O engenheiro e sanitarista Sérgio Rolim

SÉRGIO ROLIM MENDONÇA

* João Pessoa (PB), 1944

Sérgio Rolim Mendonça nasceu em João Pessoa, em 1944. Trabalhou na maioria dos países das Américas como funcionário da Opas/OMS, exercendo consultoria nas áreas ambiental e de sistemas de águas residuais.

Publicou onze livros na área de tecnologia de água e esgotos, destacando-se Sistemas de Lagunas de Estabilización, McGraw-Hill, com cerca de oito mil exemplares vendidos na Espanha e América Latina, e um livro de memórias. Membro fundador e ex-presidente da Academia Paraibana de Engenharia e professor emérito da UFPB.

Aos 26 anos, já graduado, Sérgio teve de trabalhar durante cinco anos na área comercial da empresa Saneamento da Capital (Sanecap). A frustração por não estar atuando na área prática fez com que o engenheiro entrasse para a história do saneamento no Brasil quando, para driblar a saudade de atuar “in loco”, publicou o livro “Manual do reparador de medidor da água”. A publicação, que é referência sobre o tema, norteou a carreira de muitos profissionais, os quais oficializaram esse feito em cartas de agradecimento para o autor pioneiro na literatura nacional sobre o tema. “O livro é voltado para prática em uma época em que as publicações eram todas em inglês” esclarece. Ele ainda tem em seu currículo mais de 70 trabalhos publicados na área de Engenharia Sanitária e Ambiental.

Nos idos de 72, a Sanecap foi incorporada pela Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e assim Sérgio conciliava os turnos para ser funcionário público e professor.  Desde então, Sérgio passou por 14 países e por 21 estados do Brasil, o que contabiliza mais de 2400 horas de aula em cursos de extensão. Esse reconhecimento foi oficializado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), que concedeu diploma reconhecendo o relevante trabalho desse sergipano para o saneamento ambiental no Brasil. 

O desencanto com o mundo acadêmico surgiu após ser convidado para fazer mestrado na Universidade de Windsor, no Canadá, e houve a recusa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), pois Sérgio, então com 49 anos, fora considerado velho para a empreitada acadêmica. Foi então que o engenheiro e professor, desapontado com a limitação acadêmica, resolveu se aposentar e se dedicar ao sonho de trabalhar na Organização Pan-americana de Saúde (Opas). A concretização da meta se materializou após dez anos de muitas tentativas até ser aprovado no concurso para a instituição. Na década em que atuou na organização, registra em seu passaporte passagem pela Colômbia, Peru e México, como assessor na área de esgoto da América Latina e do Caribe.

Com seu perfil dinâmico, Rolim fundou, e atualmente preside, a Academia Paraibana de Engenharia (Apenge), e atua como consultor na área de Engenharia Sanitária e Ambiental. Recentemente, junto com sua filha Luciana Coelho Mendonça, que seguiu seus passos na carreira de engenheira sanitarista, publicou o livro “Sistemas Sustentáveis de Esgotos”, contribuindo mais uma vez para a bibliografia sobre saneamento tanto no Brasil quanto no exterior.

Em sua trajetória de reconhecimento e premiações, Sérgio Rolim Mendonça agora recebe mais uma homenagem, desta vez do Sistema Confea/Crea, por sua relevante contribuição ao país e à área tecnológica, em especial com o foco no saneamento ambiental no Brasil.

COM INFORMAÇÕES DO CONFEA

Depoimento de Sérgio Rolim sobre suas raízes cajazeirenses

Meu bisavô Joaquim Gonçalves Rolim era filho do Comandante Vital (Vital de Sousa Rolim II) e bisneto de Antônia Tereza de Jesus, irmã do Padre Rolim, que por sua vez eram filhos do fundador de Cajazeiras na Paraíba, Vital de Sousa Rolim I. Era bacharel em direito, formado pela faculdade de Direito de Recife, turma de 1889, nascido em 18 de abril de 1864. Joaquim Gonçalves Rolim teve uma vida pública de apenas dez anos durante os quais foi Intendente Municipal nomeado em 31 de janeiro de 1890, deputado estadual figurando na primeira turma do Estado, juiz de direito nomeado em 18 de fevereiro de 1897 e confirmado no cargo de Juiz de Direito da Comarca de Cajazeiras em 12 de julho de 1897, sua terra natal. No período de 1893 a 1897 também exerceu o cargo de membro do Conselho Municipal de Cajazeiras. Faleceu prematuramente de febre tifoide em 1899 com apenas 35 anos de idade.

Teve apenas um filho Romualdo de Medeiros Rolim, meu avô. Minha bisavó a pianista Eulina de Medeiros Rolim (D. Neném), viúva de Joaquim e mãe de Romualdo, casou seis anos depois no dia 29 de julho de 1905 com João Rodrigues Coriolano de Medeiros, que foi fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGPB) em 1905 e da Academia Paraibana de Letras (APL) em 1941, entre outros, e que veio a ser meu bisavô torto.

Romualdo ocupou vários mandatos como Diretor do Tesouro da Paraíba e em junho de 1932, o interventor Gratuliano de Brito o designou para exercer a Secretaria da Fazenda, Agricultura e Obras Públicas. Foi também deputado classista representando o funcionalismo na Assembleia Legislativa do Estado, em 1934 e novamente Secretário da Fazenda da Paraíba.

Sabia fazer amigos como ninguém. Em 1932, durante a intervenção do Estado por Gratuliano de Brito, o tenente do exército Ernesto Geisel foi nomeado Secretário da Fazenda com apenas 32 anos de idade. E quem era o Diretor do Tesouro (cargo que hoje corresponde a secretário executivo)? Romualdo Rolim. Fizeram muita amizade. O casal Geisel e Lucy não possuía filhos e já havia se casado há bom tempo. Quando foram para Brasília pediram permissão para levar o meu tio Moacyr com eles. Queriam criá-lo como a um filho. Meus avós não o permitiram, claro.

Quando Geisel esteve pela primeira vez em João Pessoa, já como Presidente da República, meu avô ficou muito animado a revê-lo. Contudo, antes da sua chegada, vários jornalistas foram até a sua casa para entrevistá-lo sobre o amigo. Num desses contatos, mostrou a um deles correspondência íntima recebida de Geisel, que guardava com carinho. Nela, num dos trechos, dizia estar muito decepcionado com o Exército. Um dos jornalistas surrupiou a carta e logrou publicá-la, como furo de reportagem, na revista “Manchete”, que tinha grande circulação no País.

Durante a breve estada de Geisel em nossa Capital, o meu sogro, Severino de Almeida Coêlho, conseguiu furar o bloqueio da segurança, no Hotel Tambaú. Romualdo, minha esposa Maria Lúcia Coêlho Mendonça, meu filho Fábio e meu sogro chegaram a conversar com ele. Geisel era muito alto e o meu avô, baixinho. Ao vê-lo, deu-lhe um abraço forte, levantando-o do chão. Conversaram por algum tempo, rindo muito e lembrando os velhos tempos de convivência na Secretaria das Finanças e no convívio da casa de meus avós, na Praia do Poço.

Meu avô quando saiu de Cajazeiras para morar em João Pessoa, ainda iria completar 10 anos no dia 25 de outubro do mesmo ano em que minha bisavó se casou pela segunda vez. Portanto, é por isso que é pouco conhecido nessa cidade.

Meu tio Moacyr Tavares Rolim, filho de Romualdo Rolim, retornou às origens, Cajazeiras, no período de 1958 a 1962 como responsável pela Comissão de Saneamento durante a construção das obras de abastecimento d’água das cidades de Souza, Cajazeiras e Monteiro. Durante o Governo João Agripino, a partir de maio de 1968, foi posto à disposição do Governo do Rio Grande do Norte, como preposto do Escritório Saturnino de Brito, tendo, em abril de 1969, assumido a Direção do Departamento de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (DAE). E, em 2 de setembro de 1969, tornou-se o primeiro Diretor Presidente da Companhia de Água e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), havendo permanecido nesse cargo até 16 de março de 1971. Sua gestão foi marcada por uma política de estruturação administrativa da Companhia que, no plano interno, optou pelo treinamento de seu corpo de funcionários e, no plano externo, promoveu a ampliação da oferta de água para o abastecimento da cidade de Natal e estudos hidrogeológicos da Capital e de Mossoró, além da elaboração dos estatutos e regulamentos da CAERN.     

Por esses motivos, sou muito ligado à Cajazeiras, graças às histórias que meu avô Romualdo contava, além de possuir sobrenome Rolim. Posso, por conseguinte, ser considerado um “cajazeirado”. Meus pais se casaram em 1941. Dois anos depois minha mãe se enfermou e meus avós pediram para que meus futuros pais passassem um tempo na casa deles. Esse tempo foi se alongando e fiquei morando também com eles durante cerca de 14 anos, minha irmã e eu. Por isso, fiquei muito ligado a meus avós maternos devido a esse longo período de convivência.

  

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