A Paraíba reagiu

A notícia de que a cineasta Tisuka Yamasaki iria colocar em filme a estória do livro “Anayde Beiriz – Paixão e Morte na Revolução de 30”, de autoria do paraibano José Joffily, provocou uma reação de protestos na Paraíba. Não em razão do tema a ser explorado, mas pelo título escolhido: “Parahyba Mulher Macho”. Havia um entendimento de que era ofensivo ao conceito das paraibanas, dando-lhe um sentido pejorativo que insinuava um padrão de comportamento bem diferente da marca de feminilidade característica da mulher nascida na Paraíba.

O presidente do Conselho Estadual da Cultura, Higino Brito, em julho de 1981, endereçou correspondência ao Presidente da empresa estatal responsável pela organização e divulgação do turismo na Paraiba, a PBTUR, o escritor e jornalista Luiz Augusto Crispim, manifestando a posição unânime dos conselheiros contra o nome que Tisuka decidira dar ao filme inspirado na obra de José Joffily. Na carta ele coloca: “Não sei de quem foi a lembrança para o batismo do filme. Sei apenas que o título é lamentável, de rara infelicidade e de integral mau gosto. Projetará uma imagem negativa da mulher paraibana e do próprio Estado”.

O presidente da PBTUR acompanhou o sentimento de contrariedade com a denominação do filme e pronunciou-se a respeito. “Não é nossa intenção vender a imagem da Paraíba à base de bizarrias. Recusamos o grotesco modo que se propõe no filme, como já recusamos a formação da imagem turística do Estado à base da matança das baleias. Não contesto a importância histórica de Anayde Beiriz, retratada no livro de José Joffily. O que se contesta é a forma grosseira como Tisuka achou de intitular a obra, levantando unanimidade dos paraibanos contra tamanha apelação. Pois até do ponto de vista das minorias sexuais a expressão parece pejorativa”.

O governador Tarcisio Burity, também incomodado com o título do filme, desautorizou que fossem rodadas cenas da posse e funeral do Presidente João Pessoa, no Palácio da Redenção e na Praça João Pessoa. A cineasta teve que tomar como cenários desses acontecimentos históricos a Praça da República e o Palácio Campo das Princesas, em Recife.

Entretanto, as reclamações não produziram efeito. O filme foi lançado em 1983, dois anos depois dessas manifestações de protesto, mantido o título que causou tanta indignação dos paraibanos.

O fato é que essa pecha de “Paraiba Mulher Macho”, nasceu de uma música feita por Humberto Teixeira com a intenção de homenagear o Estado por sua participação corajosa num movimento que transformou a história da nação brasileira. Como o nome Paraiba é feminino, ele cunhou a expressão “Paraiba Masculina, Mulher Macho sim senhor”, sem qualquer insinuação maldosa ao comportamento sexual das paraibanas.

Infelizmente, por obra e graça do preconceito que ainda perdura contra o nordestino, a expressão ganhou conotação depreciativa. O filme, então, viria reavivar essa interpretação insultuosa que se faz à graça e a beleza das paraibanas.  No entanto,  a mulher paraibana continua encantando pelo charme, faceirice e formosura, apesar dos preconceituosos.

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