Bosco Amaro: professor, radialista e advogado

JOÃO BOSCO AMARO DA SILVA

* São José da Lagoa Tapada (PB), 1954

O professor, radialista e advogado João Bosco Amaro da Silva é natural de São José da Lagoa Tapada e, em 1958, veio com família para Cajazeiras, pois, segundo ele, não havia mais água no sítio onde moravam e era um período de seca muito intensa. “Eu nasci no sítio Riacho do Bode, município de São José da Lagoa Tapada. Aos quatro anos de idade eu vim morar em Cajazeiras”.

Na Terra do Padre Rolim, ele e sua família residiam no sítio Caieiras, na porção oeste do município e, para estudar, vinha caminhando até a cidade, todas as noites. “Quando surgiu o Colégio Estadual de Cajazeiras, primeiro como anexo no Colégio Dom Moisés Coelho, eu ainda morava no sítio. Eu com meus 13 anos, uma vontade de aprender e também por seu Zé Amaro que botou a gente para estudar, com vontade de ver os filhos aprender, então eu vinha a pé à noite”, contou o radialista.

Relembrando à época em que viveu com a família na zona rural de Cajazeiras, Bosco detalhou a história de quando migrou para zona urbana.

“Quando a gente saiu da Caeira, a gente veio com o intuito de estudar e Pai forçou ir morar na cidade. Bosco Barreto, ele tinha terminado Direito lá em Recife e foi ser advogado do Sindicato, então, ele disse ‘seu Zé Amaro o senhor tem direito a entrar com uma ação contra Antônio Moreira’, que era primo legítimo dele, dono da Caeira, e pai disse para ele ‘Dr. Bosco, eu não vou colocar Dr. Moreira no sindicato. Eu devo um favor muito grande a Dr. Moreira, porque ele me deu terra para trabalhar e dar de comer aos meus filhos’. A gente não tinha terra para trabalhar, a terra era dos outros”, falou.

Vivendo muito tempo na zona rural, Bosco disse que sua primeira profissão foi na agricultura. “Minha primeira profissão foi agricultor, me orgulho disso e adoro sítio, adoro trabalhar na terra. É bom demais, é uma terapia ocupacional você não tem estresse, estar ao ar livre, trabalhando alí, não tem ninguém perturbando, é bom demais trabalhar na roça”.

Durante sua trajetória escolar, Bosco concluiu o curso de Ciências Sociais, História e se formou em Direito, em Sousa. Ele lembra que optou pelo curso, pois, na época, era vereador e queria saber mais sobre as leis.

“Quando eu terminei o curso de História houve um concurso para o Estado, eu estudei, passei em segundo lugar. Já era professor do Estado, mas eu tinha vontade de fazer Direito, não que eu tivesse aquela vocação toda, mas eu era vereador na época e tinha aquela curiosidade de querer aprender as leis, então fui fazer Direito, mas pensando nisso”, disse Bosco Amaro ao Diário do Sertão.

Política

Bosco Amaro foi eleito vereador pela primeira vez em 1976. Ficou doze anos na Câmara Municipal de Cajazeiras e mais quatro como assessor. Ele relembrou quando ia com os amigos varrer a rua para o comício de Bosco Barreto, político ao qual apoiava, na época.

“Eu era presidente dos estudantes do Colégio Estadual de Cajazeiras, eu chamada a turma: vamos varrer a rua para a noite a gente estar lá. Ele [Bosco Barreto] dizia ‘já que a prefeitura não varre a rua, a gente vai varrer’ e a noite fazia o comício”, contou Bosco.

O radialista falou que a política sempre fez parte de sua caminhada. Quando jovem era líder estudantil e seguiu por esse caminho por muito tempo. “Sempre fiz política estudantil no Estadual. Fui um líder estudantil, saí de lá, fui eleito no diretório acadêmico da Fafic [que hoje é a Faculdade Católica], elegi meu sucessor, depois parti para a política mesmo, que era um sonho de todo estudante da época”.

Como vereador, Bosco enfatizou projetos apresentados para a implantação de um teleférico no Cristo Rei de Cajazeiras, ideia que teve após uma excursão para o Rio de Janeiro, e, também, a criação de um zoológico no ‘balde’ do Açude Grande. “Foi aprovado o projeto; infelizmente, existia verba na época para executar, mas os deputados da época botaram o projeto debaixo do braço e até hoje nunca saiu”, afirmou o professor.

Bosco Amaro relembra vários momentos. Em um deles, o radialista recorda do ex-governador e falecido Ronaldo Cunha Lima que, segundo ele, eram muito próximos. “Eu sempre fui do PMDB e ele também. Eu era um admirador de Ronaldo Cunha Lima. Ele tinha uma inteligência fantástica, carismático”, falou o advogado.

Rádio

O radialista Bosco Amaro, começou sua vida no rádio quando foi chamado para substituir o irmão, Chagas Amaro, que, na época, tinha ido embora para Fortaleza cursar Medicina. “Eu fui para lá ganhar meu dinheiro, não pensei; fui ser contínuo, cheguei lá e o padre disse: ‘João guarde essas pontinhas de cigarro’, eu digo ‘oh emprego bom’ para que vem da enxada, limpando mato, roçando, brocando”,  relembrou Bosco.

Passou, então, seis meses como contínuo até surgir uma vaga na recepção e depois na redação. “A minha vida no rádio começou por aí, não que eu tivesse; nasci com aquela vontade; foi por acaso que eu fui radialista, aí me apaixonei e também fui estudando”.

Bosco destacou que um dos momentos mais marcantes na sua vida como radialista foi em 1981, quando teve que cobrir a morte do colega de trabalho, “coisa mais triste do mundo”.

“Nós tiramos essa foto lá na Rádio Alto Piranhas e, por incrível que pareça, ironia do destino, Expedito Sobrinho morreu em um acidente, na BR-230, um dia de sexta-feira, ele jogou o carro numa carreta grande e morreu e eu fui escalado para fazer a reportagem”, relembrou.

Bosco também contou que foi magoado por pessoas com quem trabalhou, durante sua jornada como jornalista, mas que já curou com um ‘pão de Saóra’.

“Me maltrataram muito em rádio. Eu tinha um colega que dizia assim ‘a inveja é um fato natural’. Eles tinham inveja da vida que eu levava, não por ser radialista, porque eu me preparei para o futuro e sempre fui um cara que só disse a verdade”.

Vida e família 

Em sua vida, sendo um homem negro, Bosco amaro afirma que sempre ‘tirou de letra’ o preconceito e que foi algo que não o atingiu de forma tão dura.

“Eu tirava de letra, até porque o preconceito existe pela posição social. Eu já tinha uma certa posição. Vê Pelé, se fosse candidato a prefeito de Cajazeiras todo mundo votava, não é por que é negro, mas a posição social. Se você é negro, mas você tem um destaque na sociedade, você tem dinheiro, você é uma pessoa importante, o pessoal esquece o preconceito. Preconceito é contra a posição, o preconceito existe quando você é uma pessoa pobre”, disse o professor.

O radialista foi casado e teve três filhos. Ele pontua que não foi um casamento bem sucedido e que assumiu o papel de pai e mãe após a separação. “Eu me divorciei, dividi tudo, fiquei com os filhos todos, fiz questão de mostrar que eu era uma pessoa com capacidade; fiquei com os três filhos. Fui pai e mãe”, assegurou.

Sobre arrependimentos o radialista disse não ter nenhum, mas quando criança sonhava em ser policial. Ele revelou ser um leitor assíduo da bíblia e destacou alguns versículos.

“Eu já li a bíblia três vezes, eu tenho curso de Teologia. Da parte da bíblia que eu acho melhor é Jeremias 17-5 ‘maldito seja o homem que confia no outro homem’, Jeremias 17-5 está lá. Tem aquelas passagens interessantes da bíblia”, ressaltou.

Ele afirma, ainda, que é devoto de vários santos da igreja católica. “Eu sou adepto de São João Bosco, Nossa Senhora Aparecida, tenho feito promessas e alcançado graças. Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Frei Damião – que já é santo – e São João Bosco, meu protetor”.

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