As fontes termais do Brejo das Freiras, na Região Metropolitana de Cajazeiras

A Estância Termal de Brejo das Freiras, localizada na zona rural de São João do Rio do Peixe (PB), em pleno sertão paraibano, distante 9km da sede municipal e 478Km de João Pessoa, é considerada como estação balneária de significativa importância, tanto para a região quanto para o Estado, pelo seu grande potencial turístico.

Ao longo do ano, a estância recebe a visita de turistas não só das comunas circunvizinhas, mas também de outras cidades mais distantes, tais como: Recife, João Pessoa, Fortaleza, Natal e Campina Grande que se dirigem ao local em busca de repouso e lazer, bem assim dos poder curativo de suas águas sulforosas,  cuja temperatura oscila entre 35 e 37 graus centígrados.

A estância dispõe de um hotel com capacidade para 150 pessoas, além de uma estrutura que consta de salão de convenções; 45 apartamentos confortáveis, todos climatizados e equipados com frigobar, circuito fechado de televisão e telefone; restaurante com cozinha regional; biblioteca; salão de jogos; serviço de Internet. Além disso, conta com  parque aquático, banheira térmica, duchas térmicas, balneário dos hóspedes, quadra poliesportiva, quinze chalés, capela e um campo de pouso para aviões de pequeno porte, entre outras coisas que fazem do local um paraíso em pleno sertão.

Quem primeiro chamou a atenção para as virtudes terapêuticas das águas do Brejo das Freiras foi o conhecido clínico sertanejo Dr. Fausto Meira de Vasconcelos, em fins do século XIX.           

No ano de 1921, na gestão de Epitácio Pessoa, então presidente da República, era iniciada a construção do açude de Pilões, com o sangradouro na cota de 268 metros, o que faria submergir inteiramente o local das fontes termais, inutilizando-as para sempre. Para salvá-las, reduziu-se a capacidade de água armazenada – de 350 milhões de metros cúbicos para l3 milhões. Na época, o governador do Estado era Sólon de Lucena.        

Em 1932, o governo de Antenor Navarro, entusiasmado com a importância das termas, desapropriou as terras das freiras, através do Decreto 278, de 22 de abril do mesmo ano, considerando-as de utilidade pública. O arquiteto Nestor Figueiredo estudou um plano urbanístico e o Interventor do Estado abriu créditos para a execução de seu programa. Mas, com a morte de Antenor Navarro, ocorrida a 26 de abril de 1932, a ideia foi abandonada.

Em 1933, Gratuliano de Brito, Interventor do Estado, interessado pela criação da Estância Termal, autorizou a realização de estudos complementares, ficando confirmado que as águas termais tinham origem filoniana e subiam até  à superfície através de uma profunda fratura geológica, constituindo manifestações de antigas atividades vulcânicas.

A convite de Gratuliano de Brito, Getúlio Vargas, o então presidente da República, e o ministro José Américo de Almeida visitaram o local da Estância Termal, fazendo o lançamento da pedra fundamental da cidade termal. Isso ocorreu, provavelmente, no dia l4 setembro de l933, quando da visita que o presidente fizera a Pilões, a fim de inaugurar o açude público daquela localidade.

A obra de construção do balneário da Estância Termal de Brejo das Freiras foi concluída no espaço de seis meses, dando-se a sua inauguração no dia  27 de maio 1944, num sábado, às 16h, tendo sido animada pela orquestra “Jazz Tabajara”. O ato inaugural, que foi presidido pelo Interventor Ruy Carneiro, contou com a presença de autoridades de todo o país, inclusive do prefeito de São João do Rio do Peixe, o Sr. Gerôncio Nóbrega. No entanto, a situação econômica do Estado não permitiu que o primeiro plano fosse executado integralmente.

Eis a descrição da análise completa da composição das águas das fontes de Brejo das Freiras, feita pelo Laboratório Bromatológico do Rio de Janeiro:

ELEMENTOS

  • Oxigênio Dissolvido …………………………………..0.62ml
  • Ácido carbônico total ………………………….0.1837 g/litro
  • Ácido Carbônico Combinado ………………………0.0751 g/litro
  • Ácido carbônico meio combinado ………………….0,1019 g/litro
  • Ácido Carbônico Livre ………………………….0.0096 g/litro
  • Ácido sulfúrico em SO4 ……………………….0,05424 g/litro
  • Ácido clorídrico em CL …………………………0,1200 g/litro
  • Resíduo a + 100-110ºC . . . . . . . . . . . . . . . . . 0,5835  g/litro
  • Resíduo ao Vermelho sombrio …………………….0,5150 g/litro
  • Perda do vermelho sombrio …………………….. 0,0685 g/litro
  • Ferro e alumínio em Fe203+Al203 ……………….. 0,0040 g/litro
  • Cálcio em CaO ……………………………….. 0,0210 g/litro
  • Magnésio em MgC ……………………………….0,0008 g/litro
  • Potássio em K20 ……………………………… 0,0379 g/litro
  • Ácido silícico m STC2 ………………………….0,0527 g/litro
  • Sódio em Na20 ……………………………….. 0,2910 g/litro
  • Grau hidrométrico total (francês)………………………… 1,5
  • Grau permanente hidrométrico (francês) …………………….1,5
  • Grau hidrométrico transitório (francês) ……………………1,0
  • Matéria orgânica …(Kubel Tiennan)…………….. 0,0008 g/litro
  • Matéria orgânica (Selutz Trensorff) ……………..0,0008 g/litro
  • Armênia livre  ……………………………………..Vestígio
  • Armênia, Albuminoide, Nitritos, Lítio ……………….. Ausência
  • Bário e arsênio (Processo de Outz) ………………….  Ausência

“Nota – Embora se trate de uma água pouco mineralizada, pela predominância dos ácidos clorídrico, carbônico e do sódio, é considerada como Cloro-Bicarbonato de sódio. Estima-se que 98,78% dos gases emitidos são o Nitrogênio e os gases raros. Sua vasão em 24h é de 160 metros cúbicos.” (ver “AS FONTES DE BREJO DAS FREIRAS”, editado em 1922, pela Editora Nova Era.           

Antes da construção do atual hotel e balneários, o que havia no local, era apenas um tanque rudimentar, escavado no chão, com três metros cúbicos de volume, amparado por uma paliçada de madeira, com coberta de telha. Nesse tanque, sem higiene e sem conforto, banhavam-se as pessoas que recorriam aos efeitos miraculosos dessas águas.

Até o início dos anos 30 do século XX, no local onde hoje se ergue o hotel de Brejo das Freiras, assentava-se a sede de uma fazenda de criar gado, pertencente às freiras do Convento da Glória, de Recife, Pernambuco, que as obtiveram por doação dos padres Francisco de Araújo Carvalho Gondim (falecido em l792) e Manuel de Araújo Carvalho Gondim (falecido em l795), filhos do Cel. Manuel de Araújo Carvalho Gondim e Ana da Fonseca Gondim, residentes em Pernambuco, arrendatários de terras nos sítios Brejo e Olho D’água, encravados no atual município de São João do Rio do Peixe.

Segundo se sabe, quem primeiro deu notícia da existência dessas fontes termais foi Manuel Garro, isso no ano de 1719, quando, após um sangrento ataque indígena, desfechado contra o velho Arraial de Piranhas (hoje Pombal), ele organizou uma poderosa coluna e marchou contra os índios rebelados, afugentando-os para cima das serras. Chegando ao pé do serrote, descobriu as fontes termais. Eis o que diz, a esse respeito, Antônio José de Sousa em seu livro “Apanhados Históricos, Geográficos e Genealógicos do GRANDE POMBAL”:

“Passada a refrega, todos os habitantes de Piranhas se reuniram no local destinado à construção de uma igreja e, solenemente, declararam que a povoação, dali por diante, se chamaria Bom Sucesso.

Teodósio voltou a Piranhas. Manuel, depois de várias providências relativas à segurança de Bom Sucesso, organizou uma poderosa coluna e marchou contra os índios inimigos.

Subiu pelo Piranhas, entrou num tributário dêste, que os naturais chamavam Pirahy, sem encontrar resistência. Nesta incursão, chegaram a um lugar onde havia um tremendal. Procuraram a fonte e ao pé de um serrote de muita pedra e pouca vegetação, foram encontrar abundante corrente d’água, que parecia sair fervendo do seio da terra, o que fêz Manoel perguntar a si mesmo onde ficaria a fogueira colossal que esquentava aquela água. Era, sem dúvida, o BREJO DAS FREIRAS.”             

Primeiramente, a localidade foi conhecida por Olho D’água dos Araújo, em virtude de ter pertencido ao Cel. Manuel de Araújo Carvalho, que a obteve por arrendamento junto à Casa da Torre, da Bahia, no início do século XVIII. Tempos depois, Ana Fonseca Gondim, viúva que ficara do Cel. Manuel de Araújo Carvalho Gondim, requereu e obteve, por sesmaria, as terras por ele arrendadas: Brejo e Olho D’água, cuja concessão – datada de 20/03/1739, teve o número 262, passando-a, por sucessão de herança, aos dois filhos, os padres Francisco e Manuel.  A localidade recebeu a denominação atual quando passou, então, ao domínio das freiras.

Os padres franciscanos deixaram a então Capitania da Paraíba quando foram expulsos em virtude do Alvará Régio, datado de 03/09/1759, expedido pelo Marquês de Pombal, então Ministro de Negócios Estrangeiros no Governo de Dom José I, rei de Portugal de 1750 a 1777.

No ano de 1944, quando estavam sendo realizadas as escavações nas  proximidades das fontes de Brejo das Freiras, para a construção do hotel e o balneário, foi encontrada a ossada de um dinossauro, que se achava a mais ou menos dois metros de profundidade, exatamente no local onde hoje fica a piscina. Esse achado permaneceu, por vários dias, exposto à visitação pública. Depois disso, foi encaixotado e levado para lugar ignorado. Hoje se sabe que esse fóssil encontra-se no Museu Nacional do Rio de Janeiro, fazendo parte do acervo daquela instituição, e não pode retornar ao lugar de origem. Francisco Nogueira Pinheiro, mais conhecido por Chico Pequeno –  de quem estes dados foram colhidos – foi testemunha ocular desse achado. Na época, ele residia no lugar, ou seja, Brejo das Freiras, onde  faleceu a 02.11.2007, aos 89 anos de idade.  

Respondendo a uma pergunta que lhe fizera no dia 01/03/1999, a respeito desse achado fóssil, Francisco Nogueira disse, entre outras coisas,  o seguinte:

“(…) Vi quando começaram a arrancar do primeiro osso até o derradeiro; ossos dum dinossauro… Assisti arrancar toda a ossada! Vi!… Vi!… Peguei nos ossos! A dentadura dele era uma coisa muito impressionante. Era uma o… os dentes assim aboleados, bem roxinhos, como ovo de codorniz; aqueles dentes ligados no mesmo osso do queixo. Tá vendo? Vi uma costela, uma costela mais ou menos assim com… de seis a sete palmos de altura… de comprimento. A costela era uma coisa impressionante.  Os ossos do corredor pareciam uma coisa viva, que tinham sido tirados naquele instante. Ninguém sabe nem quantos mil anos fazia que estavam enterrados aqueles ossos. Mas o osso do corredor, a cabeça do corredor… direitinho, limpinho… e não tinha nada estragado. Isso que estou contando foi o que eu vi! E esses ossos foram tudo… passaram muitos dias lá encima de uma mesa; de lá foram encaixotados e levados para o Rio de Janeiro, pros laboratórios de lá. Pronto! Era  isso o que eu tinha a dizer.”    

A Estância Termal de Brejo das Freiras pertence ao Estado da Paraíba e poderá ter o mesmo destino do Hotel Bruxaxá, localizado na cidade de Areia,  pois o governo  promete privatizar toda a sua rede hoteleira, sob a alegação de que não cabe ao estado oferecer serviços que são da competência da inciativa privada.

………………………………………..

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE AS FONTES TERMAIS DE BREJO DAS FREIRAS, TRANSCRITAS DO LIVRO “AS FONTES TERMAIS DO BREJO DAS FREIRAS”, EDITADO EM 1922, PELA EDITORA NOVA ERA.

“Água clara, límpida, sem cheiro, resistente à putrefação, contendo pequena quantidade de depósito constituído por detritos vegetais, reação ao tornassol e à fenol-fitaleina e ligeiramente alcalina.”

As águas termos-minerais de Brejo das Freiras são de prodigioso efeito no tratamento de várias afecções, como se tem verificado.

Antes mesmo que os exames físico-químicos revelassem, como agora, as preciosas propriedades terapêuticas, já tínhamos conhecimento de muitas delas, e maravilhados ficamos quando pela primeira vez visitamos as Fontes, no ano de 1909.

Como preliminar diremos sob o ponto de vista terapêutico que os diversos tratamentos por essas águas, que podem ser usadas internamente, em banhos de duchas, pulverizações, inalações, etc, somente produzirão efeito in loco, nas próprias fontes, isto devido indubitável à radioatividade, que escapa mui preste, e à termalidade.

Concernente à radioatividade não precisamos lhe encarecer os efeitos sumamente benéficos; conhecemos a poderosa ação que sobre o organismo exerce o rádio por intermédio de sua emanação; fenômenos biológicos são energicamente influenciados pelas radiações das matérias radioativas e, como prova evidente haja vista o resultado admirável obtido no tratamento de afecções temerosas, julgadas incuráveis, e para as quais a medicina até bem pouco tempo não dispunha de medicação alguma.

Também não padecem dúvida os surpreendentes resultados adquiridos com a aplicação das águas radioativas, que agem sempre de modo benfazejo sobre as vidas dos nossos tecidos.

As águas de Brejo das Freiras saponificam as gorduras, limpando completamente a pele quando aplicadas em banhos. Internamente são conhecidas as suas propriedades terapêuticas na dispepsia e, principalmente, na síndroma de Reichnann, pela virtude inexcedível de neutralizarem o excesso de ácido clorídrico em vista da reação alcalina pelo bicarbonato de sódio que contêm, aumentando o suco gástrico, auxiliando as digestões; nas gastralgias produzem considerável ação sedativa; atuam mais sobre o sangue, aumentando-lhe em pequena quantidade a dosagem de bicarbonato de sódio, de modo que contribuem prodigiosamente para a sua fácil oxigenação, ou melhor, hematose ao nível dos alvéolos pulmonares; é manifesta ainda a ação dessas águas sobre o estado da bílis porque embaraçam a produção exagerada de colesterina, resultando assim sério obstáculo à formação de cálculos biliares.

Em suma, elas favorecem a absorção e a assimilação e podem ser ingeridas largamente e por tempo, sem os inconvenientes de Cachesis que nos fala Transcau.

Não dispomos de autorização bastante para precisar a ação diurética, e cremos até que essa não se faça sentir tão pronunciada como acontece como uso das alcalinas frias, mas quer nos parecer que não sejam indiferentes quanto à diminuição de acidez na urina e à dissolução de ácidos e dos uratos.

Uma outra qualidade terapêutica e das mais importantes, consiste na extraordinária ação sedativa e analgésica das nossas águas termais, de onde a sua aplicação com reais vantagens em quase todas as afecções e em algumas infecções dolorosas; devemo-la indubitavelmente à radioatividade, à termalidade e ainda à provisão acentuada do azoto e gases raros.

Não se resumem, entretanto, nas indicações feitas, as propriedades medicinais das águas do Brejo; inúmeras observações têm provado o seu alto valor no tratamento das moléstias da pele, operando maravilhosas curas.

Neste particular, as atribuímos à ação benfazeja do cloreto de sódio ionizado e em alta temperatura, vantajosamente auxiliado pelas emanações radioativas.

O professor Gubier opina que as águas cloretadas sódicas fracas, tais como as de Brejo das Freiras, apropriadas para uso interno, introduzem no organismo elementos necessários à manutenção dos tecidos, e as denomina verdadeiras linfas minerais pelo fato de exercerem grande influência nos tratamentos de linfáticos e escrofulosos, doentes em que a nutrição se acha bastante comprometida.

Em síntese, podemos afirmar Que as nossas águas termo minerais devem ser prescritas na cura de dispepsia, litíase biliar. Reumatismo, artrites, escrófula, linfatismo, clorose,  anemia. de todas as dermatoses, cha1!as atônicas. fraturas dolorosas e de lenta consolidação. luxações etc.

OBSERVAÇÃO: SÃO ABSOLUTAMENTE CONTRA INDICADAS NA TUBERCULOSE PULMONAR.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Publicações relacionadas
Total
0
Share