Há 20 anos, o Atlético de Cajazeiras erguia pela primeira e única vez a taça de Campeão Paraibano

O ano de 2022 marca o aniversário de duas décadas de um momento histórico para o torcedor do Atlético de Cajazeiras. Vinte anos atrás, os atleticanos, provavelmente, até comemoraram o pentacampeonato mundial da seleção brasileira, conquistado no Japão. Mas o que a torcida do Trovão Azul não esquece mesmo é que, naquele já longínquo 2002, o objeto da sua paixão futebolística ergueu pela primeira e única vez — até o momento — a taça de campeão paraibano. Isso em um campeonato com regulamento confuso e repleto de polêmicas.

Foi no dia 28 de julho de 2002 que o Atlético de Cajazeiras conquistou um inédito título estadual sem sequer precisar entrar em campo para o jogo decisivo. A vitória por WO sobre o Campinense garantiu a histórica taça ao Trovão Azul. A conquista, no entanto, é até hoje contestada pelo Botafogo-PB, uma vez que, de acordo com o Belo, o goleiro Alonso, da equipe atleticana, havia jogado o campeonato inteiro sem contrato, logo, de forma irregular, o que abriu precedentes para a disputa ir parar na Justiça.

O Atlético daquele ano vinha de um péssimo momento interno, pautado por crises financeiras e administrativas que culminaram na renúncia do então presidente do clube, o padre Francivaldo do Nascimento Albuquerque. De acordo com relato do professor e historiador cajazeirense, Reudesman Lopes, o Trovão Azul à época era um clube praticamente abandonado, que não tinha sequer uma diretoria para guiar os rumos da agremiação. Quem assumiria as rédeas da diretoria executiva atleticana? O treinador da equipe, Tassiano Gadelha.

“Naquele momento, o Atlético-PB era um time quase abandonado. Não existia uma diretoria realmente dita. Por isso, o clube foi abraçado por um grupo de apaixonados e abnegados atleticanos. Eu tomei a iniciativa de ir até essas pessoas para, sem alarde, ajudar no processo. Os grandes arquitetos foram Tassiano Gadelha e Eduardo Silvestre. Além deles dois, eu destaco Wellington, que era capitão do time. Ele nos ajudava demais. Recordo que ele era quem recebia o material que eu ia conseguindo e ele guardava embaixo da cama”, afirmou Reudesman.

O confuso regulamento do Paraibano de 2002

Não é novidade que recorrentemente os regulamentos de disputa do Campeonato Paraibano são alvo de contestações dos torcedores e desportistas do estado. Aquele estadual, talvez, foi o que teve a formatação mais incomum na centenária história do futebol tabajara. A primeira fase, por exemplo, não contou com dois dos mais tradicionais times do estado: Botafogo-PB e o atual campeão Treze, que disputavam, naquele tempo, a Copa do Nordeste.

Por isso, de janeiro a abril, Belo e Galo não atuaram pelo estadual, que foi disputado na primeira fase por 13 equipes divididas em grupos regionalizados: Auto-Esporte-PB, América de Caaporã, Santa Cruz de Santa Rita e Miramar de Cabedelo, no Grupo A; Guarabira, Campinense, Vila Branca de Solânea, Serrano-PB e Perilima, no Grupo B, e Atlético de Cajazeiras, Sousa, Esporte de Patos e Nacional de Patos no Grupo C.

Do Grupo A, passaram de fase três equipes. O mesmo ocorreu no Grupo B. Já no Grupo C, que alocava as equipes representantes do Sertão, apenas dois seguiram para o mata-mata que classificaria quatro times para o primeiro hexagonal da competição, onde se encontrariam com Botafogo-PB e Treze. Ao fim da primeira fase, passaram para o mata-mata América de Caaporã, Santa Cruz de Santa Rita, Auto Esporte-PB, Campinense, Serrano-PB, Vila Branca, Sousa e Atlético de Cajazeiras.

A disputa de uma das vagas no hexagonal final foi entre Atlético de Cajazeiras e Auto Esporte-PB. No jogo de ida, em João Pessoa, no Estádio Almeidão, os sertanejos arrancaram um empate por 2 a 2 com o Alvirrubro. Na volta, em Cajazeiras, no Perpetão, o Trovão Azul venceu por 2 a 1 e seguiu vivo no sonho do inédito título estadual.

Nas semifinais, o Campinense eliminou o Trovão Azul por WO — uma vez que a equipe cajazeirense se negou a jogar em João Pessoa —, enquanto o Sousa venceu o Serrano-PB. O título dessa fase ficou com a Raposa, que, por sua vez, despachou o Dinossauro na finalíssima. Contudo, para o hexagonal final, isso não significou nenhum tipo de vantagem para a equipe de Campina Grande, uma vez que na nova classificação, tudo começaria do zero.

De 9 de junho a 28 de julho, o hexagonal final foi disputado. Em jogo, o título estadual da Paraíba em 2002. Em meio à histórica caminhada do penta da Seleção no Japão, o torneio foi se desenrolando até a última rodada, onde Atlético de Cajazeiras, Treze e Botafogo-PB chegaram com chances reais de título.

A inesquecível 10ª rodada

No décimo jogo do hexagonal final, o Trovão Azul, com 16 pontos e líder daquela fase, receberia o Campinense, já sem chances de conquistar a taça, em um Perpetão pulsante. Enquanto isso, o Treze encararia, no Estádio Amigão, o Botafogo-PB. Galo e Belo somavam 14 pontos cada e precisavam vencer o Clássico Tradição e ainda torcer para um tropeço do Atlético de Cajazeiras para terem chance de roubar o troféu do time sertanejo. No outro jogo dessa última rodada do hexagonal, Serrano-PB e Sousa duelavam apenas para cumprir tabela.

A Raposa, após uma campanha mediana nesta fase, se pôs em uma situação de franco atirador. Afinal, o time estava em meio a uma fase classificatória da Copa do Nordeste do ano seguinte, seletiva essa que seria disputada em Sergipe, contra o Itabaiana. Além do mais, o time poderia ser protagonista em uma conquista de um rival histórico. Muito por isso, uma grande celeuma tomou conta da comunidade desportista, que indagava se o Rubro-Negro se deslocaria para Cajazeiras às vésperas de uma competição importante. Leonardo Alves, professor, jornalista e atualmente comentarista da Rádio CBN de Campina Grande, viveu de perto todo o burburinho em torno dessa partida decisiva.

“O Campinense tinha um jogo de uma competição regional, uma seletiva para a Copa do Nordeste do ano seguinte. Ou melhor, chamávamos de Nordestão, que era uma divisão inferior. A Raposa não tinha mais chances de ser campeã (no Paraibano). Quem disputava o título naquele momento era Atlético de Cajazeiras, Botafogo-PB e Treze, que chegaram à última rodada com chances reais de título. Os jogos aconteceriam no dia 28 de julho. Lembro que o Campinense alegou que não tinha logística para se deslocar até Sergipe. Só que o time havia contratado jogadores para disputar essa seletiva regional. Em cima da hora, contratou nomes como Val Pilar, por exemplo. Eu penso que, devido à rivalidade da Raposa com Botafogo-PB e Treze, a delegação não viajou (para Cajazeiras), espantando qualquer chance de seus rivais serem campeões (estaduais)”, afirmou.

Na época, Leonardo Alves era editor do extinto jornal Diário da Borboremahistórico períodico de Campina GrandeO jornalista relatou que existia uma dificuldade imensa para fechar a edição daquele jornal do dia 28 de julho. Isso porque já havia um rumor de que o Campinense não iria para Cajazeiras, e o clima de incerteza pairava sobre a invernal Rainha da Borborema naquela data.

“Na época, existia um mistério muito grande sobre se o Campinense iria ou não para o jogo. A diretoria não foi clara, criando um clima pesado. Acho que tinham uns dois ou três jogos emendados pelo regional, além dessa última rodada do Campeonato Paraibano. Foi uma semana tensa! A gente fechava o jornal de domingo na sexta-feira à noite. Poderíamos muito bem publicar uma matéria dizendo que ia ter jogo e, de repente, no sábado, o Campinense avisar que não teria a partida. Esse pronunciamento não houve, deixando todo mundo na expectativa. No fundo, nós sabíamos que não iria ter jogo”, completou.

O eterno dia 28 de julho de 2002

Sem chances de levar o estadual e sem disposição para investir em uma viagem para voltar à Paraíba para eventualmente ajudar um dos rivais, Treze ou Botafogo-PB, a se sagrar mais uma vez campeão estadual, a diretoria rubro-negra alegou dificuldade na logística e simplesmente não foi disputar a última rodada do Paraibano de 2002. Com o WO, o Atlético de Cajazeiras conquistou dentro de campo, mas sem jogar, o seu primeiro título estadual da história, para uma grande festa dos cajazeirenses, que, de acordo com Reudesman Lopes, lotaram o Estádio Perpetão.

“O jogo era aguardado em clima de festa. Na cidade e na região sertaneja, ninguém acreditava que o Campinense poderia vencer o Atlético-PB. A verdade é que o time era bem mais forte, quase imbatível”, afirmou.

“Para se entender melhor essa expectativa, o Perpetão teve que fechar as portas por volta das 15h por ordem da Polícia Militar, porque não cabia mais ninguém. Foram mais de cinco mil pessoas, todas apertadas, em pé, nas cadeiras ou nas arquibancadas”, relembrou.

REUDESMAN LOPES

Os minutos foram passando, a ansiedade aumentando, e o Campinense não chegava ao Estádio Perpetão, que fica próximo da rodoviária de Cajazeiras. Passado o prazo estipulado pelo trio de arbitragem daquela partida para a chegada da Raposa, o árbitro central não teve outra atitude a tomar a não ser encerrar o jogo, que garantiu a inédita conquista atleticana.

“Eu recordo que, a cada ônibus que era avistado, as pessoas julgavam ser o ônibus do Campinense. Mas a delegação da equipe jamais chegou. O jogo foi encerrado, e a festa começou em Cajazeiras. Mas afirmo com total certeza que, jogando o futebol que o Atlético-PB estava jogando à época, o Campinense seria derrotado em Cajazeiras e o título ficaria no Sertão de qualquer forma”, completou Reudesman.

COM INFORMAÇÕES DO GLOBO ESPORTE

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