A liturgia do cargo

Os ocupantes de altos postos, especialmente em funções públicas, devem ter ciência de qual deva ser o seu comportamento enquanto estiverem no exercício de suas funções. É o que se chama de “liturgia do cargo”. Afinal de contas eles são representantes do povo, alçaram à condição de liderança por delegação popular. A representatividade demanda, portanto, compreensão da responsabilidade que carregam sobre os ombros. Precisam evitar exageros e posturas aéticas e ridículas enquanto estão na posição de quem governa.

Devem tratar com civilidade a todos. A autoridade que lhes foi delegada não dá o direito de serem agressivos com quem quer seja.

Um chefe de governo deve preservar a dignidade do cargo, assumindo uma conduta de estadista, de forma a valorizar a eminência das altas funções que está autorizado a desempenhar. Os rituais litúrgicos devem ser cumpridos externa e internamente. Em outras palavras, num ambiente público, ou, até mesmo, em cenários de sua intimidade. Tem que ser um disciplinado em tudo o que faça, pois torna-se um exemplo para os seus comandados. Requer, então, cuidado na maneira como se expressa ou como se apresenta publicamente, garantindo a imagem de alguém que honra as elevadas missões do cargo que ocupa. Quanto maior o cargo, maior será a exposição. Homens públicos que desconhecem essas regras de procedimento, revelam-se, aos olhos da população, despreparados para representa-la.

A informalidade desmoderada não representa a afirmação de simplicidade, mas sim de uma estratégia primária de querer se colocar como igual aos seus governados. Isso é demagogia barata. O povo não aplaude, nem respeita, esse disparatado comportamento. Na verdade, manifesta-se envergonhado na sua representatividade.

Mas não são só as autoridades que se obrigam a cumprir os ritos da liturgia do cargo. Seus familiares também. O mau comportamento de integrantes de suas famílias, respinga no conceito do chefe do clã, eventualmente galgado a uma posição de destaque nas organizações sociais e políticas. Práticas, normas e rotinas, de todos os que gravitam em torno das autoridades, são observadas pela opinião pública.

O exercício de atividade pública é impessoal. A liturgia do cargo é um marco do republicanismo, como chegou a dizer o jurista e advogado Eugênio Aragão. Padrões de comportamento que fogem a esse princípio da liturgia do cargo, põem em risco o governo nas instituições.

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