A democracia resistiu

Uma das mais inaceitáveis consequências de um golpe de estado é a decomposição moral das instituições republicanas. O ataque aos fundamentos democráticos da nação representa a destruição do sentido social que a Constituição de 1988 nos legou. É um ato que ultrapassa os limites do bom senso e da razoabilidade, evidenciando a falta de escrúpulos e a indecência. Daí porque se torna incompreensível ver alguém que possua o mínimo de consciência cívica, verbalizar e agir defendendo ações de ruptura do Estado Democrático de Direito.

Os saudosistas da ditadura militar, nos últimos anos, saíram do armário e se integraram a essa insana e irresponsável campanha de ameaças à nossa democracia. É inacreditável que exista quem se decida entrar no jogo político do golpismo. A barbárie sendo aceita como algo normal, com parte da sociedade imersa na letargia de suas próprias crises, se desobrigando das lutas pela cidadania, pelos direitos, pela justiça e pela liberdade.

Compactuar com essa inércia é oferecer o benefício aos inimigos da democracia. O Brasil precisa de esperança. Os trabalhadores necessitam de oportunidades de emprego. A população idosa carece de amparo. Famílias inteiras estão em busca de alimentos para vencer a fome. A sociedade brasileira exige políticas públicas voltadas para uma melhor oferta de saúde, de educação e de segurança. A nação quer que reine a paz entre os compatriotas. Nada disso se conquista sem que vivamos a plena democracia. E ela resistiu.

Impressiona observar pessoas negando evidências históricas de violências, torturas e terrorismo de Estado, praticadas pelos governos ditatoriais no século passado. A política da censura blindando a população de ficar sabendo o que estava ocorrendo nos porões da ditadura. Ainda há quem argumente que a redemocratização foi uma concessão por parte dos militares e, por isso, se sentem autorizados a romper essa anuência de outrora sempre que acharem conveniente. Mais espanto causa ver parte da sociedade civil admitindo essa possibilidade, no delírio de encontrar o “fantasma vermelho” para justificar um renovado golpe, na ideia equivocada de que só os fardados são capazes de garantir a ordem e o progresso do país.

O papel da História é fazer com que nos lembremos daquilo que não podemos esquecer, de forma a que possamos atuar ativamente de acordo com a realidade contemporânea. Que nunca mais vivamos o que aconteceu no dia 8 de janeiro.

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