade de nossa parte.

E assim continua até hoje. A Paraíba tem o lugar mais adequado do Brasil para se construir um porto de águas profundas. É o lugar onde a plataforma continental mais se aproxima do litoral. Um projeto de um ramal da ferrovia Transnordestina foi proposto pelo então senador Vital do Rego Filho, mas foi retirado do Plano Plurianual já no primeiro governo Dilma e nenhum dos nossos representantes nas duas casas protestaram. Ao que eu, com toda a minha ignorância saiba: então existem os ramais para o porto de Suape, Pernambuco, para Mossoró, e a Paraíba vai continuar a ser um apêndice de Pernambuco, como sempre, e nossos representantes a se pavonear nas lideranças do Congresso, sendo afagados com cargos e outros mimos ridículos.

Pois é: a política atrasada de minha cidade tem contaminado o estado, ou vice-versa.

Lamento profundamente.

1 comentário
  1. Saulo Péricles Brocos Pires Ferreira.
    De muito antigamente, meu colega Pepé do Colégio Estadual de Cajazeiras.
    Colega, porque nunca chegamos a ser amigos. Não costumo tecer comentários sobre postagens na NET, principalmente, quando inteligentes e mordazes. Acho que a idade tem me deixado cada vez mais descrente dos políticos de Pindorama.
    E lhe digo mais: Isso nunca vai mudar! Você é conhecedor das manhas da Boa Terra Cajá. Sabe disso. mARCOS dINIZ

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